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Guias e Dicas
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Desafios Financeiros e Uso de Cartão de Crédito em Famílias de Baixa Renda, Esquemas de Negociação

Os desafios financeiros enfrentados por famílias de baixa renda em relação ao uso de cartão de crédito. Os entrevistados relatam dívidas em nome de terceiros, problemas familiares, dificuldades em chegar ao final do mês, e a geração de despesas constantes. Além disso, há a questão da manipulação por parte das empresas que fornecem crédito. Baseado em entrevistas realizadas e contém extratos de algumas delas.

O que você vai aprender

  • Como as despesas do lar afetam as famílias de baixa renda?
  • Como as empresas de crédito manipulam consumidores?
  • Quais são as consequências de possuir um nome sujo na praça por dívidas não pagas?
  • Quais são as principais dificuldades enfrentadas por famílias de baixa renda em relação ao uso de cartão de crédito?
  • Quais são as estratégias adotadas por famílias de baixa renda para lidar com dívidas?

Tipologia: Esquemas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

EmiliaCuca
EmiliaCuca 🇧🇷

4.5

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Resultados
Puderam ser identificados alguns problemas comuns entre os
indivíduos das classes mais baixas da população, entrevistados no Rio de
Janeiro em abril/2009.
A partir da análise dos resultados, foi feita uma categorização das
principais temáticas e problemáticas abordadas e exemplificadas através
de trechos extraídos das entrevistas realizadas.
Alguns dos motivos dos empréstimos adquiridos pelos entrevistados
foram os seguintes:
- Dívida por consumismo: falta de controle diante das milhares de
ofertas de produtos, diretas e indiretas, às quais são submetidos
diariamente, tanto embora seus rendimentos mensais não assim
permitam.
- Empréstimo para quitar outra dívida: como forma de evitar que
as instituições tomem medidas mais drásticas por não quitarem os
empréstimos mais antigos. No entanto, acabam se envolvendo em
dívidas permanentes, não conseguindo quitar nem as anteriores e
nem as mais recentes, assumidas em função do pagamento
momentâneo das mais antigas. Forma-se, aí, a “bola de neve”.
- Dívida em nome de terceiros: tal prática é muito comum dentre as
classes menos favorecidas, pelo fato comum de o real tomador da
dívida, muitas vezes, já possuir cadastro negativo e solicitar que
seus conhecidos adquiram o crédito por ele.
- Doenças, problemas familiares estruturais: alguns dos
entrevistados afirmaram estar passando por momentos
desestruturados em suas vidas devido a doenças na família,
falecimentos ou algo do tipo.
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Baixe Desafios Financeiros e Uso de Cartão de Crédito em Famílias de Baixa Renda e outras Esquemas em PDF para Negociação, somente na Docsity!

Resultados

Puderam ser identificados alguns problemas comuns entre os indivíduos das classes mais baixas da população, entrevistados no Rio de Janeiro em abril/2009. A partir da análise dos resultados, foi feita uma categorização das principais temáticas e problemáticas abordadas e exemplificadas através de trechos extraídos das entrevistas realizadas. Alguns dos motivos dos empréstimos adquiridos pelos entrevistados foram os seguintes:

  • Dívida por consumismo : falta de controle diante das milhares de ofertas de produtos, diretas e indiretas, às quais são submetidos diariamente, tanto embora seus rendimentos mensais não assim permitam.
  • Empréstimo para quitar outra dívida : como forma de evitar que as instituições tomem medidas mais drásticas por não quitarem os empréstimos mais antigos. No entanto, acabam se envolvendo em dívidas permanentes, não conseguindo quitar nem as anteriores e nem as mais recentes, assumidas em função do pagamento momentâneo das mais antigas. Forma-se, aí, a “bola de neve”.
  • Dívida em nome de terceiros : tal prática é muito comum dentre as classes menos favorecidas, pelo fato comum de o real tomador da dívida, muitas vezes, já possuir cadastro negativo e solicitar que seus conhecidos adquiram o crédito por ele.
  • Doenças, problemas familiares estruturais : alguns dos entrevistados afirmaram estar passando por momentos desestruturados em suas vidas devido a doenças na família, falecimentos ou algo do tipo.
  • Dificuldade em chegar ao final do mês pagando as despesas do lar : as despesas do lar tornam-se grandes e de peso para as classes baixas, fazendo com que os indivíduos não consigam chegar ao final do mês com contas básicas como luz, telefone, além das despesas com alimentação e outras.

Problemáticas dizem respeito aos problemas vividos pelos entrevistados e identificados quando da análise das entrevistas, enquanto que as temáticas são temas relacionados aos problemas em questão. O esquema representado na Figura 5 ilustra melhor o modo como foram analisadas as entrevistas. A cada problemática correspondem algumas temáticas, semelhantes entre si.

Figura 5 – Temáticas Problemáticas

Temática Temática Temática Temática Temática

Problemática Temática Temática Temática Temática Temática

Problemática

Problemática 1: Negociar dívida:

Uma das principais problemáticas identificadas quando da análise das entrevistas foi a de negociar a dívida. Significa que, em muitas das vezes, a dívida não paga é renegociada ou, pelo menos, os consumidores tentam fazê-lo. Ou seja, quando pegam empréstimos, os cidadãos de baixa renda ficam com a pendência de renegociar dívidas com os credores por, em muitas das vezes, não conseguirem honrá-las. Segundo Andreasen (1993), o consumidor pobre está interessado no valor da prestação e não na taxa de juros. Para ele, o mais importante é que a prestação caiba no seu bolso - o que faz com que, em muitas das vezes, ele pague uma dívida com outra dívida. Desta afirmação vem a razão devido à qual se tenta negociar a dívida uma vez que, em muitos casos, a prestação não cabe no bolso do cidadão pertencente às classes menos abastadas da população. “O grande problema é que o brasileiro não sabe ainda usar o sistema de concessão de crédito, por não comparar taxas e operações. Ele só verifica se a prestação ou multa cabem no salário.” (Ferreira da Silva, 2006)

No caso do crédito consignado, o aumento da inadimplência pode estar ocorrendo em função da falta de conhecimento da lei que rege tal modalidade de crédito. A lei 10.820, de 2003, regulamenta que a soma dos descontos em folha não poderá exceder trinta por cento da remuneração total disponível. Além disso, é assegurado ao empregado devedor o direito de optar por qualquer instituição consignatária de sua livre escolha, ficando o empregador obrigado a proceder aos descontos e repasses por ele contratados e autorizados. As seguintes temáticas correspondentes à problemática em questão, acima, foram observadas na transcrição e análise das entrevistas realizadas: não pagar dívida e atrasar pagamento para obter ressarcimento de danos. Estes temas foram mencionados pelos entrevistados quando provocados a relatarem suas experiências sobre o tema.

Os seguintes depoimentos podem exemplificar as temáticas descritas (os nomes são fictícios).

Daniela: “Minhas dívidas viraram uma bola de neve, eu não sei nem quanto eu devo mais, a última mandaram um acordo de R$1.200,00 que eu estava devendo no cartão, eles botaram para eu pagar R$60,00 e quitava , mas aquele cartão eu não poderia utilizar mais. Tudo bem é R$60,00 de R$1.200,00, eu não quero nem saber se comeram alguma coisa estou pagando e acabou né, é o importante.” (Não pagar dívida)

Otávio: “ Já que eu não vou pagar um, eu não vou pagar nenhum. Aí deixei tudo como está, agora é que estou começando a pagar aos poucos na expectativa do Ponto Frio ou me ressarcir ou zerar minha dívida .” (Atrasar pagamento para obter ressarcimento de danos)

Leandro: “ Eles já ligaram para eu pra poder fazer um acordo, mas como eu estava parado não tinha nem como fazer esse acordo. Agora é que eu vou tentar fazer.” (Não pagar dívida)

Guilherme: “ Eu também tenho um irmão que fez uma dívida com o banco aí não pagou 1 ano, aí quando foi pagar, fazer negociação com eles, tava em sabe quanto? R$4.000,00 já, fez empréstimo de R$1.000,00 .” (Não pagar dívida)

Marta: “ Porque eu estou enrolada até hoje com cartão de compra do Banco Real e eu sei que a conta está grande, já me ligaram varias vezes para fazer um acordo, mas todas as vezes que ligam eu nunca estou com dinheiro .” (Não pagar dívida)

Kátia: “Eu não tenho mais condições de negociar porque com o salário que eu ganho não dá .” (Não pagar dívida)

Kátia: “Dependendo das minhas condições, vamos supor se daqui uns 2 ou 3 meses melhorar, aí eu pretendo pagar .” (Não pagar dívida)

Geração de despesas constantes:

Trata-se das despesas intermináveis e, na maioria das vezes, sem necessidade, criadas pelo desejo compulsivo de consumo de alguns dos entrevistados.

Daniela: “ Eu tenho quatro filhinhos e os cartões foram para quê? Comprar roupinha de neném. Comprei enxoval, comprei jogo de quarto, eu fiz a festa né? Se eu não tivesse os cartões como eu ia ter o que eu tenho hoje? (Posse de muitos cartões) (Geração de despesas constantes)

Marta: “ Eu estou bloqueada em algumas lojas devido aos cartões que eu estou devendo ainda, então eu passo perto da loja e fico igual àquele cachorro (risos) olhando a vitrine e não podendo comprar. O dinheiro não dá, mas mesmo assim eu dou um jeitinho de convidar uma pessoa que tem o cartão: “vai fulano, compra para mim que eu pago”. (Geração de despesas constantes)

Posse de muitos cartões:

A posse de muitos cartões facilita as compras compulsivas, pela facilidade do crédito disponível.

Daniela: “Eu fui compulsiva, sem estar trabalhando eu tive posse de uns 10 cartões de crédito e consegui estourar todos. Como? Ah muito limite, (rindo) a loja favorecendo, olha que delícia, comprei sem parar, não trabalhava como que eu ia pagar? Aí agora vai ter que esperar ter condições e ir pagando aos poucos. Já comecei a pagar mas..” (Posse de muitos cartões)

Compras por impulso:

Há pessoas que sempre dão um jeito de continuarem a viver com dívidas e dinheiro emprestado, nem que a solução seja pegar este dinheiro com amigos ou mesmo no nome de terceiros. A compulsividade torna-se uma doença, sem cura, até pela não procura de tratamento destes indivíduos.

Marta: Eu sou compulsiva , eu compro.” (Compras por impulso)

Marta: “ Eu gosto de comprar, fazer dívida .” (Compras por impulso)

Marta: “ Eu compro bastante, eu gosto muito de comprar .” (Compras por impulso)

Ofertas de crédito irresistíveis:

Segundo Lea et al. (1995), o uso do crédito é caracterizado como uma postergação do pagamento acordada entre aquele que emprestou e o que pegou emprestado. Há aspectos sociais e psicológicos que estão ligados a altos níveis de dívidas, embora se possa pensar, no primeiro momento, que tais aspectos sejam apenas de cunho econômico.

José Carlos: “ Leva mais. Está me dando? Então vamos embora: bota aí, enche a bolsa aí que eu pago depois .” (Ofertas de crédito irresistíveis)

José Carlos: “ Quero R$1.000,00 aí o cara está te oferecendo R$3.000,00, você vai levar R$3.000,00 né? Depois vê como é que fica .” (Ofertas de crédito irresistíveis)

Cristiane: “Eu fui com meu pai fazer um empréstimo para comprar minha casa, eu precisava de R$3.000,00 cheguei lá a mulher olhou no computador o nome do meu pai: “Nossa, você pode levar R$5.000,00”. Aí eu olhei pro meu pai: “É pai, eu vou precisar fazer uma reforma. Pega mais R$1.000,00, pai ..” (Ofertas de crédito irresistíveis)

Preferência pelos cartões devido ao menor controle de limites:

A maioria dos entrevistados disse preferir o cartão aos empréstimos propriamente ditos, pelo limite mais livre que esses oferecem. No entanto, houve entrevistados que disseram não gostar de não controlar os limites, pois já haviam se colocado em situações muito ruins devido a este fato.

Marta: Cartão é melhor do que banco .” (Preferência aos cartões pelo menor controle de limites)

Daniela: “ Casamento, quinze anos, aí não tem saída, tem que ir no cartão .” (Preferência aos cartões pelo menor controle de limites)

Gilson: “Eu acho que esse negócio de cartão é mais compulsão viu. Pelo que eu vejo é compulsão as pessoas compram, porque o cartão é um dinheiro que é de plástico, então a pessoa se sente no poder de comprar e esquece que vai ter que pagar aquilo né, é isso que eu vejo. A pessoa sai comprando e perde a noção depois quando vê aquela fatura que o cara não agüenta.” (Preferência aos cartões pelo menor controle de limites)

Problemática 3: Controle de gastos

A problemática referente ao controle de gastos diz respeito à dificuldade que os indivíduos pertencentes às classes menos favorecidas da população enfrentam para controlar seus gastos mensais. As seguintes temáticas observadas na análise das entrevistas foram excesso de cartões , gasto maior do que o possível , excesso de dívidas , fazer dívidas no cartão. Todas estas temáticas identificadas constituem motivos para a problemática identificada, acima.

Tentativa de controle :

Marta: “Foi isso mesmo, eu comprei lá umas coisas com uma criatura, só que eu não sou besta: eu anotei tudinho. Mas só que depois eu fui pagar. Aí ele me cobrou de novo a mesma conta. Aí eu parei. Não compro mais uma bala nele, nunca mais. Ele queria me roubar duas vezes. Não dá, não tem condições.” (Tentativa de controle)

José Carlos: “Quando chega o final do mês eu vou lá e eu compro e eu sei o que eu peguei né? Aí eu cheguei lá e: “Quanto é?” Ele: “É tanto”. Aí eu pago em dinheiro, não tem esse negócio de cartão não.” (Tentativa de controle)

José Carlos: “Não, ele não vai me roubar porque eu sei o que eu estou comprando .” (Tentativa de controle)

Otávio: “Eu tenho um caderno que eu anoto tudo que estou devendo .” (Tentativa de controle)

Fiado para urgências:

José Carlos: “Eu não vou lá direto não, eu só compro uma necessidade ..” (Fiado para urgências)

José Carlos: “Acabou o pó de café eu vou lá e “pô, me arranja um saquinho de café de 250gr”. Então eu já sei o quanto eu estou apanhando do cara. Eu não vou lá diretamente, só quando falta alguma coisa, um leite, um açúcar , uma parada assim.” (Fiado para urgências)

Marta: “É complicado porque meu dinheiro já é pouco, aí tem que fazer umas compras pra casa. No dia 15 em diante, como aconteceu agora, o gás acabou. Não tem como, você tem que comprar fiado pra poder pagar depois, e assim vai .” (Fiado para urgências)

Cristiane: “Eu tenho dívida na padaria, tenho dívida na tendinha em frente a minha casa, por que? Na padaria meus filhos chegam lá e pegam o pão de manhã. Aí a senhora me fia. E na tendinha vende as outras coisas: leite... Aí falta uma coisa dentro de casa, uma sardinha.. Então eu deixo o crédito lá aberto, e depois eles vão e me cobram.” (Fiado para urgências)

Cristiane: Compro, do lado da minha casa, no sacolão e no armarinho, porque eu pego desodorante, shampoo, essas coisas pessoais nesse armarinho. E já pra comer eu pego no sacolão que é do lado , lá tem de tudo: além das frutas tem feijão, macarrão e tudo ..” (Fiado para urgências)

Pagar preço mais alto: Segundo Rao (2000), que os pobres pagam preços mais altos do que os ricos pelos mesmos bens. Isto ocorre devido ao fato de os pobres adquirem bens em menores quantidades, mais vezes, devido ao fator liquidez. Do mesmo modo, as exceções aos ricos, mencionados, acima, segundo Rao (2000), são famílias mais ricas, porém pequenas, tendem a pagar preços mais altos por adquirirem bens igualmente em menores quantidades. A população de baixa renda, de um modo geral, encontra-se em desvantagem no mercado. Como resultado deste fato, acabam por constantemente pagar preços mais elevados para obter bens e serviços. (Lee J., 2002) Os pobres pagam mais caro pelos produtos e serviços, salvo raras exceçoões, segundo estudo de Goodman (1968). Muitas vezes, o fato de comprar fiado e pagar com atraso favorece a cobrança de preços abusivos pelos vendedores de produtos fiados.

Cristiane: “O meu caso foi porque eu fiz mais cartões. Consegui fazer C&A. Foi legal. Fiz da Renner, várias lojas.. Aí fui assaltada. Em vez de ir na loja cancelar, eu cancelei por telefone e fizeram compras demais. Então ficou muito pesado pra eu poder pagar.” (Ter cartão roubado)

Cristiane: “..só que a C&A não pôde fazer nada por mim. A Renner piorou. Quando vai ver vira uma bola de neve. Aí, pra enganar, eu deixei de lado. Aí eu vou tentar botar em ordem, mas tá difícil porque vai virando bola de neve .” (Dívida cresce de maneira exorbitante)

Daniela: “..você só recebe uma vez no mês, faz uma compra no começo do mês, quando chega na quinzena as compras já estão zerando. Aí tem que usar o cartão de crédito ou tem que usar alguma maneira para fazer as compras novamente. Aí, quando chega pra pagar, você paga aquela e já está devendo de novo .” (Empréstimo para pagar empréstimo)

Problemática 6: Manipulação das empresas que fornecem crédito

Esta problemática significa que, segundo a visão das classes menos favorecidas da população, que pegam e necessitam de empréstimos, as empresas fornecedoras de crédito manipulam os consumidores de tal forma a convencê-los a pegar mais dinheiro emprestado, embutir cobranças sem ciência dos mesmos e aproveitamento do fato de que esta parte da população não tem conhecimento e entendimento do funcionamento dos juros e mecanismos do empréstimo em geral. A figura abaixo ilustra as principais diferenças entre os serviços financeiros de empréstimo formais, semi-formais e informais.

Figura 6 – Categorização dos Serviços Financeiros Encontrados

Fonte: Brusky e Fortuna, 2002

Cobranças não-autorizadas embutidas no cartão: Muitas vezes, estas cobranças se dão devido ao fato de os devedores nada questionarem ou nada recusarem ao adquirir um empréstimo, devido ao desespero pelo dinheiro. Deste modo, as financeiras aproveitam para embutir cobranças além dos já altíssimos juros das prestações dos empréstimos pessoais.

Cristiane: “Juros. Tem uns que cobram juros, multa e muita coisa. A C&A inventa as coisas, você nem concorda e eles já querem botar proteção no seu cartão pra cobrar mais R$12,00. Não tem nada a ver com o cartão da &CA, é negócio de dente, proteção do cartão, segurança não sei de que ..” (Cobranças não- autorizadas embutidas no cartão)

Otávio: “Bem, eu entrei em dívida devido à má fé das empresas .” (Cobranças não-autorizadas embutidas no cartão)

Priorizam empréstimos de amigos aos de bancos: Vale ressaltar que há pessoas que sempre arranjam maneiras de continuarem a viver com dívidas e dinheiro emprestado, nem que a solução seja pedir emprestado esse dinheiro com amigos ou mesmo no nome de terceiros.

Otávio: “.. se você pegar um dinheiro com o amigo agora, esse mês, e se você não tiver condições de pagar, pode chegar na cara dele e falar , “pô cara, aí, esse mês não vai dar para eu te pagar aquele dinheiro que eu peguei emprestado”, então o cara fala “pô, está tranqüilo, mês que vem tu me dás”. E o banco não , se você deveu a nossa “merrequinha” aqui quando bate lá ele apanha, não quer saber se tu vais passar fome ou não, o banco quer o dele de volta .” (Priorizam empréstimos de amigos aos de bancos)

Marta: “Esse negócio de pegar dinheiro emprestado eu não pego não, no banco eu não pego não tenho muito medo .” (Priorizam empréstimos de amigos aos de bancos)

Cristiane: Eu tenho os meus sobrinhos aí eles me emprestam aí eu falo na outra semana eu te pago , aí na outra semana é certo.” (Priorizam empréstimos de amigos aos de bancos)

Sucumbir à oferta de crédito: É possível observar, inclusive em propagandas na televisão, em horário nobre, empresas de crédito renomadas oferecendo brindes e até mesmo jóias a quem aceitar as suas ofertas de crédito e tiver a dívida descontada em folha, no caso de aposentados e pensionistas do INSS, no Brasil. Tal exemplo de comercial pôde ser visto no dia 03/fevereiro/2010, no intervalo do Jornal da maior emissora de televisão do país, no horário do almoço. Trata-se de crédito consignado, onde os pagamentos são descontados diretamente do contra-cheque do contratante, modalidade que muito se expandiu nos últimos tempos no Brasil.

José Carlos: “É que o senhor tem o privilégio de poder andar de carro, se fosse andar na rua são dois, três do seu lado, é de santinho, o senhor quer fazer?” (Sucumbir à oferta de crédito)

José Carlos: “” É na hora, rapidinho ”, o pior que sai na hora mesmo.” (Sucumbir à oferta de crédito)

Problemática 7: Dificuldade de fazer planejamento

Segundo Martineau (1958), Bourdieu (1979) e Henry (2000), os consumidores pobres são mais orientados para o presente e tendem a não fazer planos para o futuro. Matin e Hulme (2002) enfatizam que a população de baixa renda não pode ou não sabe economizar dinheiro. São vistos, geralmente, como desperdiçadores, imorais e irracionais. Outra concepção é a de que eles não economizam e não conseguem se planejar pois, efetivamente, gastam todo o seu salário em comida, roupas e até mesmo itens supérfluos. A visão que se tem, na maioria das vezes, é a de que a população pertencente às classes mais pobres da sociedade não conseguem economizar dinheiro devido a vícios como o álcool e as apostas. No entanto, segundo Matin et al. (2002), eles conseguem sim economizar dinheiro, porém uma pequena quantia que provém, na maioria das vezes, do troco de alguma compra ou pagamento. A esta afirmação já pode-se conectar o que diz Prahalad (2007), quando relata que, em seus estudos, percebeu que os produtos criados pelas empresas para serem rentáveis junto às classes baixas da população deveriam ser produtos de