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Este texto discute a importância da literatura infantil no processo de ensino e aprendizagem, utilizando o picapau amarelo de monteiro lobato como exemplo. O autor destaca a interdisciplinaridade, a importância da diversidade cultural e a autonomia dos alunos na compreensão de obras literárias.
Tipologia: Notas de estudo
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Lucila Henrique Rocha^1 Thiago Ferigati Squiapati Nicolau^2
A pesquisa, considerada bibliográfica e de natureza qualitativa, tem como tema apresentar as contribuições de O Picapau Amarelo para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Monteiro Lobato, em suas obras, trabalhou diferentes temas que levam o discente a fazer indagações, mas, sobretudo, o conscientiza de um modo lúdico, colocando a leitura como algo prazeroso e repleto de aprendizagem. A interdisciplinaridade possibilita que o educando, através de um currículo mais flexível, consiga se desenvolver plenamente, obtendo significado em seu aprendizado. Um currículo que contribui para o desenvolvimento total do indivíduo é aquele que promove a contextualização com o meio em que se está inserido, que seja norteador e não impositor, aquele que dialoga com o capital cultural e que, acima de tudo, respeite as singularidades de cada criança, pois nosso conhecimento é inteiro e não fragmentado. Entende-se que em O Picapau Amarelo representa a diversidade cultural proposta pelo currículo, apontando para conceitos trabalhados em várias disciplinas e melhorando o trabalho com a leitura, levando o aluno para o centro de todo processo.
(^1) Discente do curso de Pedagogia do Centro Universitário UNIFAFIBE de Bebedouro – SP.
2 E-mail: luciilaroocha@icloud.com Graduado em Letras e Pedagogia, Especialista em Psicopedagogia e Mestre em Letras pela UNESP- São José do Rio Preto. Docente do Centro Universitário UNIFAFIBE, Bebedouro SP. E- mail: thiagoferigati@yahoo.com.br
Palavras-Chave: Literatura Infantil. Monteiro Lobato. Picapau Amarelo. Currículo. Interdisciplinaridade.
The research, considered bibliographical and qualitative, has the theme to present the contributions of O Picapau Amarelo for the First Years of Elementary School. Monteiro Lobato, has worked on different themes that lead the student to make inquiries, raising awareness in a playful way, making reading as something pleasurable and full of learning. The interdisciplinarity that allows the learner, through a more flexible curriculum, can develop fully, giving meaning to their learning. The curriculum that contributes to the total development of the individual is one that promotes contextualization with the environment in which one is inserted, which is both guiding and not imposing, that converses with cultural capital and that respects the singularities of each child, since our knowledge is whole and not fragmented.It is understood that in O Picapau Amarelo represents the cultural diversity proposed by the curriculum, pointing to concepts worked in various disciplines and improving the work with reading, taking the student to the center of every process. Keywords : children's literature. Monteiro Lobato. Picapau Amarelo. Curriculum. Interdisciplinarity. . 1 INTRODUÇÃO
A literatura é de suma importância para os indivíduos, ajudando no ensino e aprendizagem, pois se percebe uma melhoria na absorção do conhecimento quando atribuímos o prazer de ler na arte do ensinar. Monteiro Lobato, em suas obras, buscou além de incentivar a leitura, trabalhar temas que fossem atuais perante sua época, assim provocando nas crianças, indagações e reflexões sobre assuntos importantes, de uma forma prazerosa. O livro Picapau Amarelo , aqui em discussão, envolveu personagens da literatura clássica, mitologia grega e referências dos contos europeus. Foi através da intertextualidade que o autor conseguiu relatar a importância da diversidade cultural e de como as releituras são importantes, pois a criança consegue, através de uma história, atribuir novos sentidos, estimulando seu
O Currículo é o norteador das instituições; com isso entende-se que, por envolver disciplinas, e, por sua vez, diferentes tipos de conteúdos, o mesmo precisa ser flexível e estar em constante transformação, para, assim, conseguir se adequar na sociedade. Segundo Candau, (2009) o Currículo também representa uma prática que envolve produção, circulação e significados no espaço social e cultural, que contribui para a construção da identidade. Pode-se afirmar, então, que as questões curriculares só são relevantes se adquirem um propósito. Silva e Moreira (2008) afirmam que o currículo é considerado um artefato cultural e social que implica no modo institucional de transmitir valores culturais da sociedade. A cultura é formada por características de uma sociedade, que envolvem valores e ideias. No Brasil, há uma infinita diversidade que se faz presente, como, por exemplo, os dialetos de cada região. Assim há necessidade de se explorar essas particularidades, a fim de diminuir as desigualdades e o próprio preconceito que estão presentes no nosso país. Silva e Moreira (2008) afirmam que não é possível falar de currículo sem relacionar com a cultura, pois o currículo oculto, que tem como significado tudo que não está explícito no currículo oficial, está vinculado diretamente com as singularidades dos indivíduos, constatando que somos seres dotados de conhecimentos. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais consta a obrigatoriedade em trabalhar o Pluralismo Cultural devido à diversidade ética e cultural que predomina o Brasil. Esse tema vai contribuir para que o educando conheça a complexidade do seu país, afirmando que quando um indivíduo conhece os valores do outro, ele aprende a respeitá-la, sem modificar sua cultura.
Por trabalhar com a diversidade humana, comporta uma ampliação de horizontes para o professor e para o aluno, uma abertura para a consciência de que a realidade em que vivem é apenas parte de um mundo complexo, fascinante e desafiador, na qual o elemento universal subjacente e definidor das relações intersociais e interpessoais deve ser a Ética (BRASIL, 1997, p.
Trabalhar a diversidade cultural é compreender que as divergências existem, mas que melhorias podem ser feitas, pois esse tema nos faz refletir sobre justamente aqueles que estão na exclusão. Segundo os PCNs a cultura é um processo que muda constantemente, ou seja, não é estática e se refere como algo simbólico em uma sociedade que vai ajudar na construção da identidade. Por esse motivo, “antes de mais nada, a cultura no interior de uma realidade humana é sempre dinâmica, não é fechada ou cristalizada como um patrimônio de raízes fixas e permanentes” (GUSMÃO, 2003, p.16). A escola, por sua vez, é responsável por formar sujeitos sociais; então usufruir dessa pluralidade é o mesmo que reafirmar a democracia. O ambiente escolar é rico em diversidade, com isso a instituição tem o papel de contribuir para que os educandos compreendam a singularidade de cada um, respeitando as diferenças, pois é a partir delas que somos construídos.
Na verdade, esse nosso pensar muitas vezes vão de encontro com as novas concepções de vida em sociedade. Por isso, temos que reconhecer que muitos conceitos precisam ser revistos, tendo em vista as mudanças que estão ocorrendo na sociedade contemporânea (LIMA, 2012, p.35)
Escolas autônomas são aquelas que se adéquam a realidade dos educandos e, com isso, proporcionam um ambiente que ocorrem indagações e reflexões. Consequentemente, a autonomia vai gerar discentes capazes de articular sobre diversos temas, pautado sempre na significação e associação à sociedade em que se vive. Segundo Ramalho (2015), a sala de aula é um espaço de interação entre os indivíduos, então a pedagogia democrática precisa ser aplicada, reconhecendo que todos tem diferença, ou seja, cada qual já vem para a instituição com seu capital cultural em construção. Caberá então as escolas levar em consideração essa “bagagem” dos educandos e, com isso, elaborar um currículo que ensine a trabalhar essas diferenças, reconhecendo o valor de cada uma. Consequentemente a escola prepara os educandos para que eles tomem decisões baseadas em reflexões, contribuindo de uma maneira significativa para a sociedade. Assumir o controle das situações e tolerância é também uma expectativa positiva que as instituições prezam:
Aprender a posicionar-se de forma a compreender a relatividade de opiniões, preferências, gostos, escolhas, é aprender o respeito ao outro.
“marginalizado pela sociedade, devido a menoridade de seu grupo”, enfrenta desafios nas construções de metodologias que envolvam as crianças em situações lúdicas e construtivas. Essa marginalização ocorre, pois a literatura infantil ainda é encarada por muitos como inferior. Monteiro Lobato, um dos percussores dessa literatura no Brasil, mostrou-se preocupado com a qualidade de suas obras, que em sua maioria, buscam enfatizar a relevância de ensinar e aprender com ludicidade. O Currículo proposto nas temáticas lobatianas, coloca as crianças como centro de toda aprendizagem, buscando alternativas interdisciplinares para a construção do conhecimento, informando dados históricos, fictícios, geográficos, saber científico entre outros. Com essa variedade é possível ministrar aulas com a finalidade de estimular os alunos a ter um senso crítico e serem agentes transformadores, envolvendo os mais diferentes campos do conhecimento.
3.1 Questões iniciais sobre literatura infantil
A literatura infantil foi pensada por volta do século XVIII, por conta do conceito Infância. Este termo, não existia anteriormente, já que as crianças eram consideradas “adultos em miniatura” como foi citado por Coelho (1991), ou seja, seres que viviam como indivíduos adultos sem distinção. Com o avanço da burguesia, foi investido na educação, havendo necessidade de leituras adaptadas para elas. Atualmente os educadores obtêm um grande desafio em relação à leitura na educação, pois ler não é visto como algo prazeroso e sim como algo rigidamente ligado as disciplinas, que faz parte do obrigatório. As dificuldades só aumentam quando a estimulação ocorre somente por meios mecânicos, que priorizam elementos descontextualizados e fora da realidade dos educandos. Segundo Barros (2013), a literatura infantil surge com caráter pedagógico, com a função de transmitir valores da sociedade, formando o caráter da criança na área humanística, cívica, espiritual, ética e intelectual. A escola é, com isso, o principal meio que a criança tem contato com o universo da leitura, então é de suma importância que o aluno conheça vários gêneros textuais, a fim de desenvolver seu cognitivo, sua criticidade,
oralidade e escrita, porém o lúdico é essencial e capaz de proporcionar essas competências, se trabalhadas em algo significativo e contextualizado. De acordo com ZILBERMAN(2003):
A justificativa que legitima o uso do livro na escola nasce, pois, de um lado, da relação que estabelece com seu leitor, convertendo-o num ser crítico perante sua circunstância; e, de outro, do papel transformador que pode exercer dentro do ensino, trazendo-o para a realidade do estudante e não submetendo este último a um ambiente rarefeito do qual foi suprimida toda a referência concreta. (ZILBERMAN, 2003, p. 30)
Entende-se que a escola, por fazer parte de um ambiente estimulador e criador, fica responsável por desenvolver meios para que os educandos obtenham o maior conhecimento possível. Esses saberes, conteúdos explícitos ou implícitos, incluem o trabalho de formar cidadãos em sua plenitude, aquele que também desenvolve valores e virtudes.
3.2. Monteiro Lobato e os principais temas
Monteiro Lobato, nascido em Taubaté, foi um escritor pré- modernista, que, em 1921, publicou sua primeira obra destinada ao público infantil, chamada de Reinações de Narizinho. Consequentemente, Lobato lançou diversos livros infantis, o consagrando como pai da literatura Infanto-juvenil brasileira. A ruptura com o tradicional modelo europeu, contextualizando a realidade dos leitores, deu origem ao fictício Sítio do Picapau Amarelo em que foi criada sua própria mitologia, usufruindo da autonomia, através da criação de personagens que aparecem ao decorrer de quase todas suas narrativas. Segundo Souza (2013), Lobato não compactuava com cópias do padrão europeu, pois acreditava que a literatura precisava ser algo criado por alguém brasileiro, que vivenciava o cotidiano, juntamente com aquele público que ele pretendia atingir, a fim de aproximar os leitores, sempre contextualizando os enredos com a própria realidade. O escritor buscou também, em suas narrativas, evitar enredos que trouxessem a negatividade para as crianças. Em suas histórias, o prazeroso é resolver os problemas de modo aventuroso e lúdico, levando o indivíduo para um universo positivo e imaginário.
A Dona Benta e Tia Nastácia, adultas presentes em O Picapau Amarelo , são duas figuras que atuam como mediadoras e acolhedoras, pois estimulam as crianças positivamente em seu imaginário. Dona Benta, por sua vez, é uma senhora marcada pela sabedoria, que busca, a todo o momento, o conhecimento prévio das crianças, passando para o científico sem ofuscar toda fantasia presente. A Tia Nastácia foi quem confeccionou a boneca Emília, mantendo laços com crianças como Narizinho, enfatizando sentimentos como o amor entre os habitantes do Sítio, mesmo sem haver laços sanguíneos. Contudo é observado que a Tia Nastácia traz consigo uma sabedoria popular imensa. A cozinheira, afro descendente, possui uma linguagem voltada para a coloquial. Renata Pimentel afirma:
Tia Nastácia é, portanto, alçada ao centro do discurso, mas como dona de sua voz, como sujeito da fala e autoridade sobre a matéria. É destacada como detentora de uma sabedoria válida e importante: as histórias de uma tradição da oralidade, propagadas e preservadas na memória de seu povo de origem; um dos elementos inegáveis de nossa formação mestiça e cultural. (PIMENTEL, 2014, p.3) Segundo Lajolo (2005), Dona Benta é como um educador que é competente da língua, porém adéqua a linguagem para a acessibilidade de todas. Ela afirma também que, como mediadora, a personagem é responsável por direcionar as histórias, oferecendo aos netos instrumentos para que eles criem suas fantasias e aprendam sobre o conhecimento. A personagem é sempre a iniciante em estimular as crianças. No trecho abaixo, é possível comprovar o caráter mediador da Dona Benta e a sua responsabilidade em transmitir o conhecimento e afeto para as crianças: “D. Benta, sabidíssima que era, respondeu no mesmo tom, e com muitas anquinhas nas palavras pediu-lhe que apeasse e entrasse.” (LOBATO, 1973, p.19). A avó utiliza da leitura compartilhada (coletiva) para realizar a contação de história. Esse recurso possibilita que a senhora aproxime as crianças, oferecendo a oportunidade de debater sobre os temas e que as mesmas pensem sobre o que está sendo contado. Com base nesse argumento, Dona Benta é a mediadora, e os netos, incluindo os seres fantásticos, são alunos apresentados, buscando conhecimento por meio lúdico. Os membros dos sítios são seres pensantes que criam a interdisciplinaridade, tornando o saber como algo significativo. Contudo entende-se que a Boneca
Emília e o Visconde de Sabugosa fazem parte de uma crítica, principalmente por oferecer poder de pensamento a seres fantásticos enquanto os humanos muitas vezes padecem na ignorância. Personagens como Visconde de Sabugosa ajudam, de forma lúdica, na compreensão do conhecimento ministrado para as crianças, representando o saber através da ciência, utilizando a experiência como forma de aprendizado para os habitantes do Sítio. No trecho abaixo é enfatizado a importância do Visconde para a transmitir o conhecimento científico, fugindo do senso comum:“ – Que é fisiologia – perguntou a Quimera[...] o Visconde riu-se com superioridade de sábio:– Fisiologia é ciência que estuda o funcionamento do corpo dos animais “(LOBATO, 1973, p.25).
A personagem Emília é caraterizada como representante de todas as crianças. Mesmo sendo feita de retalhos, a boneca faz indagações o tempo todo, buscando respostas, sempre tentando compreender o mundo a sua volta. “Eu sei o que é dizer abstrato disse Emília. – É tudo quanto a gente não vê, nem cheira, nem ouve, nem pega- mas sente que há” (LOBATO,1973, p.11). Segundo Antônio (2005) a Emília é a própria representação do escritor Monteiro Lobato, pois os valores que a boneca tem como ser crítica, autônoma e contestadora das verdades impostas pela sociedade, são elementos que o escritor gostaria que passassem para a humanidade. Emília, assim como os demais personagens, permanecem na maioria das histórias, garantindo a identidade das obras lobatianas. A boneca, por sua vez, e por sua pureza, garante que os sonhos de todos do Sítio do Picapau Amarelo sejam possíveis. O fato de muitas vezes colocar as crianças como centro de todo processo de aprendizagem é uma estratégia do escritor para enfatizar o protagonismo dos pequenos. Os papéis dos personagens ajudam no conhecimento, pois são baseados no cotidiano e a todo o momento algum saber é relatado por eles através do diálogo e da brincadeira. “A boneca atrevida, vive plena e criticamente, pois para escrever memórias precisa antes de tudo ter vivido. Se não viveu, não há o que recordar” (ANTÔNIO, 2005, p.29)
Os educadores têm um papel fundamental na construção dos saberes dos discentes; com isso é importante que os mesmos possibilitem atividades que busquem a interação entre os educandos e que também envolvam a interdisciplinaridade. Associado a isso, destaca-se que, segundo Silva e Moreira (2008) os sujeitos são construídos para a cidadania e isso implica levar em consideração o conceito de que todos somos diferentes e aprendemos de modo distintos. O problema maior da aprendizagem não é a leitura em si, mas como ela é ensinada nas instituições de ensino. A fragmentação dos textos, que busca a aprendizagem enfatizada somente nos conteúdos gramaticais (mecanizados) e descontextualizados, interferem no desenvolvimento pleno das capacidades cognitivas, retirando a autonomia do educando, a fim de colocar a leitura como algo obrigatório e não como ferramenta importante no processo de inserção na sociedade, visando pessoas críticas e reflexivas. “Como se vê, o processo começa pela esvaziamento das relações entre a leitura e o texto. Essa distanciada de seu objeto, torna-se um substantivo vazio” (Zilberman; Silva, 2001). O analfabetismo funcional é aquele que, mecanicamente, sabe ler e escrever, porém não consegue argumentar e compreender como portadores textuais em diferentes funções. Com o surgimento desse analfabeto, começa aumentar as desigualdades sociais, pois quando o Currículo não se articula com o contexto ele torna-se fragmentado, ligado apenas a conceitos específicos de disciplinas, criando pessoas que sistematicamente são capazes de ler e escrever, porém carecem de interpretações e não conseguem resolver situações problemas com as ferramentas oferecidas Ensinar os indivíduos a terem criticidade, escrever e ler com propósitos, não é tarefa apenas do educador de língua portuguesa, mas sim de todo contexto escolar. É dever das demais disciplinas, também em seus materiais, oferecendo oportunidades para que os educandos problematizem e contextualizem, a fim de atribuir funções para o que está se aprendendo e o porquê de determinado
conteúdo, obtendo sentido na aprendizagem. O maior desafio dos educadores, segundo Zilberman e Silva (2001), é ensinar os alunos o gosto pela leitura, apreciar a leitura como algo processual que elevará seu grau reflexivo e crítico. É preciso enfatizar também que para um indivíduo estar inserido na sociedade, ele precisa se sentir pertencente dela, elaborando ações transformadoras. Trabalhar o interdisciplinar é ter a ciência de que somos sujeitos inteiros e não fragmentados, uma vez que as áreas de conhecimentos caminham juntas A junção das demais disciplinas em função do mesmo propósito é algo importante para que os educandos busquem significados em sua aprendizagem:
Para que ocorra a interdisciplinaridade não se trata de eliminar as disciplinas, trata-se de torná-las comunicativas entre si, concebê-las como processos históricos e culturais, e sim torná-la necessária a atualização quando se refere às práticas do processo de ensino-aprendizagem. (FORTES,2012, p.4)
Entende-se que a interdisciplinaridade é importante porque possibilita ao educando enxergar com criticidade os assuntos abordados, pois para ele, haverá significado do que está sendo trabalhado. A relevância ocorrerá por meio da participação e contextualização dos conteúdos. Diminuir a fragmentação do conhecimento é algo de suma importância, para o desenvolvimento pleno do discente, porque algo que é articulado e provido de sentidos, incentivará os educandos a buscar cada vez mais conhecimento. Para a educação, é de grande relevância as obras de Lobato, pois o escritor buscou, por meio da intertextualidade, a inclusão de histórias constando elementos fantásticos da cultura folclórica, mitologia grega, ou seja, clássicos da literatura mundial, contribuindo no trabalho interdisciplinar. Conforme Zilberman:
Da obra criativa e, ao mesmo tempo, respeitadora das peculiaridades do mundo da criança, não se deve omitir igualmente o ângulo pedagógico: Lobato sempre teve em mente a formação de seu leitor, visando dotá-lo de uma certa visão do real e da circunstância local, assim como de uma norma de conduta. (ZILBERMAN,2003,p.147).
Por ser um país que perpetua uma grande diversidade cultural, são encontradas nas obras lobatianas as características que mostram o nosso Brasil em diferentes seguimentos. O multiculturalismo é o que permite nenhuma cultura ser
A diversidade é algo de suma importância e está inserida no livro como ponto de partida. Logo no início, nas primeiras páginas, Dona Benta aceita receber no Sítio todo o “Mundo das Fábulas” cada qual trouxe consigo suas bagagens, mas também sua cultura. Em outro momento, é enfatizado que Dona Benta deixa os habitantes da Fábula vir morar em suas terras, mas que a base da convivência seria o respeito e que cada qual deveria respeitar o limite do espaço da cerca para que o coletivo vivesse em harmonia. “Meu caro senhor, a combinação que fiz com o Pequeno Polegar foi de que todos os personagens da Fábula podiam morar em minhas terras, mas para lá da cerca” (LOBATO, 1973, p.19). Com base na citação, pode-se observar que, mesmo com as demais diferenças presentes entre os habitantes da Fábula, é possível conviver-se bem através do respeito com o próximo. Valores, virtudes e elementos da cultura, portanto, fazem parte da obra em diversas ocasiões. Como último exemplo, destaca-se o trecho escolhido:
A importância de se trabalhar valores e virtudes com as crianças é imprescindível, porque é através das histórias que os indivíduos aprendem de forma lúdica a compreender que sentimentos como o orgulho, o desentendimento e o egoísmo não são alternativas de uma vida ideal, mas que a sociedade é justa a partir de um diálogo que elimine as desigualdades, os preconceitos e as próprias injustiças que existem em nosso mundo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As obras lobatianas, em especial O Picapau Amarelo , contribuem como alternativas de ensino e aprendizagem a partir da interdisciplinaridade, pois proporcionam a possibilidade de um trabalho envolvendo múltiplas disciplinas em um conjunto, enaltecendo valores e virtudes. A literatura infantil em questão permite que os educadores forneçam meios para que os educandos ampliem seu conhecimento de mundo, busquem o saber e sejam indivíduos autônomos, críticos e agentes ativos de transformações em nossa sociedade.
É importante ressaltar que a leitura está presente no Currículo para ser trabalhada em sua totalidade, ou seja, ler para abstrair sentido, para prazer, para aprender, para resolver situações cotidianas e para provocar indagações. Por fim conclui-se que a melhor forma de buscar o conhecimento como um todo é oferecer à criança condições para sejam o centro de todo o processo de aprendizagem, vivenciando experiências, dialogando sua visão de mundo com os demais e promovendo articulações com a sociedade, buscando significação do “por que e para que aprender”, compreendendo que em obras literárias como O Picapau Amarelo , por toda a sua abordagem interdisciplinar, se consegue aprender noções sobre cultura, valor e virtude.
ANTÔNIO, Izabel Cristina Vieira. A atuação da personagem Emília na obra de Monteiro Lobato : Memórias da Emília. Monografia. Universidade do Extremo Sul Catarinense: UNESC, Criciúma, 2005.Disponível em: http://www.bib.unesc.net/biblioteca/sumario/000027/000027DD.pdf. Acesso em: 01 nov.
BARROS, Paula Rúbia Pelloso Duarte. A contribuição da literatura infantil no processo de aquisição da leitura / Paula Rúbia Pelloso Duarte Barros. – – Lins,
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Recebido em 13/12/
Aprovado em 9/3/