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Perfis de solo e biodiversidade em trilha no Parque Intervales, Notas de estudo de Materiais

A caracterização de perfis de solo em uma trilha no parque estadual intervales, brasil, de acordo com o protocolo de lemos & santos (1996) e a classificação da embrapa (1999). A análise das características edáficas, como profundidade, textura, estrutura, disponibilidade de nutrientes e suscetibilidade a processos de lixiviação, erosão e diversidade na constituição da cobertura pedológica, é fundamental para entender a relação entre o solo e a biodiversidade na região. A trilha é dividida em diferentes manchas de solos, cada uma com suas próprias características, como cambissolos, neossolos litólicos, argissolos e gleissolos.

O que você vai aprender

  • Qual a classificação dos solos de acordo com a EMBRAPA?
  • Quais as diferentes manchas de solos encontradas na trilha?
  • Como é a relação entre os solos e a biodiversidade na trilha?
  • Como é o processo de caracterização dos perfis de solo no documento?
  • Quais as características edáficas analisadas nos perfis de solo?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Miguel86
Miguel86 🇧🇷

4.8

(40)

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Parque Estadual Intervales
241
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Capitulo 3.1.6 Solos
3.1.6 SOLOS
3.1.6.1 METODOLOGIA
O Parque Estadual Intervales está situado em uma área bastante complexa do ponto de vista
geológico. Essa complexidade se reflete numa grande variabilidade de litologias e no relevo
bastante dissecado, o que dificulta enormemente o levantamento em campo.
Diante desse quadro, optou-se por realizar a caracterização da cobertura pedológica através dos
transceptos possíveis, definidos principalmente em função da compartimentação geológico-
geomorfológica.
A caracterização dos perfis de solo se deu em conformidade com o protocolo de descrição e coleta
de amostras definido por LEMOS & SANTOS (1996) e a classificação de acordo com os critérios
estabelecidos pela EMBRAPA (1999). As análises morfológicas dos perfis de solo foram realizadas em
cortes de estrada, trincheiras e amostras coletadas com tradagem. Os pontos de observação
tiveram sua posição registrada por GPS Global Positioning System e plotadas sobre a base
digitalizada disponível (Folhas Topográficas 1:50.000, IBGE).
O tratamento gráfico dos transceptos analisados permitiu delimitar as manchas de associações de
solos, inerentes aos diferentes compartimentos geológicos/geomorfológicos, e à elaboração da carta
de Levantamento Exploratório dos Solos do Parque Estadual Intervales, escala 1:50.000.
Considerando que o solo é o fator abiótico que guarda relação mais estreita com a biodiversidade,
procurou-se analisar as características edáficas das diferentes manchas de solos, como:
profundidade, textura e estrutura (que condicionam a capacidade de armazenamento e
disponibilidade de água), a disponibilidade potencial de nutrientes, a suscetibilidade a processos de
lixiviação, erosão e a própria diversidade na constituição da cobertura pedológica. A partir desta
análise, foi elaborado o mapa de Capacidade de Sustentação à Biodiversidade, em escala 1:50.000.
Transceptos Percorridos
A seguir estão descritos os principais percursos feitos ao longo dos trabalhos de campo.
1- Sede – Base do Alecrim
Ao longo da trilha que leva da sede à base do Alecrim, pela margem esquerda do Rio do Carmo,
encontram-se solos pouco desenvolvidos, associação de Cambissolos /Neossolos Litólicos (Figura 1),
embasados sobre filito (Figura 2), com horizontes superficiais pobres em matéria orgânica e poucos
indícios de atividade biológica. As declividades elevadas e as calhas encaixadas dos afluentes e do
próprio Carmo configuram estas vertentes como zonas de exportação de bases trocáveis, sedimentos
e matéria orgânica.
Somente abaixo da cota 250m, verificou-se a presença de pequenas manchas de Argissolos (Figura 3)
no sopé de vertentes convexas e de Gleissolos nos terracetes.
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3.1.6 SOLOS

3.1.6.1 METODOLOGIA

O Parque Estadual Intervales está situado em uma área bastante complexa do ponto de vista geológico. Essa complexidade se reflete numa grande variabilidade de litologias e no relevo bastante dissecado, o que dificulta enormemente o levantamento em campo.

Diante desse quadro, optou-se por realizar a caracterização da cobertura pedológica através dos transceptos possíveis, definidos principalmente em função da compartimentação geológico- geomorfológica.

A caracterização dos perfis de solo se deu em conformidade com o protocolo de descrição e coleta de amostras definido por LEMOS & SANTOS (1996) e a classificação de acordo com os critérios estabelecidos pela EMBRAPA (1999). As análises morfológicas dos perfis de solo foram realizadas em cortes de estrada, trincheiras e amostras coletadas com tradagem. Os pontos de observação tiveram sua posição registrada por GPS – Global Positioning System e plotadas sobre a base digitalizada disponível (Folhas Topográficas 1:50.000, IBGE).

O tratamento gráfico dos transceptos analisados permitiu delimitar as manchas de associações de solos, inerentes aos diferentes compartimentos geológicos/geomorfológicos, e à elaboração da carta de Levantamento Exploratório dos Solos do Parque Estadual Intervales, escala 1:50.000.

Considerando que o solo é o fator abiótico que guarda relação mais estreita com a biodiversidade, procurou-se analisar as características edáficas das diferentes manchas de solos, como: profundidade, textura e estrutura (que condicionam a capacidade de armazenamento e disponibilidade de água), a disponibilidade potencial de nutrientes, a suscetibilidade a processos de lixiviação, erosão e a própria diversidade na constituição da cobertura pedológica. A partir desta análise, foi elaborado o mapa de Capacidade de Sustentação à Biodiversidade, em escala 1:50.000.

Transceptos Percorridos

A seguir estão descritos os principais percursos feitos ao longo dos trabalhos de campo.

1- Sede – Base do Alecrim

Ao longo da trilha que leva da sede à base do Alecrim, pela margem esquerda do Rio do Carmo, encontram-se solos pouco desenvolvidos, associação de Cambissolos /Neossolos Litólicos (Figura 1), embasados sobre filito (Figura 2), com horizontes superficiais pobres em matéria orgânica e poucos indícios de atividade biológica. As declividades elevadas e as calhas encaixadas dos afluentes e do próprio Carmo configuram estas vertentes como zonas de exportação de bases trocáveis, sedimentos e matéria orgânica.

Somente abaixo da cota 250m, verificou-se a presença de pequenas manchas de Argissolos (Figura 3) no sopé de vertentes convexas e de Gleissolos nos terracetes.

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Figura 1: Perfil de Neossolo Litólico sobre filitos. Localização: 762.184 W; 7.310.347 S

Figura 2: Escorregamento, em área de filitos, próximo à estrada. Localização: 762.184 W; 7.310.349 S

Figura 3: Perfil de Argissolo sobre filitos. Localização: 762.054 W; 7.308.847 S

Figura 4: Ponto de tradagem de Neossolo Quartzarênico em terraço fluvial. Localização: 753.992 W; 7.301.135 S

Entorno da base do Alecrim, a calha do Carmo se espraia e possibilita a acumulação dos materiais transportados, areias e cascalhos na planície de inundação e, nos terraços, materiais mais finos que, a partir da pedogênese, dão origem aos Neossolos Quartzarênicos (predominantes) e Gleissolos (na base da vertente).

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Figura 6: Acumulação de ferro e formação de cristais de calcita. Localização: Caverna próxima à trilha da Figueira.

3 - Iporanga - Quilombo Maria Rosa

Desde a travessia por balsa através do Ribeira do Iguape e ao longo da estrada que vai até o centro comunitário do Quilombo Maria Rosa, observa-se que o relevo é bastante dissecado e a litologia muito diversificada. Os solos pouco desenvolvidos (Cambissolos e Neossolos Litólicos), se diferenciam, sobretudo, pela cor ainda muito próxima à do material da origem. Assim, se percebe que tanto no leito como nos cortes ao longo da estrada, há variações de cor que se fazem notar praticamente metro a metro, condicionadas pela sucessão/sobreposição de materiais diversos: micaxistos entremeados por veios de quartzo, afloramentos de sills de diabásio, arenitos pouco metamorfizados, siltito lilás escuro, ardósias e etc. (Figuras 7 e 8).

Do Centro comunitário até a propriedade da família do nosso guia (Zé Froido), o relevo se torna ainda mais dissecado, os deslizamentos ao longo das vertentes são mais recorrentes e de maior extensão, o siltito lilás escuro se faz mais presente dando origem a Cambissolos argilosos e bruno- escuros ( Foto 9).

Figura 7: Exemplo da variabilidade litológica da área. Localização: 753.923 W; 7.288.871 S.

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Figura 8: Material de alteração do calcário (acima) e do diabásio (abaixo). Localização: Estrada de acesso ao núcleo Maria Rosa.

Figura 9: Solo desenvolvido sobre calcário. Localização: Estrada de acesso ao núcleo Maria Rosa.

4 - Município de Sete Barras em Direção à Base do Funil.

Neste percurso, que seguiu uma orientação geral sudoeste/nordeste, foram atravessados conjuntos de morros baixos e morrotes constituídos por micaxistos e colinas arredondadas desenvolvidas sobre afloramentos de granito. Nas depressões do rio Ribeira de Iguape, o relevo se torna menos dissecado, a drenagem menos densa e os fundos de vale mais amplos, preenchidos por sedimentos grosseiros (areias e cascalhos), onde predominam as associações de Neossolos Quartzarênicos e Gleissolos.

Na Figura 10, tem-se um Cambissolo desenvolvido sobre micaxisto em morrote de declividade de alta a média. Na Figura 11, tem-se um afloramento de granito em colina baixa. Na Figura 12, observam-se despregamentos em vertente que expõem o material de alteração da rocha, com e sem hidromorfia.

A Figura 13 apresenta um corte de estrada que expõem a distribuição de solos na base de uma colina. No canto esquerdo, observa-se a passagem vertical da alterita do micaxisto (vermelha), para o solo (mais claro). Da direita para a esquerda, verifica-se o aumento progressivo da hidromorfia acompanhando a concavidade da vertente.

Figura 10: Argissolo vermelho- amarelo desenvolvido sobre micaxisto. Localização: Estrada de acesso à base do Funil.

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As bases de Saibadela e Quilombo se situam no limite inferior (sudeste) do Parque, onde se encontram as extensas planícies aluviais, e outra mais dissecada, composta por morros e morrotes. Ao norte da base de Saibadela, encontram-se morros cujas bases são constituídas principalmente por grandes blocos de granito. Estes dão origem a solos de coloração vermelho-amarelo vivo, argilosos e com numerosos fragmentos milimétricos de quartzo por todo o perfil, associações de Cambissolos e Latossolos Vermelho-Amarelos, argilosos e com cascalho. Da base do Quilombo, até a cachoeira que faz limite entre o PEI e o PECB, encontra-se a mesma sucessão de solos derivados do granito.

Os solos do entorno da base do Guapuruvu apresentam em sua constituição materiais de origem diferenciada (filito, granito e micaxisto), que nas vertentes de declividade média a alta vão condicionar o desenvolvimento de Cambissolos. Na planície aluvial, as áreas de influência dos diferentes materiais de origem são bem definidas, o que indicaria que a mobilidade dos materiais não seria tão intensa e justificaria a existência dos Argissolos e dos Organossolos observados ali.

A Figura 14 mostra um perfil típico de cambissolo desenvolvido sobre granito:

Figura 14: Cambissolo desenvolvido sobre granito. Localização: Trilha do Quilombo.

6 – Barra Grande – São Pedro

Seguindo pela estrada de São Pedro, nas imediações da base de Barra Grande, foram feitas algumas tradagens próximas do canal fluvial (sem nome) e na vertente. Encontrou-se um sill diabásio, que aflora na drenagem, e duas situações distintas no que diz respeito ao material de alteração:

  • A tradagem 1 (767.333 W; 7.310.883 S), feita em posição de meia vertente onde a declividade é de aproximadamente 25º, mostrou que o material de alteração é pouco espesso (< 60 cm de profundidade) e a rocha mãe é o filito;
  • A tradagem 2, feita em um patamar no terço inferior da vertente, com declividade de 15°, encontrou um material mais espesso (100 cm), composto pelo produto da alteração do diabásio com a contribuição significativa de materiais provenientes do filito. Devido à densa cobertura vegetal da área, não foi possível registrar as coordenadas do local com o GPS.

Os morros que são cortados pela estrada e que são sustentados pelas rochas de baixo metamorfismo são compostos por solos rasos, neossolos litólicos e cambissolos. Encontram-se também pequenas

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manchas esparsas de Argissolos. Nos trechos em que os vales são mais abertos, há a condição de formação de planícies fluviais, onde são encontrados os gleissolos..

A Figura 15 mostra um perfil de Gleissolo descrito, onde ainda é possível perceber algumas evidências da migração do ferro:

Figura 15: Perfil de Gleissolo. Localização: 768.102 W; 7.309.322 S

A estrada de São Pedro atravessa a transição do filito para o granito. Na zona composta pelos filitos, predominam solos rasos, como os neossolos litólicos, cambissolos e pequenas manchas de argissolos. Na zona granítica, além desses solos citados, foram encontrados outros mais profundos como os latossolos.

Figura 16: Latossolo Vermelho Amarelo Localização: 770.714 W; 7.308.523 S

7 – Estrada de Guapiara e Bulha D’Água

Foram observados pontos ao longo da estrada que liga a sede do parque até a base da Bulha D’Água, próxima à divisa com o PETAR. Como a estrada percorrida está em grande parte fora do parque,

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Figura 19: Latossolo Bruno Amarelado desenvolvido sobre coluvio de materiais derivados de filito. Localização: 753.351 W; 7.318.845 S.

Dentro da zona de amortecimento do parque, há uma série de cavas originadas da lavra do calcário. Fazendo observações na área de lavra da Minercal e nas zonas adjacentes, percebeu-se que os solos que recobrem o calcário são bastante profundos, alcançando até dezenas de metros em alguns pontos. Estes solos tem estrutura granular pequena, textura argilosa e cor vermelho escura bastante homogênea em todo o perfil (latossolo vermelho férrico). O contato entre o solo e a rocha sã subjacente (calcário) é abrupto, conforme é possível perceber na Figura 20, indício de que este material pode ser alóctone.

A espessa cascalheira apresentada na Figura 21 corrobora a hipótese de uma intensa movimentação de materiais nesta porção da paisagem, que possibilitou a dispersão dos materiais derivados de diabásio.

Figura 20: Latossolo Vermelho Férrico próximo à área de lavra da mineradora Minercal. Localização: Área próxima da zona lavrada pela Minercal, na estrada de Guapiara.

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Figura 21: Cascalheira de rochas básicas que são o possível material de origem dos Latossolos Vermelhos Férricos e Nitossolos Vermelhos. Localização: Área próxima da zona lavrada pela Minercal, na estrada de Guapiara.

Alguns quilômetros depois de cruzar uma vila onde vive grande parte dos trabalhadores da mineração, embora as declividades ainda sejam elevadas (20 a 30%), encontra-se uma ampla planície fluvial. Não foi possível chegar até ela para verificar o tipo de cobertura pedológica, mas a presença de vegetação adaptada a ambientes com drenagem deficiente é um indicativo de que os solos provavelmente são hidromórficos. No terço médio da vertente de um dos morros próximos a essa várzea, foi encontrado um latossolo bruno amarelado claro, textura média, com pouco mais de 2 m de profundidade. A partir de 2,00m de profundidade, são visíveis os indícios de hidromorfia nos agregados, conforme pode ser percebido nas Figuras 22 e 23. O material de origem se constitui provavelmente de calcário e filito.

Figura 22: Latossolo com hidromorfia na base do perfil. Localização: 754.283 W; 7.313.039 S.

Figura 23: Detalhe da hidromorfia na base do perfil da figura 5. Localização: 754.283 W; 7.313.039 S.

Próximo à Base da Bulha D’Água, embora ainda fora dos limites do parque, foi encontrado um solo com um horizonte orgânico enterrado (paleoturfa) próximo ao topo de um morro, em uma área de

Parque Estadual Intervales

______________________________________________________________________________________Capitulo 3.1.

Solos

Figura 25

Escala Vertical: 1:30.000 Escala Horizontal:

LEGENDA:RU: Neossolo FlúvicoRL: Neossolo LitólicoCX: CambissoloLVA: Latossolo Vermelho- Amarelo

PERFIL MORFOPEDOLÓGICO 1

Parque Estadual Intervales

______________________________________________________________________________________Capitulo 3.1.

Solos

Figura 26

Escala Vertical: 1:30.000 Escala Horizontal:

LEGENDA:RU: Neossolo FlúvicoRL: Neossolo LitólicoCX: CambissoloPVA: Argissolo Vermelho- Amarelo

PERFIL MORFOPEDOLÓGICO 2

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Figura 27: Afloramento de filito entremeado de placas de ardósia com orientação vertical. Localizado na estrada que liga o Ribeira do Iguape ao Núcleo Quilombola de Maria Rosa.

A partir do quilômetro 7 aproximadamente, começa a aparecer um siltito lilás escuro na base dos cortes de estrada. Já nas proximidades do quilometro 10, verifica-se a existência de um córrego, em cujo leito encontram-se seixos de calcário e diabásio e em sua margem esquerda apresenta um cambissolo derivado de calcário (Figuras 8 e 9 ). À direita deste, encontra-se um desvio através de uma vertente que conduz a um patamar constituído essencialmente pelo siltito lilás escuro, recoberto por um cambissolo de cor bruno escuro, textura argilo-siltosa e estrutura granular a grumosa.

Fica evidente neste percurso, pela alta incidência de deslizamentos, a fragilidade destas vertentes, condicionada por esta complexa litologia. Por fim, nesta porção da paisagem, verifica-se que as calhas dos rios do Carmo e Pilões se espraiam antes de confluírem para desembocar no Ribeira do Iguape. Nestas planícies fluviais, encontram-se associações de gleissolos, neossolos quartzarenicos e flúvicos.

A planície aluvial localizada à sudeste do Parque exerce uma importante função de dissipação da energia das enxurradas que se formam a partir do escoamento rápido das águas de chuva que incidem sobre as vertentes íngremes constituídas por granitos que a delimitam. Os terracetes, encontrados no sopé da vertente situada atrás da sede do Saibadela, são um indicativo da intensidade das enxurradas que escoam pelas vertentes e atingem a planície fluvial.

A maior parte da planície é recoberta por cambissolos, que ainda guardam características mineralógicas da rocha mãe. Percorrendo esta área, constata-se que os solos próximos aos maciços graníticos apresentam textura argilosa com cascalho e cor variável entre amarela a vermelha – amarela clara. No entorno dos morrotes residuais de micaxisto, os solos adquirem cor vermelha.

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Isto permite inferir que a movimentação de materiais não é tão intensa quanto seria de se esperar, considerando o funcionamento hidrológico deste setor da paisagem. As planícies fluviais, onde se verifica o domínio dos organossolos, são intercaladas, a jusante, por manchas razoavelmente homogêneas de argissolos. Nos dois casos, tratam-se de solos maduros, que se formam por processos de acumulação, o que corrobora a eficiência deste subsistema, na dissipação da energia das enxurradas.

Na área compreendida entre o Guapuruvu e a base do Funil, os solos apresentam constituição mineralógica mais variada. Isto provavelmente se deve ao aporte de materiais pela rede de drenagem, que atravessa litologia bastante heterogênea na escarpa antes de atingir este setor da planície.

3.1.6.4 MAPEAMENTO DA CAPACIDADE DE SUSTENTAÇÃO A BIODIVERSIDADE

Foram definidas cinco classes, quanto à capacidade de sustentação à biodiversidade, sem que se estabelecesse uma hierarquia entre elas. Elas estão expostas a seguir:

A Classe 1 : é a que agrega a maior diversidade de solos. São solos mais espessos e pedogeneticamente mais maduros. Apresentam maior disponibilidade de água e nutrientes e tem maior potencial para abrigar biodiversidade.

As manchas de Classe 1, situadas na porção Oeste-Noroeste, que engloba a zona de amortecimento do Parque, merecem especial atenção: a cobertura pedológica nestas manchas é constituída por solos espessos, com estrutura predominantemente latossólica, porosidade elevada e que, portanto apresentam uma grande capacidade de armazenamento de água. Estes solos estão diretamente assentados sobre o sistema cárstico ou a ele ligados funcionalmente. A supressão, mesmo que parcial, destes solos, determinada pela intensificação dos processos erosivos decorrentes do manejo agrícola, de processos de urbanização e principalmente das atividades de mineração, concorrerá para aumentar grandemente o volume e a intensidade de circulação da água no sistema cárstico, intensificando os processos de dissolução e corrosão e comprometendo este delicado ecossistema como um todo.

A Classe 2: com relevo mais dissecado, que na maior parte envolve as manchas da Classe 1, concorre com o aporte de água, nutrientes e sedimentos para a evolução da cobertura pedológica e manutenção da biodiversidade, nesta última. Além disto, pela proximidade, seria a mais apta à propagação espacial de espécies vegetais desenvolvidas nas manchas de Classe 1, o que se reveste de grande importância quando se considera a manutenção da fauna.

Na Classe 3: em função das declividades elevadas, encontram-se os solos menos desenvolvidos, associações de Cambissolos Háplicos com Neossolos Litólicos. Estes solos, que se desenvolveram a partir de rochas pobres em Fe e em função das declividades, não conseguem acumular matéria orgânica. Consequentemente, além de pouco espessos, apresentam-se fracamente estruturados, o que restringe sua capacidade de armazenamento de água e os torna suscetíveis a processos de lixiviação e erosão intensos, tanto quanto a déficits hídricos pronunciados, apesar da elevada pluviosidade que incide sobre esta região. As restrições que estes solos propõem ao desenvolvimento da flora podem ser avaliadas pelo parco recobrimento vegetal das parcelas que, tendo sido desmatadas para exploração agrícola, foram deixadas em pousio por varias décadas.