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Este documento discute a transformação da imagem fotográfica, de um simples registro a uma poderosa linguagem. Com a crescente popularização de dispositivos fotográficos e filmadores, as fronteiras entre privado e público se tornam mais incisas, criando novos desafios sociais. A digitalização do mundo moderno tem produzido um mundo paralelo, constantemente disponível, mas com a promessa de vida eterna. A pesquisa aponta para mudanças significativas na formação de designers, com a convergência de tecnologias e a necessidade de abordar aspectos socioculturais além dos puramente técnicos.
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Não perca as partes importantes!
Do surgimento da fotografia aos dias de hoje, a imagem fotográfica ganhou força como registro, memória, referência, localização, representação de segurança e insegurança, de bem estar e incômodo, mas, sobretudo, ganhou força como linguagem.
A cada dia mais cidadãos portam consigo uma câmara fotográfica, uma filmadora e um gravador de som. Aparatos interconectados entre si e a milhares de outros, independente de fronteiras geográficas, sociais ou políticas, que permitem produzir, veicular e receber imagens em qualquer lugar ou a qualquer momento. As pessoas têm em mãos um equipamento que as tornam permanentes e potenciais fotógrafos, cineastas ou atores de um mundo que transcorre aos seus olhos.
A tecnologia digital, ampliando as próteses da visão, deixou o mundo mais visível e iluminado. Tudo parece acontecer diante das lentes e dos gravadores. Todos os eventos parecem ser acompanhados de imagens, não importa se é um acidente ou um show musical. Acredito que este seja hoje um critério de seleção para os noticiários televisivos, dada a expectativa do telespectador em ver os acontecimentos. O que não tem imagem fica em um segundo plano. Com isso, os meios de comunicação transmitem a certeza do eterno olho em alerta e que por meio deles tudo veremos e tudo saberemos.
A exponencial digitalização do mundo na sociedade contemporânea tem provocado a contínua criação de um mundo paralelo, de mesma aparência, constantemente disponível, aprisionado em forma de megabytes nas memórias eletrônicas, mas com promessa de vida eterna. A cada dia aumenta a percepção de que os acontecimentos se dão para produzir imagens, para serem vistos e revistos depois, e só depois. Os bancos de imagem se multiplicam. As imagens das câmaras portáteis somam-se às produzidas pelas infindáveis câmaras de segurança que nunca dormem ou desligam; as webcams , que olham sempre para aqueles que se posicionam diante de um computador; as câmaras dos GPSs que mapeia constantemente os espaços das cidades e campos; e por fim, as câmaras de satélites que se aproximam a cada momento, propondo um novo ângulo. São inumeráveis os aparatos acionados para saciar a necessidade
contemporânea do tudo ver. A vida se desenrola diante de um número cada vez maior de câmaras e, por causa das imagens, conceitos de público e privado se tornam tênues, provocando novas fricções e conflitos sociais.
Recordações e registros, que foram o impulso e o motor da evolução fotográfica, continuam sendo produzidos. Eles registram, mas não recordam, e prestam agora testemunho duvidoso. A fotografia, que nasceu na coexistência da manufatura e da produção industrial, apresenta ponto de inflexão cento e cinqüenta anos depois, em um momento pós-industrial da coexistência do real com o virtual. No afã de lembrar, ver e fazer ver, a sociedade contemporânea caminha pelo labirinto imagético onde a imagem mostrada não é vista e a mesma que mostra, esconde, transformando o ver em motivo de cegueira.
O mundo digital que coloca em contato culturas distantes, independentes da localização geográfica ou linguística, que cria ambientes cada vez mais povoados nos espaços virtuais, cria também novos desafios para a sociedade mundial, pois nela se perde a identidade e o sentido de pertinência, criam-se multiculturas espalhadas por todos os lugares, pondo em discussão conceito tão importante como: cidadão. Daniel Pennac (1994), refletindo sobre as mudanças sofridas com a globalização, nos lembra que nossos filhos também são filhos e filhas da sua época, enquanto nós, adultos, éramos fundamentalmente filho dos nossos pais.
A globalização, com suas características ainda indefinidas, avança em todas as áreas: da economia aos valores simbólicos; da política à educação. Os fluxos de capitais e produtos fazem os governos locais impotentes nas suas políticas econômicas, os operários não têm mais o poder de barganha na paralisação, pois os produtos são montados e fabricados em inúmeras unidades espalhadas pelo mundo.
Na educação, os efeitos destas influências são sentidos de forma imediata, pois o processo educacional não se restringe só à educação formal, abrange o entorno da escola, os meios de comunicação, dentre outros. Um destes efeitos é o conflito entre cultura oficial e cultura popular; a primeira valoriza o racional, a reflexão e a abstração e a segunda valoriza o sensorial, o concreto e o dinâmico. A contrariedade entre essas duas culturas tem acirrado os desencontros educacionais.
oportunizaram a um maior número de pessoas a se expressarem por meio da imagem. Novos e múltiplos espaços de veiculação e armazenagem foram desenvolvidos a um custo infinitamente menor do que o proposto pela tecnologia analógica. Tenho consciência, contudo, de que o mesmo oceano que nos transporta e nos alimenta também apresenta riscos, pois, sujeito a correntes, ventos e mudanças climáticas, exige de nós constantes leituras e ajustes no percurso. Contreras (2008) nos mostra que os sistemas técnicos concretos não estão isentos do juízo de valor ou eticamente neutros, e exercer sobre estes uma constante leitura e análise é necessário para traçar rumos. Não é possível encarar a tecnologia como no mito de Prometeu, sem submetê-la a um processo reflexivo constante.
As mudanças tecnológicas ocorridas no ensino da fotografia nos últimos anos foram significativas, como vimos no desenvolver da pesquisa, mas acredito que estas mudanças são ainda menores do que as mudanças ocorridas na comunicação, no comportamento e na sociedade como um todo, por isso vejo a necessidade de expor este tema a constante debate, no intuito de produzir novas estratégias de ensino que possam, não só instrumentalizar o aluno dos cursos de Design para o uso da imagem fotográfica em seu contexto profissional, mas, despertar junto ao estudante e futuro designer, a consciência de que, mais do que uma ferramenta profissional, a imagem fotográfica é uma linguagem e como tal nos mostra, nos permite vivenciar, aprender e mudar o mundo.
Cheguei a conclusão de que, com a introdução da tecnologia digital no campo da fotografia, houve uma migração dos conteúdos que antes se atinham à disciplina de fotografia para outras disciplinas e que, de forma contrária ou no mesmo sentido, conteúdos que eram tratados em outras disciplinas como projeto, linguagem visual, antropologia, computação gráfica, dentre outras, migraram para a disciplina de fotografia, provocando rupturas nas fronteiras disciplinares do curso de Design. Estas rupturas têm produzido novas configurações e provocado uma ação interdisciplinar e criativa na formação do designer, ações que vão ao encontro do que propunha Bomfim (1997) como premissa para construção de uma Teoria do Design. Com a ruptura das fronteiras, se inicia um novo processo na formação do designer e por consequência na estrutura curricular.
Observei junto aos professores que os alunos estão transferindo as suas atenções do pré para o pós fotográfico. Com a tecnologia analógica, objetivando ser assertivo no fotografar, se mostravam mais preocupados com os fundamentos técnicos. Com a tecnologia digital e a possibilidade de correção por meio dos softwares de tratamentos de imagens, a preocupação está se transferindo rapidamente para o pós fotográfico. Acredito que isso tenha acontecido pelo fato da imagem fotográfica ter se tornado mais barata, menos laboriosa e de fácil manipulação, além da influência da cultura do vídeo game com os seus constantes reloadeds , levando o ato fotográfico a uma relação de erro e acerto com possibilidade de inúmeros retornos.
A câmara fotográfica passa a integrar outros aparatos como o celular, o smartphone e os computadores de mesa ou portáteis. Esta convergência não se limita a portabilidade ou a multifuncionalidade, cria uma nova estética, impulsiona o ato, influencia o nosso cotidiano. Os conflitos do Afeganistão ou da primavera árabe serviu de exemplo. As imagens veiculadas não pertenciam apenas a jornalistas, pelo contrário, foram produzidas por pessoas comuns da sociedade, por soldados detentores de celulares, que, por motivação outras e ângulos próprios, postavam suas fotos na internet.
As imagens dos momentos fotográficos mais impactantes produzidas atualmente pelo fotojornalismo são frames que compõem uma filmagem, pois as novas câmaras fotográficas também filmam e gravam som em alta resolução. A opção da imagem fixa ou em movimento é decidida por uma tecla na hora da captação, ou transferida para o momento pós captação. Os softwares de tratamento de imagens estão migrando para própria câmara fotográfica e se inserindo como parte do processo fotográfico. Estes indícios me fazem inferir que a falta de atenção dos alunos, observada pelos professores na pesquisa, nada mais é do que o deslocamento do aparato à linguagem. Observei que o mesmo deslocamento acontece com a aprendizagem e necessariamente deve acontecer com o ensino.
As convergências dos aparatos estão colocando em discussão conceitos que nos pareciam já consolidados, como: fotografar, filmar e manipular imagem. Com todas estas mudanças, percebi que o ciclo da mudança tecnológica está em processo de fechamento, mas a tecnologia digital ainda está convivendo paralelamente com a analógica, se não nos aparatos, mas na forma de ensino e aprendizagem, mostrando uma oportunidade do aprofundamento das discussões
onda, aproveitar cada situação a favor da embarcação e acima de tudo que sua tripulação deve chegar em segurança.