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2 - Língua e Linguagem, Esquemas de Linguística

Existem vários estudos a respeito da língua, pois, trata-se de um assunto de considerável ... cada cérebro”, manifesta-se em duas formas: na fala e escrita.

Tipologia: Esquemas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Saloete
Saloete 🇧🇷

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Universidade Estadual de Ponta Grossa
Setor de Ciências Humanas Letras e Artes
Licenciatura em Letras/ Espanhol
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de graduado
em Letras Português/Espanhol da Universidade Estadual de Ponta Grossa
A INTENCIONALIDADE NA PROPAGANDA PUBLICITÁRIA
SOLTES, Vania
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RAUPP, Eliane Santos
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RESUMO: Língua e linguagem são meios pelos quais todos nós, falantes, nos
comunicamos e são comuns a todos os seres humanos. Através das mesmas torna-
se possível nossa interação social. Por elas é possível expressar, compartilhar,
expor nossas ideias, pensamentos e opiniões. Opiniões essas que estão contidas de
um fator linguístico importante, a intencionalidade. Por meio delas, é possível
argumentarmos e persuadirmos outras pessoas. Tal fator linguístico está sempre
presente em nossos atos comunicativos, sejam eles escritos ou falados, mas, na
maioria das vezes, utilizamos esses atos inconscientemente. Todavia, existem meios
que utilizam a intencionalidade como ferramenta principal, ou seja, utilizam-na
conscientemente. Deparamo-nos com a intencão, facilmente, na esfera da
publicidade, em propagandas publicitárias. Nesse gênero, encontramos a
intencionalidade como um fator persuasivo, além disso, é possível verificar a grande
evolução da nossa língua e linguagem, pois as propagandas tem o intuito de vender
um produto, e, para isso acontecer, irá utilizar-se da linguagem. Este trabalho
pretende, assim, abordar a questão da intencionalidade como um fator de
textualidade, inerente à linguagem e determinante do gênero propaganda.
PALAVRAS CHAVES: Língua e Linguagem Intencionalidade - Propaganda
RESÚMEN: Lengua y lenguaje son medios por los cuales todos los hablantes nos
comunicamos, y son comunes a todos los seres humanos. A través de las mismas
se haz posible nuestra interacción social. A través de ellas es posible expresar,
compartir, exponer nuestras ideas, pensamientos y opiniones. Opiniones esas que
llevan un factor lingüístico importante, la intencionalidad. Por medio de ellas, es
posible argumentar y persuadir otras personas. Tal factor linguístico está siempre
presente en nuestros actos comunicativos, sean ellos escritos o hablados, pero, casi
siempre, utilizamos eses actos de modo inconsciente. Sin embargo, hay medios que
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Vania Soltes: acadêmica do quarto ano do curso de Licenciatura em Letras Português/ Espanhol, na
Universidade Estadual de Ponta Grossa
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Eliane Santos Raupp: Professora Mestre, Orientadora (UEPG)
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Universidade Estadual de Ponta Grossa

Setor de Ciências Humanas Letras e Artes

Licenciatura em Letras/ Espanhol

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de graduado em Letras Português/Espanhol da Universidade Estadual de Ponta Grossa

A INTENCIONALIDADE NA PROPAGANDA PUBLICITÁRIA

SOLTES, Vania^1

RAUPP, Eliane Santos^2

RESUMO: Língua e linguagem são meios pelos quais todos nós, falantes, nos comunicamos e são comuns a todos os seres humanos. Através das mesmas torna- se possível nossa interação social. Por elas é possível expressar, compartilhar, expor nossas ideias, pensamentos e opiniões. Opiniões essas que estão contidas de um fator linguístico importante, a intencionalidade. Por meio delas, é possível argumentarmos e persuadirmos outras pessoas. Tal fator linguístico está sempre presente em nossos atos comunicativos, sejam eles escritos ou falados, mas, na maioria das vezes, utilizamos esses atos inconscientemente. Todavia, existem meios que utilizam a intencionalidade como ferramenta principal, ou seja, utilizam-na conscientemente. Deparamo-nos com a intencão, facilmente, na esfera da publicidade, em propagandas publicitárias. Nesse gênero, encontramos a intencionalidade como um fator persuasivo, além disso, é possível verificar a grande evolução da nossa língua e linguagem, pois as propagandas tem o intuito de vender um produto, e, para isso acontecer, irá utilizar-se da linguagem. Este trabalho pretende, assim, abordar a questão da intencionalidade como um fator de textualidade, inerente à linguagem e determinante do gênero propaganda.

PALAVRAS CHAVES: Língua e Linguagem – Intencionalidade - Propaganda

RESÚMEN : Lengua y lenguaje son medios por los cuales todos los hablantes nos comunicamos, y son comunes a todos los seres humanos. A través de las mismas se haz posible nuestra interacción social. A través de ellas es posible expresar, compartir, exponer nuestras ideas, pensamientos y opiniones. Opiniones esas que llevan un factor lingüístico importante, la intencionalidad. Por medio de ellas, es posible argumentar y persuadir otras personas. Tal factor linguístico está siempre presente en nuestros actos comunicativos, sean ellos escritos o hablados, pero, casi siempre, utilizamos eses actos de modo inconsciente. Sin embargo, hay medios que

(^1) Vania Soltes: acadêmica do quarto ano do curso de Licenciatura em Letras Português/ Espanhol, na Universidade Estadual de Ponta Grossa (^2) Eliane Santos Raupp: Professora Mestre, Orientadora (UEPG)

utilizan la intencionalidad como herramienta principal, o sea, la utilizan de modo consciente. Nos deparamos con la intencionalidad, fácilmente, en la esfera de la publicidad, en propagandas publicitarias. En ese género, encontramos la intencionalidad como un factor persuasivo, además, es posible verificar la grande evolución de nuestra lengua y lenguaje, pues en las propagandas hay la intención de hacer la venta de un producto, y, para eso ocurrir, irá utilizarse del lenguaje. Este trabajo procura, así, abordar la cuestión de la intencionalidad como un factor de textualidad, inherente a el lenguaje y determinante del género propaganda.

PALAVRAS CLAVES: Lengua y lenguaje – Intencionalidad - Propaganda

1. Introdução Deparamo-nos todos os dias com inúmeras situações em que nossos atos são decisivos. Ter uma opinião consistente é um passo determinante nessas ocasiões. Para que isso ocorra existem diversos fatores que podem nos ajudar a ser mais firmes em nossas posturas e mais convincentes em nossas atuações. A linguagem é uma ferramenta que está presente a todo o momento em nossas vidas. Compreender seus usos e funções deveria ser uma obrigação a todos nós, mas, sabemos que nem sempre é assim. É visível que a falta de conhecimento da relação linguagem e poder, de seus usos e funções existe, levando em consideração vários exemplos de pessoas que atribuem ao “mau uso da nossa linguagem” ao “fracasso como cidadão”. Mas, não saber usá-la não significa não saber compreendê-la. Não saber utilizar a língua, de acordo com os padrões exigidos pela mídia, elite e “defensores” da norma, não significa não saber compreendê-la. Estamos em um século cheio de inovações e avanços tecnológicos que exigem de nós um acompanhamento para com a nossa escrita, gírias, nossa fala, e principalmente se estamos incluídos nessa modernidade intensa dos dias atuais. Hoje, as mais variadas situações chegam a nós quando menos esperamos. Isso requer que cada pessoa se faça ainda mais crítica e se questione sobre determinadas situações. Sabemos que as mídias: televisão, revista, rádio e internet estão, a todo o momento, ao nosso alcance e a nossa vista, e que a linguagem é a ferramenta principal desses veículos. A linguagem é o meio de interação que conecta quem está produzindo ao seu público, o qual irá ver ou ouvir a mensagem. De qualquer modo, esta mensagem será lida.

ocorrem através da língua temos que ter um conhecimento prévio, básico, ou seja, retomar alguns conceitos sobre língua e linguagem. Sendo assim, o estudo inicia apresentando alguns modos de se conceber a língua e a linguagem para apontar que a propaganda, por ser um gênero textual relativamente novo, concebe a linguagem em sua forma de interação, pois, muito mais que congregar estruturas gramaticais, a propaganda congrega sentidos, tendo em vista a intenção que ela tem de persuadir seu interlocutor. Para sustentar o estudo, procurou-se abordar alguns referenciais teóricos entre eles os destacados por Koch, Sandmann, Bazerman, Costa Val, Antunes, Ceccato e Sytia. Após a leitura desses teóricos, foi feita uma análise de duas propagandas: a primeira, oferta uma máquina de lavar louças, e, a segunda, um aparelho celular. O intuito dessa análise é refletir sobre a intencionalidade no gênero textual propaganda.

2. Conceitos de língua e linguagem Considerando a língua como um meio de comunicação de todos os falantes do mundo, é necessário estabelecer certas considerações sobre ela, pois esta, vai muito além de ser apenas um objeto de uso dos falantes, ela é, também, um objeto de poder. Olhando a primeira vista parece difícil definirmos ou chegarmos a um conceito sobre o que seja língua. Existem vários estudos a respeito da língua, pois, trata-se de um assunto de considerável complexidade. Cabe aqui apenas estabelecer conceitos básicos que possam mostrar os modos diferentes de se conceber a língua e perceber como o gênero propaganda a concebe. Para isso, será feita uma breve retomada de alguns conceitos sobre Língua e Linguagem, para que o foco desse estudo seja melhor compreendido.

2.1. Concepção estrutural

Mas o que é língua? Para nós, ela não se confunde com a linguagem; é somente uma parte determinada, essencial dela, indubitávelmente. É ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. Tomada em seu todo, a

linguagem é multiforme e heteróclita; a cavaleiro de diferentes domínios, ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica (...). (Saussure, 1970, p. 17)

Língua, segundo Saussure “é um objeto de natureza concreta, o que oferece grande vantagem para seu estudo” (Saussure, 1970,23). A língua é um “sistema de signos” um conjunto de unidades, ocorrendo uma relação entre significante (imagem acústica) e o significado (conceito). Partindo do ponto de vista de Saussure: A língua existe na coletividade sob a forma duma soma de sinais depositados em cada cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos exemplares, todos idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos. Trata- se, pois, de algo que está em cada um deles, embora seja comum a todos e independa da vontade dos depositários (Op. Cit. 1970, p.27).

Logo, essa “coletividade sob a forma duma soma de sinais depositados em cada cérebro”, manifesta-se em duas formas: na fala e escrita. Através da fala e da escrita é possível notar a dimensão histórica da língua, por meio do seu caráter social. A língua existe desde os primórdios, nascemos com ela já imposta, já feita e muito bem definida por seus usuários, ela é comum a todos os seres humanos e é através da língua que podemos nos comunicar com diversas pessoas, de diversos países, continentes e hemisférios. Segundo Saussure: Língua e escrita são dois sistemas distintos de signos; a única razão de ser do segundo é representar o primeiro; o objetivo linguístico não se define pela combinação da palavra escrita e da palavra falada; essa última, por si só, constitui tal objeto. Mas a palavra escrita se mistura tão intimamente com a palavra falada, da qual é a imagem, que acaba por usurpar-lhe o papel principal; terminamos por dar importância à representação do signo vocal do que ao próprio signo. É como se acreditássemos que, para conhecer uma pessoa, melhor fosse contemplar-lhe a fotografia do que o rosto (Saussure 1970, p.34).

Para esclarecer a idéia do que seria língua, na perspectiva estruturalista, apresentamos mais uma citação de Saussure: A língua é um sistema de signos que exprimem idéias, e é comparável, por isso, à escrita, ao alfabeto dos surdos-mudos, aos ritos simbólicos, às formas de polidez, aos sinais militares etc., etc. ela é apenas o principal desses sistemas (SAUSSURE, 1970, p.24).

“O mestre genebrino concebia a língua como um fenômeno social, mas analisava-a como um código e um sistema de signos” (MARCUSCHI, 2008, p. 27).

Daí surgiu a linguística como ciência autônoma, separando-se dos estudos históricos, da psicologia, da filologia e literatura, áreas nas quais se achava integrado o estudos das línguas (1970, p. 27)

2.1.2. Concepção histórica, social e interativa

É simplesmente notável a evolução da língua. Já se passaram vários anos após os estudos realizados por Saussure e surgiram muitos aspectos em relação à língua que tornam impossível dizer que a mesma permanece intacta, ou que ela é homogênea e autônoma e, diante de tantas evoluções sociais e históricas ocorridas, não pode mais ser vista apenas como um objeto de estudo isolado, sem que se considerem as suas condições de uso.

Com efeito, a compreensão do fenômeno linguístico como atividade, como um dos fazeres do homem, puxou os estudos da língua para a consideração das intenções sociocomunicativas que põem os interlocutores em interação; acendeu, além disso, o interesse pelos efeitos de sentido que os interlocutores pretendem conseguir com as palavras em suas atividades de interlocução, trouxe para a cena dos estudos mais relevantes o discurso e texto, desdobrados nas suas relações com os sujeitos atuantes, com as práticas sociais e com as diferentes propriedades que asseguram seu estatuto de macrounidade da interação verbal (ANTUNES, 2009, p.20).

Assim, a língua passa a ser vista e estudada (ANTUNES, 2009, p.21) em seus contextos de uso, o que implica dizer nas manifestações linguísticas – produção e expressão – de cada comunidade de falantes, deixando de ser vista apenas como um signo contido de significante e significado, e até mesmo um conjunto de regras gramaticais. Passa a ser uma ponte na qual nos interligamos a outras culturas, pessoas, histórias, pois está inserida na vida de todos os falantes. O que nos une a todas as outras comunidades lingüísticas é a língua. O interessante de tudo isso é que a língua contém características próprias e peculiares e, sendo assim, passa a ser como todos nós, seres humanos, que acompanhamos a evolução, o caminhar da humanidade. Diante de tantas mudanças não se pode imaginar uma língua intacta, imóvel, inflexível. A língua é, assim, um grande ponto de encontro; de cada um de nós, com os nossos antepassados, com aqueles que, de qualquer forma, fizeram e fazem a nossa história. Nossa língua esta embutida na trajetória de nossa memória coletiva. Daí, o apego que sentimos à nossa língua, ao jeito de falar e nosso grupo. Esse apego é uma forma de selarmos nossa adesão a esse grupo (ANTUNES, 2009, p.23)

Marcos Bagno (2002, p.24,25) em seu livro, no qual também reflete sobre a língua, vem tentar defini-la através de conceitos apresentados por Marcuschi (2000): a) A língua apresenta uma organização interna sistemática que pode ser estudada cientificamente, mas ela não se reduz a um conjunto de regras de boa-formação que podem ser determinadas de uma vez por todas como se fosse possível fazer cálculos de previsão infalível. As línguas naturais são dificilmente formalizáveis. b) A língua tem aspectos estáveis e instáveis, ou seja, ela é um sistema variável, indeterminado e não fixo. Portanto, a língua a apresenta sistematicidade e variação a um só tempo. c) A língua se determina por valores imanentes e transcendentes de modo que não pode ser estudada de forma autônoma, mas deve-se recorrer ao entorno e à situação nos mais variados contextos de uso. A língua é, pois, situada. d) A língua constrói-se com símbolos convencionais, parcialmente motivados, não aleatórios, mas arbitrários. A língua não é um fenômeno natural nem pode ser reduzida à realidade neurofisiológica. e) A língua não pode ser tida como um simples instrumento de representação do mundo como se dele fosse um espelho, pois ela é constitutiva da realidade. É muito mais um guia do que um espelho da realidade. f) A língua é uma atividade de natureza sócio-cognitiva, histórica e situacionalmente desenvolvida para promover a interação humana. g) A língua se dá e se manifesta em textos orais e escritos ordenados e estabilizados em gêneros textuais para uso das situações concretas. h) A língua não é transparente, mas opaca, o que permite a variabilidade de interpretação nos textos e faz da compreensão um fenômeno especial na relação entre os seres humanos. i) Linguagem, cultura, sociedade e experiência interagem de maneira intensa e variada não se podendo postular uma visão universal para as línguas particulares.

Sendo assim, podemos concluir que a língua é versátil e impossível de ser estudada isoladamente, já que se trata de uma ferramenta de comunicação e interação a todos os seres falantes. “Na verdade a língua que falamos deixa ver quem somos. De certa forma ela nos apresenta aos outros. Mostra a que grupo pertencemos. É uma espécie de atestado de nossas identidades” (ANTUNES, 2008, p. 23). A linguagem é realmente o nosso meio de interação social.

Assim, pode-se dizer que a linguagem é constituída totalmente de caráter argumentativo, pois com ela podemos estabelecer relações, opiniões, comportamentos, interagir na sociedade e atuar sobre ela. Língua e linguagem tornam-se assim uma ferramenta, as quais usamos e abusamos a nosso favor (ou não), “forma de ação, ação sobre o mundo dotada de intencionalidade, veiculadora de ideologia, caracterizando-se, portanto, pela argumentatividade” (KOCH, 1996 p.17). Isso significa que, quando utilizamos a linguagem queremos não só expressar algo, mas, fazer algo, provocar no outro alguma reação. Nesse sentido, fica claro que todo o nosso dizer é constituído de uma intenção.

3. Intencionalidade: um fator da textualidade Sabemos que intrínsecos a uma construção textual estão elementos discursivos e textuais que são fundamentais à construção dos sentidos do texto. Costa Val, embasada em Beaugrande e Dressler (1983), aponta alguns fatores relacionados a esses aspectos:

Chama-se textualidade ao conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto, e não apenas uma sequência de frases. Beaugrande e Dressler (1983) apontam sete fatores responsáveis pela textualidade de um discurso qualquer: a coerência e a coesão , que se relacionam com o material conceitual e lingüístico do texto, e a intencionalidade , a aceitabilidade , a situacionalidade , a informatividade e a intertextualidade , que têm a ver com os fatores pragmáticos envolvidos no processo sociocomunicativo (Costa Val, 2006 p. 5)

Dentre esses cinco fatores pragmáticos mencionados por Beaugrande e Dressler, citados por Costa Val (2006), nos deteremos a estudar a intencionalidade, que juntamente com a aceitabilidade é o protagonista do ato sócio comunicativo. Vejamos o que assevera Costa Val sobre a intencionalidade:

A intencionalidade concerne ao empenho do produtor em construir um discurso coerente, coeso e capaz de satisfazer os objetivos que tem em mente numa determinada situação comunicativa. A meta pode ser informar, ou impressionar, ou alarmar, ou convencer, ou pedir, ou ofender, etc., e é ela que vai orientar a confecção do texto. (Costa Val, 2006 p.10;11).

Portanto, a linguagem é dotada de intencionalidade, uma vez que todo sujeito utiliza-se da argumentação para expressar, expor, compartilhar ideias ou pensamentos. Sendo assim, todo ato de fala é perpassado por uma intenção. Em outra perspectiva, Costa Val (2006), analisa a intencionalidade como sendo de valor ilocutório de um discurso, elemento de maior importância no jogo de atuação comunicativa. Como afirma a autora, a intencionalidade se diz de um valor ilocutório, ou seja, de fazer um pedido ou prometer algo, por meio de alguns signos que nos remetem a essa ideia de convencer, afirmar, sugerir, entre outros. É necessário observar que nem sempre um discurso é contido cem por cento de veracidade. Podemos fazer com que um discurso se pareça real, verdadeiro para nosso interlocutor, mesmo que não seja, pois podemos utilizar os mecanismos que a linguagem nos oferece para persuadir, para cumprir com nossos objetivos e intenções. A intencionalidade está inserida em todos os atos comunicativos. Porém, no uso cotidiano da linguagem o fator intencional é utilizado inconscientemente. Nas propagandas publicitárias, ao contrário, é algo proposital, já que é a intenção que move o discurso publicitário, como afirma Koch:

(...) por meio do discurso - ação verbal dotada de intencionalidade – tenta influir sobre o comportamento do outro ou fazer com que compartilhe determinadas de suas opiniões. É por esta razão que se pode afirmar que o ato de argumentar , isto é, de orientar o discurso no sentido de determinadas conclusões, constitui o ato linguístico fundamental, pois a todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia , na acepção mais ampla do termo. A neutralidade é apenas um mito: o discurso que se pretende “neutro”, ingênuo, contém também uma ideologia – a da sua própria objetividade (Koch, 1996 p.19).

As propagandas publicitárias encontram-se expostas em outdoors, revistas, rádios, televisões, internet, panfletos, sejam elas escritas ou faladas. Nota-se que esses meios midiáticos utilizam-se da linguagem que não apenas comunica, mas convence, persuade, interfere na opinião das pessoas, que a esses meios estão expostas (SITYA, 1995). A intencionalidade, nessa perspectiva, tem como seu objeto principal, a argumentação persuasiva que age por intermédio do discurso.

Publicidade deriva de público, do que é feito em público. Significa o ato de divulgar um fato ou uma ideia. Esse é conceito que comumente é apregoado em revistas, jornais, outdoors, comerciais televisivos, etc. Por outro lado, propaganda define-se como propagação de princípios, ideias e teorias, principalmente políticas e religiosas. (...) desta forma, é possível constatar que a propaganda visa a persuadir as pessoas, enquanto a publicidade objetiva a divulgação de algo. Entretanto, o anúncio destina-se a promover vendas (...) (CECCATO, 2001 p. 11).

Sabemos que, hoje, a propaganda utiliza-se de diversos meios de repercussão, imagens, jornais, rádios, sons e, principalmente, a televisão como um de seus mais fortes recursos, mas nos deteremos aqui somente à, a linguagem da propaganda escrita. A linguagem da propaganda enfrenta o maior dos desafios: prender, como primeira tarefa, a atenção desse destinatário. Tendo conseguido que o comunitário se ocupe com determinado texto, convencê-lo ou levá-lo em consequência à ação possivelmente são tarefas ou desafios menores (Sandmann, 1993 p. 12)

Fazer uma propaganda escrita em que não se utilizam recursos auditivos é muito mais complexo, pois o texto tem de prender a atenção do leitor, se isso não ocorrer, consequentemente, o texto não irá convencer o leitor e o resultado desejado não será obtido. Não se pode mais pensar em propaganda como um fenômeno isolado. Ela faz parte do programa geral da comunicação e está em constante envolvimento com fenômenos paralelos, onde colhe subsídios [...] (Sant’ Anna, 1929, p. 1).

É preciso observar a linguagem da propaganda, seus recursos, seus efeitos e sua intenção relacionado-a ao seu contexto. A propaganda publicitária é um campo propício para se observar o emprego da intencionalidade, porque a linguagem da propaganda tem como característica básica convencer, persuadir, interferir nas opiniões, por meio da argumentação, da interação social, da comunicação direta, dentre outros. Sytia (1995, p. 5) reforça essa questão dizendo que, além de comunicar e interagir, toda linguagem tem sua intenção, tem a sua intencionalidade, sempre com um propósito: A linguagem é, pois, dotada de intencionalidade que visa influenciar o comportamento ao interlocutor, o que vem caracterizar o ato de elocução (Sitya 1995: p. 15).

A intencionalidade no âmbito publicitário vem intensificar determinadas “verdades” ao interlocutor, ela está presente no dia a dia de todos os falantes, em qualquer situação, pois sempre estamos tentando convencer, persuadir, influenciar os outros, mesmo que seja de modo sutil ou até inconsciente e, na propaganda publicitária, a intencionalidade passa a ser ferramenta principal, ou seja, tudo tem o seu porque e um porquê. Sendo assim, ninguém irá falar por falar, dizer por dizer. Há sempre uma intenção, constituída de um valor social. A linguagem passa a ser vista como atividade social. Abarcá-la nesta complexidade representa entender o seu funcionamento, ou seja, entender como os elementos linguísticos aí se inserem, como as unidades significativas são articuladas na superfície do texto para conduzirem a uma determinada orientação argumentativa, que não se encontra na linearidade do texto (Sitya, 1995, p.21)

Como afirma Sitya (1995) “as palavras servem apenas como pistas que auxiliam a captar as inferências e a orientação argumentativa de um texto”. E assim ocorre com a linguagem de uma propaganda – marcada pela intencionalidade – na qual os próprios leitores vão construindo um sentido, descobrindo a intenção do texto, a mensagem que a propaganda quer transmitir.

4. Análise das propagandas

4.1 Propaganda - P

Como vimos as propagandas possuem um caráter interativo muito intenso, em que a comunicação, a troca de ideias e a persuasão são intensas. Isso é visível pelo frequente uso da linguagem intencional. Na propaganda 1 - (anexo1), a linguagem é direta. Ocorre o uso da imagem, mas esta não é o mais importante, a imagem vem assessorar o texto; o objetivo da propaganda, que é vender um produto. O fator linguístico predomina principalmente pela apresentação do discurso que está em destaque, o qual já chama a atenção do leitor para a leitura da propaganda e procurar saber do que se trata. A propaganda vem colocar em cheque o papel da mulher. Nesse caso, a mulher casada, que faz

4.2. Propaganda P

Analisaremos agora uma propaganda de um aparelho celular da Black Berry. Uma produção mais recente, do ano de 2009. (anexo -2) A propaganda utiliza uma linguagem moderna e mais recente, já que passaram alguns anos e várias mudanças ocorreram: mudanças de tecnologia, de ideias, de gostos, de estilos, que acabam refletindo em algumas mudanças de linguagem. Do mesmo modo que a Propaganda 1, a Propaganda 2, instiga o leitor e, claro, quer vender um produto. Mostra-nos que, através de um celular, pode-se estar “junto” muito mais do que quando realmente se está “perto”. Ainda questiona a situação de estar junto, induzindo a pensarmos que, mesmo quando não estamos presentes é possível estarmos “pertinho”, através da conectividade, de torpedos e redes sociais como o facebook, twitter e messenger. Coloca em questionamento a ideia do que seria realmente estar junto; será que é realmente necessário estar perto? “Chegue junto” é o slogan da propaganda; a partir dele é apresentado o produto a ser vendido juntamente da operadora que oferece os serviços a Claro. Desse slogan, já é possível ter visão da intencionalidade, através do verbo utilizado. Verbo que está no imperativo, dando ideia de ordem, para dar um enfoque maior para mensagem a ser passada. Tais facetas são muito comuns em propagandas, já que a arma é a linguagem e quem direciona é a intencionalidade. “Chegue junto” através de seu aparelho telefônico, chegue junto de seus amigos, de pessoas que fazem alguma diferença em sua vida. A própria propaganda vem intensificar a idéia de que um simples celular pode unir pessoas, vem tentar reafirmar esse conceito: “E é por isso que desenvolvemos o novo Black Berry Curve com, tanto amor. Só porque vocês não estão juntos. Isso não quer dizer que vocês não possam ficar juntos”. A propaganda persuade através do conceito sobre celular, o de que este aproxima pessoas, pois, muitas pessoas tem em mente a visão de que utilizar-se do mesmo acaba afastando e não aproximando. A propaganda vem dizer o contrário. O

celular aproxima, nos faz ficar “junto” das pessoas que queremos por perto, por meio de torpedos, que são possíveis de enviar através do aparelho e por meio da conectividade (internet). Chegar junto por intermédio das redes sociais é um meio pelo qual as pessoas se comunicam quando não podem estar presentes, face a face. A solução é, então, o novo Black Berry. É essa a intenção da propaganda. O que fortifica essa intenção não é somente o texto utilizado, mas o uso de uma linguagem coloquial, simples que chega ao encontro do leitor por meio de palavras de fácil compreensão, pois fala de fatos cotidianos, como contar segredos, falar sobre paqueras com alguém, acontecimentos íntimos de todos nós. Além disso, utiliza-se de aspectos gramaticais da linguagem como uma pontuação bem empregada, verbos, vocabulário jovem, posicionamento do texto, juntamente com a imagem que conclui a ideia do texto. Pode-se dizer que a imagem concretiza a intenção do texto, já que assim como a outra propaganda, a imagem não é o fator principal, as imagens apenas complementam os propósitos das propagandas. O mérito, o sucesso dessa propaganda, assim como a propaganda 1, é tomado totalmente pela linguagem utilizada, a maneira com que são posicionadas e formadas as palavras dentro do discurso; são essas que fazem a propaganda acontecer, dando uma fortificação na repercussão das mesmas. São palavras que selecionadas intencionalmente agradam os olhares dos leitores e, sutilmente, modificam o modo de ver e a opinião desses interlocutores.

5. Considerações finais Tal pesquisa veio mostrar aspectos de nossa língua e linguagem que estão presentes em nosso cotidiano e que não recebem a devida importância, pois a maioria das pessoas tem em mente que muitos estudos relacionados à nossa língua são chatos, difíceis, exigem conceitos gramaticais ou estão relacionados com literatura, assuntos que não são de gosto da grande maioria das pessoas. Fato que causa-me indignação já que se trata da nossa própria língua. Esse estudo procura mostrar outra visão, expandir conhecimentos, dar um novo olhar a nossa língua, relacionando-a com um gênero curioso de agrado a todos, que desperta a atenção e que principalmente nos faz consumir. Por

Referências

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