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Neste documento, analisamos a relação entre crianças e mídias, especificamente a série animada mundo bita. Através de uma perspectiva histórica, discutimos como a imagem da infância evoluiu ao longo dos séculos, o papel da mídia na formação da infância e o impacto da música e animação na aprendizagem e desenvolvimento integral das crianças.
O que você vai aprender
Tipologia: Esquemas
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Monografia apresentada à coordenação do Curso de Sistemas e Mídias Digitais da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Sistemas e Mídias Digitais. Orientador: Profa. Dra. Andrea Pinheiro Paiva Cavalcante.
Monografia apresentada à coordenação do Curso de Sistemas e Mídias Digitais da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Sistemas e Mídias Digitais.
Aprovada em: //______.
Profa. Dra. Andrea Pinheiro Paiva Cavalcante (Orientadora) Universidade Federal do Ceará (UFC)
Prof. Dr. Ernesto Trajano de Lima Neto Universidade Federal do Ceará (UFC)
Profa. Dra. Georgia da Cruz Pereira Universidade Federal do Ceará (UFC)
Agradeço a minha família, por constantemente me apoiar, acreditar em minhas capacidades e sempre me incentivar a seguir meus sonhos e conquistar o que desejo, em especial, minha mãe, Conceição, que sempre fez de tudo para me guiar da melhor maneira na vida acadêmica, profissional e pessoal. Sou grato ao Ed, o melhor companheiro que eu poderia ter, que sempre me apoia e acredita muito em mim e repetidamente diz palavras para me confortar. Agradeço a todos os amigos que me auxiliaram na graduação e que viveram diversos momentos de angústia (fim de semestre) e diversão, em especial, meus companheiros Ana Carla, Hareta, Taynara, Jonathan, Matheus, Ítalo, Everton e Rômulo. Agradeço a todos os professores do curso de Sistemas e Mídias Digitais que me ajudaram a estabelecer o conhecimento necessário para minha formação. Sou reconhecido a minha orientadora, doutora Andrea, por haver me ajudado a organizar minhas ideias e me dar uma luz para seguir no meu TCC. Agradeço muito a todos os meus amigos e colegas de trabalho, no Desenrolado, que sempre me apoiaram e que, quando precisei, forneceram tudo o que podiam para me auxiliar a concluir este trabalho. Por fim, remeto minha gratidão a todos os que de algum modo me ajudaram até aqui, a concluir minha graduação; mencionados ou não, todos me ajudaram a conquistar esse grau. Muito obrigado!
Mundo Bita é uma animação pernambucana que está sendo muito difundida entre as crianças, estando em diversos ambientes, como Netflix e Youtube. Quais mensagens essa animação leva para a criança? O que ela pode ensinar? Este trabalho busca responder a essas indagações por meio de um estudo de caso, analisando Bita e os Animais. Esse trabalho é pautado principalmente nas músicas dessa produção. Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica. Para embasar o estudo, foi procedido a um histórico da infância no mundo e feito um breve relato do processo histórico da infância no Brasil, finalizando como se encontra a perspectiva da infância hoje. Também foi exposto um pouco da história de animação no mundo e no Brasil, como esta cresceu e de que modo está a produção atualmente. Além disso, foram apontadas características do audiovisual focadas no áudio, como músicas e efeitos, seus benefícios para as crianças e sociedade. Para finalizar, expõe-se o que era o Mundo Bita, seus personagens, como a produção foi desenvolvida, as ideias iniciais e quais os planos de desenvolvimento para levar a animação a outro patamar. Assim foi possível realizar uma análise crítica das músicas propostas no primeiro DVD de Mundo Bita, Bita e os Animais , reproduzindo as letras de cada canção e discutindo as possíveis interpretação e benefícios para as crianças. Para auxiliar neste estudo foram utilizados critérios de qualidade propostos por Sampaio e Cavalcante (2012). Como resultado, viu-se que existem pontos importantes para se trabalhar com crianças, que não possuem tanta força em Mundo Bita, precisando de melhorias. Isso demostrou que as animações brasileiras têm potencial e podem trazer ótimos benefícios para as crianças, mas ainda são passiveis de melhora e, por isso, precisam receber cada vez mais incentivos para aumentar a produção brasileira.
Palavras-chave : Mundo Bita. Animação. Infância. Trilha sonora.
Mundo Bita is an animation made in Pernambuco that is being very widespread among children, being present in several environments, such as Netflix and Youtube. What messages does this animation lead to the child? What can it teach? This work seeks to answer such questions through a case study, analyzing Bita and the Animals. This research is based mainly on the songs of this production. To accomplish that, a bibliographic research was made. To support this study, I presented both a history of childhood in the world and a brief account of the historical process of childhood in Brazil, ending with the perspective of childhood today. It was also exposed a little of the historical process of animation in the world and in Brazil, how it grew and how the production is currently made. In addition, audiovisual features focused on audio, such as music and effects, its benefits for children and society were pointed out. To conclude, I explained what the Mundo Bita was, its characters, how the production was developed, the initial ideas and the plans to take the animation to another level in the future. That said, it was possible to perform a critical analysis of the songs proposed in the first DVD of Mundo Bita, Bita and the Animals, presenting the lyrics of each song and discussing the possible interpretation and its benefits to children. To assist in this study were used quality criteria proposed by Sampaio and Cavalcante (2012). As a result, it was seen that there are important points to work with children, that do not have as much power in Mundo Bita, needing improvements. This demonstrated that Brazilian animations have potential and can bring great benefits to children but can still improve and that is why they need to receive more and more incentives to increase Brazilian production.
Keywords : Mundo Bita. Animation. Childhood. Soundtrack.
Tabela 1 (^) − Presença dos critérios de qualidade nos clipes do DVD Bita e os Animais .................................................................................................... 70
2D Duas dimensões 3D Três dimensões ANCINE Agência Nacional do Cinema DVD Digital Versatile Disc ECA Estatuto da Criança e do Adolescente HD High Definition Secult - CE Secretaria da Cultura do Ceará TV Televisão
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A relação das crianças com as mídias aumentou bastante nos últimos tempos, bem como a utilização da internet. Segundo dados da pesquisa Tic Kids Online 2016, 82% das crianças e adolescentes do Brasil acessaram a internet nos últimos três meses e desses acessos 91% utilizam-se de smartphones e ainda 60% de computadores^1. Os recursos audiovisuais são em parte responsáveis pela quantidade de acessos citada no parágrafo anterior. Eles estão em diversos lugares e aparelhos. Além das televisões, aparelhos celulares capazes de reproduzir vídeos em HD, tablets e computadores. O audiovisual cresce não só como entretenimento, mas gera uma renda para o Brasil. Em 2016, foram aproximadamente 25 bilhões de reais gerados com procedência no setor (CAVALCANTI, 2016). São notáveis a variedade e a quantidade de programas exibidos atualmente na grade da televisão brasileira. São mostrados programas de esportes, notícias, músicas, novelas, saúde, sessões de filmes e outros, somando de 15 a 25 programas por emissora (Tv aberta). Esses programas variam de público, podendo ser considerados para adulto, infantil ou adolescente. Para auxiliar a determinar se o conteúdo exibido é apto para aquele público, hoje existe a classificação indicativa. Ela ajuda a determinar os conteúdos próprios ou impróprios para certa faixa etária. Esta classificação é baseada em um guia elaborado pelo Governo, onde há três fatores principais para avaliação: violência, sexo e drogas^2. Mediante tais dados, é importante discutir como a mídia, em especial o audiovisual, pode interferir na infância, se o que está sendo proposto para as crianças é útil e adequado. Isso se tornou complexo na atualidade. Podemos encontrar opiniões divergentes, quando relacionamos infância e as tecnologias digitais, como a televisão. Para isso, cada vez mais estão surgindo estudos sobre as crianças e como a mídia se relaciona com elas. De igualdade, os pais passam a se preocupar mais com o que os filhos estão assistindo, se tornando mais exigentes e buscando programação de qualidade. Pesquisa divulgada pelo Ministério da Justiça, em parceria com a Unesco, em 2014, mostrava que 97% dos pais ou responsáveis por crianças de quatro a 16 anos consideraram importante que os canais de televisão aberta respeitem as restrições de horários propostos pela classificação indicativa, sendo passíveis de multa, caso não cumprissem^3. Esse processo de mudança afeta toda a
(^1) Disponível em: http://cetic.br/pesquisa/kids-online/analises Acesso em: 08 jun, 2018 (^2) O guia pode ser acessado em: http://www.justica.gov.br/seus-direitos/classificacao/guia-pratico (^3) Disponível em: <http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2014/12/pesquisa-aponta-preocupacao-dos- pais-com-conteudos-de-tv-e-internet-7377.html> Acesso em: 08 jul, 2018
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sociedade que tenta se adaptar a isso, e o mercado nota essa mudança e a usa para fortalecer seus negócios, produzindo mais. Por exemplo, somente no Gloob , canal nacional infantil criado em 2012^4 , eram exibidas nove produções infantis brasileiras em 2016, dentre elas Detetives do Prédio Azul e Tem criança na cozinha. Se analisarmos outros canais infantis e, ainda, as produções estrangeiras, esse número deve-se tornar muito maior. Assim, torna-se necessário discutir e analisar o conteúdo que está sendo exibido nas produções atuais, principalmente nas brasileiras, para entendermos os motivos de sucesso e podermos contribuir com o progresso da produção audiovisual para crianças, de maneira positiva. Em vista disso, este ensaio se propõe analisar uma animação musical brasileira produzida para as crianças que faz muito sucesso, Mundo Bita, mais especificamente, o primeiro DVD, Bita e os Animais. Mundo Bita é uma série de animação 2D que exibe clipes musicais com variados temas que podem auxiliar no aprendizado das crianças, desde o corpo humano a brincadeiras. Para isso, este experimento foi dividido em cinco capítulos. No segundo, logo após a introdução – que é o capítulo primeiro - foram discutidos os aspectos relacionados a infância, processo histórico de como se desenvolveu e como vemos hoje, tendo como principais referências os autores Heywood (2004), Ariès (1986), Del Priore (1999) e Buckingham (2007). No terceiro seguimento foram abordados aspectos relacionados a audiovisual, mais especificamente, o que diz respeito a áudio, como a música e seus efeitos. Também abordamos as relações dessa comunicação com as crianças e o processo histórico da animação no Brasil. Autores como Nesteriuk (2011), Buckingham (2007) e Berchmans (2012), auxiliaram para que esta seção fosse efetuada. No quarto capítulo trazemos informações sobre Mundo Bita, como foi criado, dificuldades enfrentadas e quais os planos para o futuro. Realizamos um estudo de caso, pois a análise se prende a somente uma animação, dentre um universo de programas infantis. Para esse exame, foram utilizados critérios de qualidade propostos por Sampaio e Cavalcante (2012) em seu livro Qualidade na programação infantil da TV Brasil , e considerações do autor, tendo como objeto de estudo o primeiro DVD da série, analisando principalmente as letras das músicas e sua trilha sonora. Segue-se, no capitulo cinco, as considerações finais, acompanhadas das referencias aos trabalhos aos quais recorri para efetuar esta pesquisa.
(^4) Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1310201103.htm Acesso em: 08 jul, 2018
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Nessa época, acreditava-se que a criança era indiferente à sexualidade e que tais atos seriam gratuitos, ou seja, não acrescentariam em nada na sua formação. Atualmente, essa exposição liberal diante das crianças é algo inusitado e no mínimo diferente, pois atribuímos esse tipo de assunto como “coisa de adulto”. Para Ariès (1981), as crianças só começaram a ser notadas por volta do século XIII, mas como pequenos adultos, não como seres em formação que têm características próprias. Essa “invisibilidade” das crianças na Idade Média pode ser entendida em decorrência das precárias condições de vida da população, o que favorecia a morte prematura de muitos meninos e meninas, fazendo com que a ausência da criança fosse algo natural. Isso pode ser notado nas obras de arte da época, especialmente nas pinturas, feitas com base nos adultos e que, ao representarem as crianças, o faziam com feições e corpo de adulto, porém em uma escala menor. Sendo assim, os escritores julgavam que falar sobre elas em suas histórias era perda de tempo, pois “A infância era um período de transição, logo ultrapassado, e cuja lembrança também era logo esquecida.” (ARIÈS, 1981, p. 28). Como os relatos escritos eram utilizados para coisas realmente consideradas como importantes, o que não se aplicava às crianças, não há tantas estórias sobre a infância desse período, mas sabe-se que os pequenos eram desprezados, como identifica o historiador Colin Heywood (2004). O trabalho de Ariès (1981) sobre a infância é baseado em seus estudos que analisaram a iconografia e a evolução do vocabulário utilizado, tanto com as crianças, como pelas crianças, no decorrer do tempo. É com essa base que ele se propõe identificar como as crianças eram vistas no curso da história. Dentre essas perspectivas, podemos destacar o uso da imagem infantil em formato de anjos, a figura da criança nua no período gótico e, ainda, uma perspectiva mais espiritual, em que a alma era representada por imagens de crianças. A imagem da criança/infância passou por vários processos até se tornar “visível”. Caminhou por meio de representações de adultos em escalas menores, depois representações mais infantis (com certa feminilidade) em obras religiosas, passando para produções que retratavam o cotidiano de adultos, onde percebemos as crianças em todos os ambientes, independentemente da ação. Representou-se, ainda, por meio da morte (ARIÈS, 1981). Quando alguém morria, havia o costume de pôr na lápide dessa pessoa uma imagem dela com a família; a criança também era retratada junto de sua família, apesar do foco ainda estar no adulto e daquela criança, muitas vezes, ainda estar viva. Só então chegamos à retratação da criança em si, representando ela própria.
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As atitudes dos adultos relatadas por Ariès e Heywood estão ligadas a como as crianças eram vistas. Da Antiguidade ao século XVIII, elas eram consideradas adultos imperfeitos, sem relevância alguma na sociedade. Segundo Kohan (2008), ao se observar a etimologia da palavra infância, já é possível interpretar essa imperfeição da criança. Com pouca idade a pessoa era chamado de infans. Esse termo tem o sentido de “incapaz de falar”, ou seja, a infância, mesmo na denominação, está relacionada a uma falta, uma incapacidade. Essa interpretação da infância é relatada em diversos trabalhos, seja no campo histórico, seja na seara filosófica ou na área pedagógica. Na Filosofia, Aristóteles afirmava que toda criança é inacabada, incompleta, imperfeita por natureza, e essa falta de completude afetava sua presença nos planos ético e político. Por isso as crianças são mantidas fora do meio político, pois, para ele, elas eram inexperientes sobre a vida e agiam seguindo os sentimentos, não dando espaço para a razão (KOHAN, 2008). Sendo assim, as crianças não são consideradas seres sociais plenos, mas sim seres "em vias de ser" (em formação). Se elas são o "ainda não", ou seja, não são "verdadeiros" entes sociais, interativos, racionais, dotados de vontade (SARMENTO, 2008). O avanço da sociedade de um modo geral, como o desenvolvimento da área da saúde e políticas públicas, fez com o olhar sobre as crianças mudasse, já que essas melhorias ajudaram a conter a taxa de mortalidade, mas isso não ocorreu repentinamente. Parte dessa indiferença também se transformou em virtude da religião: “É certo que essa importância dada à personalidade da criança se ligava a uma cristianização mais profunda dos costumes”. (ARIÈS, 1981, p. 61) Existem explicações para a mudança de perspectiva baseada no desenvolvimento tecnológico. Tais visões podem ser explicadas pela teoria de Postman (1999). Na perspectiva do autor, as mudanças eram "adultocêntricas", pois, quando ocorriam no meio adulto, determinavam o modo de ver a infância, por exemplo, com a criação da prensa tipográfica, artefato que permitia a impressão de livros e outros objetos, a produção literária cresceu bastante, fazendo com que mais e mais pessoas passassem a ler (antes disso, as leituras costumavam ser feitas em grupo; assim era necessário apenas uma pessoa ser alfabetizada). Dessa maneira, pessoas que não eram letradas foram separadas das que eram. Essa separação foi o que criou a infância, segundo Postman (1999), pois adultos eram letrados e crianças não. Desde então, as crianças foram separadas dos adultos, figurada e fisicamente, pois foi nesse momento que a escola passou a dividir as categorias:
“[...] ampliando-se a necessidade da alfabetização, o que, por sua vez, contribuiu para a expansão da idéia e criação de escolas. O mundo dos adultos separava-se, assim, do
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Os primeiros modelos de infância no país vieram junto com os Jesuítas, quando do processo de ocupação do Território brasileiro durante a colonização. Eles acreditavam que a criança devia receber “luz” e ser moldada antes de atingir a puberdade, pois, nesse momento, ela perderia a inocência e assumiria o comportamento adulto (HENICK; FARIA, 2015 apud NETO, 2000). Os Jesuítas criaram um projeto de colonização que pretendia catequizar os indígenas. Para eles, a infância era o momento ideal para isso, pois era um momento de cura, proteção espiritual, iluminação entre outros. Essa educação era a maneira de conservar a inocência da criança, mas isso negava a cultura indígena. Ao mesmo tempo, esse projeto era utilizado para explorar o trabalho e riquezas desses indígenas. (HENICK; FARIA, 2015 apud NETO, 2000) Esse projeto não se aplicava às crianças negras, porém algumas delas aprendiam a ler e escrever com os padres. Elas só tiveram acesso à educação quando foi instalado o ensino público na segunda metade do século XVIII, no Governo do Marquês de Pombal (DEL PRIORE, 2012). Dessa maneira, muitas dessas crianças tinham como única opção o trabalho, como no meio musical, onde muitas crianças trabalhavam. Desde cedo, aquelas consideradas com uma boa voz eram treinadas para cantar em diversas festividades. Esse não era o único meio de trabalho infantil explorado. Constante a informação de Del Priore (2001), as crianças trabalhavam com construtores, pintores e arquitetos. Eles aprendiam desde muito pequenos a executar esses serviços, seja em razão de ser a profissão de seus pais, seja por serem escravos de alguém. Essa prática, de exploração do trabalho infantil, continuou por um bom tempo. No século XIX, os filhos das pessoas pobres costumavam trabalhar na lavoura, por exemplo, para que assim fossem vistos como cidadãos úteis, enquanto os filhos da elite tinham aulas com professores particulares (DEL PRIORE, 2001). No final do século XX, o trabalho infantil ainda era muito ocorrente e, para as classes mais baixas, continuava sendo visto com a alternativa à escola. Segundo Del Priore (2001)
O trabalho [explica uma mãe pobre] é uma distração para a criança. Se não estiverem trabalhando, vão inventar moda, fazer o que não presta. A criança deve trabalhar cedo. (P. 10)
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Ainda se pode encontrar esse problema hoje em dia. Em 2015, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), ainda havia 2.7 milhões de crianças de cinco a 17 anos em situação de trabalho infantil^7. Podemos interpretar que a criança negra e/ou pobre não tinha, e ainda luta muito para ter, uma vida considerada hoje, boa, pois, além desses problemas, como a exclusão da possibilidade de educação e o emprego como mão de obra, elas também passavam por situações de sofrimento, como abandono. Por exemplo, por volta do século XVI,
[...] um estrondoso número de bebês abandonados que eram deixados pelas mães à noite, nas ruas sujas. Muitas vezes eram devorados por cães e outros animais que viviam nas proximidades ou vitimados pelas intempéries ou pela fome (HENICK; FARIA, 2015 apud NETO, 2000, p. 107). Esse número tinha como explicação muitos fatores, dentre os quais, as dificuldades financeiras, filhos fora do casamento, filhos de senhores com suas escravas, dentre outros. Para tentar contornar essa situação foi criado um mecanismo chamado a Roda dos Expostos, onde as mulheres que queriam abandonar seus filhos poderiam fazer isso em um dos postos instalado esse sistema, para que, então, a instituição responsável pudesse cuidar do bebê. Essas instituições logo foram encerradas. Segundo Henick e Faria (2015), no Brasil, em meados do século XIX, elas iam contra o que o Estado acreditava e defendia. Por exemplo pelos novos valores de higiene aplicados na Medicina, que foram responsáveis por um novo conceito de infância (BARBOSA, 2007). Assim, as crianças passaram a ser vistas como marginais, largadas à vadiagem nas ruas, retomando a necessidade da educação. Desde então, foram sendo criadas diversas ações para cuidar da criança brasileira. Essas ações vinham do Estado, principalmente, que implementam algumas leis de proteção. Somente em 1960, as mudanças começaram a ocorrer efetivamente, com a criação da FUNABEM (Fundação do Bem-Estar do Menor), que tinha o objetivo de melhorar as condições das instituições para menores, como elaborar ações de atendimento mais eficazes^8. Consequentemente, foram instaladas nos Estados as FEBEM’s (Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor), que abrigavam as crianças abandonadas ou órfãs. Essas instituições se tornaram locais de tortura e maus tratos para os menores, induzindo o projeto ao fracasso. Já em 1988, a promulgação da Constituição Brasileira favoreceu o momento para trabalhar os direitos das crianças e seus cuidados, pois foi uma abertura democrática, chegando
(^7) Disponível em: http://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/trabalho-infantil/conceito/ Acesso em: 01 maio, (^20188) Disponível em: < https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/o-codigo-de-menores-e-o- surgimento-da-febem/43795 > Acesso em: 17 abril, 2018