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Formação de Palavras Compostas em Português: Conceitos e Características, Notas de estudo de Linguística

Neste documento, o autor aborda o conceito de palavras compostas na língua portuguesa, explicando as diferentes perspectivas de composição, como a tradicional e o cruzamento vocabular. Ele também discute as formas dependentes de palavras, como artigos e preposições, e as palavras gráficas. Além disso, o autor apresenta as diferentes estruturas de palavras compostas, como substantivo + substantivo, verbo + substantivo e verbo + verbo, e discute as diferenças entre composição por justaposição e composição por aglutinação.

O que você vai aprender

  • Quais são as diferenças entre composição por justaposição e composição por aglutinação?
  • Quais são as diferentes estruturas de palavras compostas na língua portuguesa?
  • Quais são as diferentes perspectivas de composição de palavras na língua portuguesa?
  • O que são as formas dependentes de palavras?
  • Como as palavras gráficas se relacionam com a composição de palavras na língua portuguesa?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Brasilia80
Brasilia80 🇧🇷

4.5

(73)

219 documentos

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Palavra: uma breve introdução
Neste capítulo, abordamos inicialmente o conceito de palavra de
relevância para esta pesquisa, porque confrontamos a composição tradicional com
outras perspectivas de composição, tais como o cruzamento vocabular. Além
disso, abordamos a composição na perspectiva estruturalista. Dentre seus
principais representantes, citamos Leonard Bloomfield e, na descrição do
Português, Joaquim Mattoso Câmara Jr. Na perspectiva gerativista, apresentamos
Basilio (1999) e, numa perspectiva lexicográfica, trazemos Biderman (1999).
A maior parte deste capítulo discute as palavras compostas: como são
estruturadas e a construção de sentido descritivo e metafórico. Nessa perspectiva,
apresentamos três correntes de estudiosos de nomes compostos. Em primeiro
lugar, apresentamos a abordagem tradicional de Pereira (1926) e, numa
abordagem de transição, entre a Gramática Tradicional e o Estruturalismo,
inserimos Bechara (2003). Em seguida, discorremos sobre as abordagens
estruturalistas com os autores Câmara Jr. (1985) e Carone (2002). Por fim,
discutimos as propostas de Sandmann (1991, 1996 e 1997) e Basilio (1989 e
2000a) como as abordagens mais recentes a respeito desses estudos lingüísticos.
2.1
O conceito de palavra
A palavra, na Gramática Tradicional, era considerada a unidade mínima da
análise lingüística. Conforme Basilio (1999), no Estruturalismo institui-se o
morfema como centro da análise lingüística, pois a palavra perdera seu status de
entidade principal na estrutura da língua. A partir do séc. XIX, há uma ruptura do
modelo clássico Palavra e Paradigma no qual a palavra é o centro da análise
lingüística. Esta ruptura é herdada pelo Estruturalismo Americano, cujo fundador
é Leonard Bloomfield, introdutor do morfema como a unidade básica de análise
morfológica. Ao se considerar o morfema como o objeto central das análises
morfológicas, para a autora, a precisão do conceito de palavra fica prejudicado.
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Palavra: uma breve introdução

Neste capítulo, abordamos inicialmente o conceito de palavra de relevância para esta pesquisa, porque confrontamos a composição tradicional com outras perspectivas de composição, tais como o cruzamento vocabular. Além disso, abordamos a composição na perspectiva estruturalista. Dentre seus principais representantes, citamos Leonard Bloomfield e, na descrição do Português, Joaquim Mattoso Câmara Jr. Na perspectiva gerativista, apresentamos Basilio (1999) e, numa perspectiva lexicográfica, trazemos Biderman (1999). A maior parte deste capítulo discute as palavras compostas: como são estruturadas e a construção de sentido descritivo e metafórico. Nessa perspectiva, apresentamos três correntes de estudiosos de nomes compostos. Em primeiro lugar, apresentamos a abordagem tradicional de Pereira (1926) e, numa abordagem de transição, entre a Gramática Tradicional e o Estruturalismo, inserimos Bechara (2003). Em seguida, discorremos sobre as abordagens estruturalistas com os autores Câmara Jr. (1985) e Carone (2002). Por fim, discutimos as propostas de Sandmann (1991, 1996 e 1997) e Basilio (1989 e 2000a) como as abordagens mais recentes a respeito desses estudos lingüísticos.

2. O conceito de palavra

A palavra, na Gramática Tradicional, era considerada a unidade mínima da análise lingüística. Conforme Basilio (1999), no Estruturalismo institui-se o morfema como centro da análise lingüística, pois a palavra perdera seu status de entidade principal na estrutura da língua. A partir do séc. XIX, há uma ruptura do modelo clássico Palavra e Paradigma no qual a palavra é o centro da análise lingüística. Esta ruptura é herdada pelo Estruturalismo Americano, cujo fundador é Leonard Bloomfield, introdutor do morfema como a unidade básica de análise morfológica. Ao se considerar o morfema como o objeto central das análises morfológicas, para a autora, a precisão do conceito de palavra fica prejudicado.

De acordo com Bloomfield, as unidades formais de uma língua definem-se em duas (02) categorias: (i) formas livres – que podem ocorrer isoladamente como comunicação suficiente; (ii) formas presas – que só podem ocorrer ligadas a outras. As formas presas incluem os afixos e os radicais presos, sendo que os últimos constituem o sentido incorporado à outra forma. Em descontente e agricultura , encontramos, como formas presas, o prefixo des - e a base presa agri-. Câmara Jr. alterou essa divisão, acrescentando-lhe um terceiro conceito que é o de formas dependentes. São assim denominadas porque não estruturam sozinhas um enunciado com sentido completo; contudo, em alusão à palavra a que se ligam, podem ocupar posições diversas ou permitem a intercalação de qualquer elemento lingüístico. Essas formas dependentes correspondem aos artigos, as preposições etc. Câmara Jr., o introdutor do conceito de formas dependentes na língua, define palavra como vocábulo com significação externa concentrada no radical, ou seja, constituída de semantema. Ele considera como palavras os substantivos, adjetivos, advérbios e verbos. Seguidor do Estruturalismo Americano, Câmara Jr. concorda que a palavra é uma forma livre mínima ou um lexema. Para ele, a dificuldade acontece quando não há correlação entre o vocábulo formal ou mórfico e o vocábulo fonológico. Por exemplo, entre um verbo e seu complemento clítico, como em vê-lo , ou entre o artigo e o substantivo, como em o livro. Do ponto de vista formal ou mórfico, o verbo e o pronome clítico são dois vocábulos formais, assim como o artigo e o substantivo. Mas, do ponto de vista fonológico, há apenas um vocábulo. Em Comprei frutas, pelo aspecto formal, há dois vocábulos; mas fonologicamente, existe apenas um vocábulo fonológico. Mas também ocorrem dois vocábulos fonológicos integrando somente um vocábulo formal, como em manga-rosa, em que cada vocábulo existe separadamente com seu conceito mas, ao se juntarem, constituem uma só seqüência vocabular. A composição por aglutinação, temos apenas um vocábulo formal e um vocábulo fonológico, como em aguardente , visto que há uma integração plena dos dois vocábulos, água e ardente. Na composição por justaposição, encontramos a situação contrária. São dois vocábulos fonológicos que se combinam num único vocábulo formal ou mórfico. Assim:

as palavras apresentem um modelo de acentuação com foco na tonicidade e duração. Ao comentar a conceituação da palavra fonológica, Basilio (2004) cita os pronomes clíticos, que se combinam fonologicamente a uma palavra, mesmo que morfologicamente não sejam pertencentes a essa estrutura. O mesmo ocorre com as preposições, que se juntam a uma outra palavra para formar as locuções adverbiais. O comportamento lingüístico das preposições nas locuções adverbiais corrobora a idéia da autora em considerá-las como clíticos, nos casos em que não permitem a introdução de qualquer elemento externo em sua construção, como em, a pé, locução adverbial que não correlaciona com * a todo pé. Ressaltamos que as locuções adverbiais apresentam unidade de significado e uso. Em relação às flexões verbais, a autora ainda define a palavra como uma unidade que reúne diversas formas porque as variações morfológicas do verbo provêm do tema verbal. No escopo da morfologia, há três conceitos próximos, mas distintos: palavra, vocábulo e lexema. Diante disso, Basilio (op. cit.) assegura a correspondência de verbos no infinitivo como palavra e, portanto, um lexema, pois se referem às unidades lexicais da língua. Já as variações verbais são apenas vocábulos e não comportam a conceituação de palavra nem de lexema. São também classificados como vocábulos pela autora as preposições, conjunções e verbos auxiliares. Os clíticos são termos da língua sem acentuação própria, ou seja, átonos. É exemplo de clítico a seqüência – la em chamá- la , porque se incorpora ao verbo fonologicamente, mas não integra sua estrutura morfológica. Persiste ainda essa dificuldade em definir a palavra, porque, de acordo com a autora, ao analisarmos as preposições que formam as locuções adverbiais, como, de repente , vemos que não permitem mudança de seus elementos lingüísticos nem tampouco a introdução de qualquer estrutura nova em seu interior. Sandmann (1991) define palavra, em convergência com as idéias de Basilio (2004). Afirma que são formas vocabulares diferentes, por exemplo, o singular e o plural de um mesmo lexema, como em livro e livros. Mas, se acrescentarmos um sufixo derivacional ao lexema, teremos, portanto, um novo lexema ou nova unidade lexical, sendo registrado em uma outra entrada lexical pelos lexicógrafos.

A conceituação sobre palavra num trabalho que discute a composição é importante para situarmos a dificuldade de determinar com precisão qual a melhor definição de palavra composta. Por outro lado, a necessidade de analisar o conceito de palavra pelo viés da semântica se torna indispensável, uma vez que esse aspecto da linguagem refina as informações dos níveis fonológico e morfossintático para assegurar ao termo o status de estrutura lingüística como palavra no vernáculo. Um nome composto só se considera como tal a partir do momento em que há a junção de dois nomes simples para um único referente. Isso envolve o aspecto fonológico porque cada nome simples apresenta apenas uma pauta acentual no processo de composição por justaposição; diferentemente do nome composto por aglutinação, que comporta apenas um acento o qual incide sobre o segundo nome. Esse tópico será discutido mais detalhadamente no capítulo sobre composição e cruzamento vocabular. Biderman (1999) concorda com Basilio na perspectiva de que uma seqüência fônica completa com pausa pode ser uma definição de palavra do ponto de vista fonológico. Assim, o nome composto pode ter reconhecimento formal como palavra porque comporta os traços exigidos pela fonologia, morfologia, sintaxe e semântica da língua. Adotamos o conceito de palavra apresentado por Basilio (2004), do ponto de vista gráfico, estrutural e fonológico e podemos observar que a união de dois vocábulos para a construção de uma fusão ou interposição vocabular reúne as propriedades dessa classificação. Nosso trabalho focaliza, portanto, a composição, que é construída com duas bases livres. O foco principal do trabalho, a fusão vocabular, também utiliza duas bases livres, como veremos mais tarde. Naturalmente, também existem compostos de bases presas que só constroem sentido quando uma base se junta à outra, como em biologia, filosofia, agronomia e tantos outros.

2. Palavra composta: sua formação

Nas mais reconhecidas obras gramaticais da nossa língua, encontramos diferenciadas formas de se definir o significado de um processo de formação de palavras por meio da composição. A maioria dos autores apresenta pontos de vista

funções podem ser tanto de nomeação, como em livro-caixa como de caracterização, como em meninos surdos-mudos. Ao juntarmos dois nomes, quer seja com função de nomeação quer seja caracterização, a idéia geral se concentra em um dos termos e a idéia particular no outro. Há constantemente essa relação binária. Por exemplo, no substantivo composto bóia-fria , a idéia geral está em bóia, já a idéia específica está em fria .Isto é, temos um caso de nomeação. De um modo geral, os nomes compostos são formados conforme a classe gramatical dos constituintes. Podemos encontrar as seguintes combinações de acordo com Kedhi (2005) :

substantivo + substantivo

Dois substantivos se juntam sendo que o determinado normalmente antecede o determinante nos compostos genuinamente de origem portuguesa como em navio- escola. Todavia, o determinante pode anteceder o determinado como em papel- moeda.

substantivo + preposição + substantivo

Em todas as gramáticas, essa estrutura morfológica é conhecida como um nome composto. Para alguns autores, o primeiro substantivo é o determinado; já a estrutura preposicionada é o determinante como em mula-sem-cabeça.

substantivo + adjetivo / adjetivo + substantivo

Nos nomes compostos com essa combinação, como cachorro-quente, pé- frio e boa-vida , a concordância nominal é muito evidente de forma a entendermos que se trata de uma estrutura sintático-semântica na qual o substantivo é sempre o determinado e o adjetivo é o determinante.

verbo + substantivo

Nessa estrutura, o verbo, conforme alguns autores, corresponde ao imperativo afirmativo da segunda pessoa singular.nos compostos de outrora. Porém, Kedhi (2005) analisa como a terceira pessoa do singular do presente do indicativo como em saca-rolhas, instrumento que saca rolhas. Já para outros autores, corresponde ao tema verbal, quer dizer, o radical seguido de sua vogal temática. Câmara Jr. (1985) observa que essa estrutura lingüística relaciona-se com a segunda pessoa do singular do imperativo afirmativo, entretanto acrescenta que houve uma reinterpretação semântica, visto que não há propriamente uma ordem ou algo correlato desse modo verbal com o sentido do composto envolvendo uma forma verbal no primeiro vocábulo. As composições com tal estrutura apresentam o substantivo como objeto direto do elemento primeiro, que é o verbo transitivo direto. Isso corrobora a perspectiva de que a composição é uma combinação sintática lexicalizada.

adjetivo + adjetivo

Essa construção composicional mantém o primeiro elemento com o tema em o invariável como em olhos castanho-claros e é utilizada para indicar que alguém apresenta simultaneamente duas qualidades, como em aluno luso- brasileiro, ou delimitar a significação de um dos qualificativos, como em amarelo-escuro. Além dessas estruturas, é possível encontrarmos ainda composições com:

verbo + verbo (quebra-quebra) verbo + advérbio (bota-fora) advérbio + adjetivo (sempre-viva) advérbio + substantivo (bem-querer) pronome + substantivo (Nossa Senhora) numeral + substantivo ( três-marias)

A relevância dessa estruturação lingüística é fundamental para o conhecimento primordial do que seja a composição como processo formador de vocábulos a partir da combinação de dois constituintes que fazem alusão a um só referente. Além disso, é freqüente que haja a perda do sentido de cada um dos

podem ocorrer como prefixos ao se juntarem a uma base livre mínima, diferentemente de quando ocorrem como advérbio ou preposição, pois acompanham outra base livre ou independente. (2) Já a composição por justaposição apresenta-se com a combinação de duas palavras para expressar um só objeto, ser, entidade ou idéia, preservando assim a integridade gráfica e prosódica dos dois termos constituintes da nova estrutura lingüística. Por isso, a composição por justaposição é denominada pelo autor como imperfeita ou imprópria porque, ainda que formem uma só idéia, os elementos constituintes mantêm seu acento tônico primário e forma gráfica, como ilustrado em: pombo–correio, unha-de-boi, girassol, carro-cofre e buscapé. É raro, porém, o determinante preceder o determinado como em mãe– pátria, papel-moeda , processo muito produtivo no alemão, inglês e latim, segundo o autor. Pereira (1926) apresenta a composição por justaposição de três modos: coordenação ou concordância, subordinação ou dependência e locuções ou frases verbais. A composição por justaposição por coordenação ou concordância é formada por elementos coordenados ou substantivos apostos, sendo o determinante um adjetivo ou um substantivo aposto. Em amor-perfeito , amor é o determinado, já perfeito é o adjetivo ou determinante. Diferentemente de couve- flor, em que couve funciona como o determinado, e flor se caracteriza como um substantivo aposto, que concentra a idéia específica da estrutura composicional. Nesse conjunto de vocábulos compostos, encontramos os chamados elípticos porque omitem, espontaneamente, o conectivo de ligação entre um e o outro termo. Exemplo: couve-flor é uma couve que tem a forma de flor. Ainda em referência aos compostos coordenativos, aborda-se a existência dos adjetivos compostos pelo mesmo processo da justaposição, como : histórico– cultural, afro-brasileiro. Já a composição por justaposição ainda acontece quando há a subordinação ou dependência do determinante para com o determinado, como em pé-de-boi, no qual é determinado, enquanto de-boi é o determinante. Também observamos essa ocorrência em compostos de bases presas como agricultura, que significa cultura do campo, em que cultura- é o determinado e agri- é o determinante, conforme Pereira (1926).

Por fim, o autor apresenta as locuções ou frases verbais as quais formam nomes compostos. São exemplos seus beija-flor , bota-fora , ganha-pão e pára- quedas.

(3) A composição por aglutinação, segundo o autor, acontece quando os vocábulos estão numa justaposição mais íntima de tal modo que o primeiro elemento perde sua autonomia prosódica e se funde com o elemento seguinte. São exemplos de compostos aglutinados: aguardente (água + ardente), fidalgo (filho+ de + algo), puxavante (puxa + avante), petróleo (pedra + óleo).

Para que haja a concepção de uma nova idéia com o processo de formação de palavra através da composição, é preciso analisar como os elementos estruturais de palavras se combinam, ou seja, é imprescindível a presença de dois termos para um único referente. Para o autor, o processo da composição por aglutinação é a união íntima de duas ou mais palavras para formar uma outra palavra. Nesse processo, verifica-se que não acontece a junção sem que haja prejuízo na integridade de um de seus elementos ou até nos dois elementos constituintes. Nas aglutinações, as perdas fonológicas, normalmente, acontecem no primeiro vocábulo e são mínimas, isto é, alguns fonemas se desprezam para a combinação do nome composto. Por isso, a aglutinação é denominada como um processo de composição perfeita porque há a integração das duas palavras no composto pleno.

2.2. Abordagem de Transição: Bechara (2003)

O estudioso Evanildo Bechara é apresentado nesta dissertação como um autor que transita entre uma perspectiva da gramática tradicional e uma abordagem estruturalista. Para tanto, ao trabalhar as palavras compostas em três perspectivas, como justapostas, aglutinadas e prefixais, se insere na Gramática Tradicional. Por outro lado, na medida em que ele trabalha as palavras compostas como uma junção de estruturas lingüísticas, filia-se à perspectiva estruturalista da Lingüística.

A composição por subordinação, por sua vez, apresenta algum termo dependente de outro. Quer dizer, existe algum nome funcionando como complemento de substantivo, de verbo etc. A preocupação do autor é com as funções sintáticas, quando diz que a composição tem como objetivo a função sintática. O autor acrescenta que, se os substantivos constituintes do nome composto tiverem duas formas para os dois gêneros, o segundo substantivo concordará com o gênero do determinado, como batata-rainha. Diferentemente dessa situação, não haverá concordância entre os dois substantivos se não houver distinção gênero, como ocorre em cobra-cascavel e fruta-pão. Para ele, é muito freqüente a presença de nomes compostos nos quais a preposição de é omitida naturalmente. Pontapé e porco - espinho são exemplos do autor os quais correspondem à ponta do pé e porco de espinho. Do ponto de vista da composição por subordinação, o autor distribui essas combinações em nove grupos, a saber:

a) substantivo + adjetivo (ou o contrário) obra-prima e boquiaberto b) adjetivo + adjetivo surdo-mudo c) pronome + substantivo Nosso Senhor d) numeral + substantivo onze-letras e terça-feira e) advérbio + substantivo / adjetivo / verbo sempre-viva e bem-querer f) verbo + substantivo busca-pé e passatempo g) verbo + verbo ou verbo + conjunção + verbo vaivém e leva-e-traz h) verbo + advérbio pisa-mansinho i) um grupo de palavras um Deus-nos-acuda e os disse-me-disse

Esses exemplos demonstram que a composição por subordinação é um mecanismo mais amplo do que a coordenação na Língua Portuguesa. Quanto à junção dos vocábulos, Bechara apresenta os radicais livres e os radicais presos. Para ele, os nomes compostos formados a partir de radicais livres apresentam a individualidade de cada vocábulo:

(i) na escrita, um radical se junta a outro ligados normalmente por hífen; (ii) na pronúncia, cada base livre mantém seu acento tônico, sendo considerado o mais forte o último que serve para classificar couve- flor como oxítona e guarda-chuva como paroxítona. Essas composições exemplificam a justaposição. O hífen não é um recurso consistente para explicar as palavras compostas por justaposição, como passatempo e girassol.

De forma oposta, há o processo de composição por aglutinação em que as palavras formadas com maior integração dos dois radicais ou das duas bases livres. Isso é conseqüência de três mecanismos, como:

(i) a ocorrência de apenas um acento tônico no composto; (ii) a troca ou perda de fonema; (iii) a modificação da ordem mórfica.

É um ponto relevante no texto do autor porque percebemos a preocupação para com o modo de integração dos dois vocábulos no processo de composição por aglutinação. Ou seja, há mecanismos que facilitam essa combinação, os quais devem ser especificados ao leitor no sentido de pontuar que há um processamento fônico nessas ocorrências de nomes compostos, que não ocorrem aleatoriamente. Para Bechara (2003), há um processo de adaptação tanto da primeira palavra quanto da segunda na composição por aglutinação. Para haver a aglutinação das duas palavras, convém observar os seguintes aspectos em relação à primeira palavra:

Abordagens Estruturalistas sobre Palavra Composta

A composição, processo formador de palavras, não é diferente de outros objetos de estudos lingüísticos, porque está sujeita às diversas abordagens descritivas propostas pelos lingüistas. Esse processo lexical é apresentado pela visão tradicional de Pereira (1926) que o divide em três maneiras, como prefixação, justaposição e aglutinação e Bechara (2003), gramático em transição entre a Gramática Tradicional e o Estruturalismo, divide-o de duas maneiras, como abordamos anteriormente, em justaposição e aglutinação. Por outro lado, introduzimos as abordagens dos lingüistas estruturalistas Câmara Jr. (1985) e Carone (2002), que trabalham com a mesma perspectiva teórica, mas com pontos de vista diferentes sobre as palavras compostas. Câmara Jr. define o processo de composição como “uma associação significativa e formal entre duas palavras, e daí resulta uma palavra nova, em que se combinam as significações das que as constituem” (p. 211). Para ele, o processo de composição pelo aspecto fonológico ocorre em três perspectivas, como: a justaposição, a aglutinação e a prefixação. A composição por justaposição acontece pela união de dois vocábulos fonológicos, cada um com seu acento; na composição por aglutinação ocorre apenas num único elemento fonológico. A prefixação será abordada mais adiante em suas especificidades. O primeiro modelo de estrutura composicional acontece quando o segundo elemento é um adjetivo ou substantivo, porém concorda em gênero e número com o substantivo, o qual é o primeiro constituinte. São exemplos do autor: obra-prima e parede-mestra. Nesse grupo, o autor inclui os nomes compostos que designam os dias de semana, como segunda-feira , e as formas apocopadas dos adjetivos recente e grande em grão-duque , grã-duquesa e recém-formado. Embora essas primeiras estruturas lingüísticas – grão, grã e recém – não variem em número, ocorre a flexão de gênero em grão e grã. O segundo modelo apresentado por Câmara Jr. (1985) diz respeito aos compostos cuja estrutura é a combinação de dois substantivos em que o segundo caracteriza o primeiro sem que lhe seja subordinado por meio da preposição de. Para ele, esse padrão de nome composto é uma variação do anterior. Exemplifica

com os nomes mestre-escola e couve-flor. Insere ainda os compostos estrada de ferro e oficial de justiça como pertencentes a esse grupo. Um terceiro modelo de nomes compostos, conforme o autor, é o que se constitui de um primeiro elemento que é verbo seguido de um vocábulo como objeto direto. A forma verbal é rizotônica e seu tema constitui a segunda pessoa do singular do imperativo afirmativo. De acordo com esse lingüista, se essa for a explicação do surgimento desses nomes, provavelmente, houve uma nova reinterpretação semântica, como já comentado anteriormente. Câmara Jr. ressalta que a tendência natural dos nomes compostos é se integrarem de tal modo um no outro que a flexão de número só ocorrerá no último vocábulo, como em planalto – planaltos e passatempo - passatempos. De acordo com o autor, a Língua Portuguesa sofreu uma significativa perda dos compostos, denominados por Basilio (2004) de bases presas, como agrícola “aquele que cultiva o campo”. Por fim, ele comenta o último processo de composição que é por prefixação. Acrescenta que é um processo genuinamente do Português o qual inclui a criação de verbos e nomes. A composição por prefixação, embora seja uma das subdivisões do processo composicional, utiliza os mecanismos da justaposição e aglutinação a partir de três recursos lingüísticos, tais como:

(a) Partículas que exercem também papel de preposição; (b) As partículas variantes das preposições; (c) As partículas que atuam exclusivamente como prefixos.

São exemplos de palavras compostas por prefixação em Câmara (1985):

(i) por justaposição – antepor (preposição ante + verbo pôr), menosprezar (advérbio menos + verbo prezar) e inapto (prefixo in- + adjetivo apto); (ii) por aglutinação – sobrescrito (preposição sobre + adjetivo escrito), bidestro (advérbio bis + adjetivo destro) e imaturo (prefixo in- + maturo).

(i) verbo+verbo= vaivém, leva-e-traz; (ii) adjetivo+adjetivo= castanho-claro, rubro-negro.

A autora não aborda, em composição por coordenação, os nomes compostos formados por substantivo e substantivo. Ou seja, esse tipo de junção só ocorre, para ela, quando há a dependência de um para com o outro substantivo. Assim, cantor-compositor não é incluído em sua análise porque não existe dependência entre os substantivos. Também acrescentamos que a formação de compostos cuja estrutura é uma oração não interessa a este texto, porque focamos apenas composições com duas palavras, já que o foco desta dissertação é a fusão ou interposição vocabular, a qual só trabalha com duas palavras.

2.2. Abordagens Recentes sobre Palavra Composta

Após a evolução dos estudos estruturalistas, outras vertentes da Lingüística surgem com o objetivo de propor novas análises lingüísticas. Nesse caso, temos Basilio (1989 e 2000a) com a abordagem a respeito da composição descritiva e figurativa; e Sandmann (1991 e1997) apresenta um estudo sobre o processo de composição focalizando os compostos vernáculos versus não-vernáculos; copulativos versus determinativos e exocêntricos versus endocêntricos. Ressaltamos a importância dos estudos desses autores em Morfologia já que são escassos os estudiosos nessa área no Brasil e os trabalhos desenvolvidos sobre o processo de formação de palavras denominado composição.

2.2.5. As Propostas de Sandmann

2.2.5.1. Compostos vernáculos e compostos não-vernáculos

De acordo com Sandmann (1991), na estruturação composicional em que aparecem substantivo + substantivo, há dois modelos de formação lexical, que são: os compostos vernáculos cuja combinação é de determinado (DM) e

determinante (DT). Para ele, isso acontece quando a idéia geral está centrada no primeiro substantivo e a idéia específica centraliza-se no segundo substantivo. Por exemplo, em trem-bala , temos a união de dois substantivos, sendo que o primeiro apresenta a idéia central, isto é, é o determinado – trem -, e bala , o segundo substantivo traz a idéia específica, portanto é o determinante. Essa padronização de formação de nomes compostos é tipicamente portuguesa. Já os compostos não-vernáculos ou neoclássicos constituem uma seqüência de determinante (DT) e determinado (DM) os quais surgem freqüentemente nos meios de comunicação, tais como Eurocopa , maricultura, essa última composição se refere à criação de seres marinhos. A forma de o determinante anteceder o determinado é típica, segundo o autor, de compostos do Grego, como em psicologia e do Latim, agricultura.

2.2.5.1. Compostos copulativos e determinativos

Para Sandmann (1991, 1996), o substantivo composto copulativo ou coordenativo serve para rotular em algum ser qualidades menores ou mais específicas. Nesse tipo de composto, um elemento não se subordina ao outro, havendo inclusive, estruturas com mais de dois vocábulos, tais como, hortifrutigranjeiro ; ou ainda elementos gregos numa só palavra, como em andrógino. Ainda encontramos nomes compostos como, cantor-compositor, copeira-arrumadeira e copeiro-arrumador. Nesses exemplos, percebemos não haver dependência entre os dois substantivos. O autor afirma ainda que a ordem do composto determinativo é determinado (DM) -determinante (DT), de tal forma que, se houver dúvida quanto ao tipo de papel, isto é, se for de coordenação ou subordinação, basta apenas fazermos uma paráfrase do composto, como em trem-bala. Ou seja, refere-se a um trem cuja velocidade é proporcional à de uma bala. Se houver a mudança dos elementos constituintes do composto, não haverá o mesmo sentido, logo não corresponderá à realidade. Ele exemplifica esse caso com a palavra composta meia-calça cuja paráfrase é “meia em forma de calça” pode ser também calça- meia que, em termos teóricos, não altera a situação de nome, pois é coordenativo