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Expectativas de futuro profissional de jovens de classes socioeconômicas desfavorecidas, Provas de Psicologia

Este estudo investiga as expectativas de jovens estudantes do ensino médio em relação ao seu futuro profissional, considerando a relação entre o futuro profissional e as coisas que eles desejam para suas vidas, a visão pessimista ou otimista sobre o mercado de trabalho e as expectativas quanto ao futuro profissional. Além disso, o estudo aborda as dificuldades vividas por essa população específica na transição para o mundo do trabalho.

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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ISSN 1413-389X Trends in Psychology / Temas em Psicologia – 2014, Vol. 22, nº 1, 223-234
DOI: 10.9788/TP2014.1-17
Perspectivas de Futuro Profi ssional para Jovens
Provenientes de Classes Socioeconômicas Desfavorecidas
Gênesis Marimar Rodrigues Sobrosa1
Programa de Pós-Graduação em Psicologia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos,
São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil
Anelise Schaurich dos Santos
Clarissa Tochetto de Oliveira
Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Maria,
Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil
Ana Cristina Garcia Dias
Departamento do Curso de Psicologia e Programa de Pós-Graduação em Psicologia,
Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil
Resumo
O objetivo desse estudo foi investigar as expectativas em relação ao futuro profi ssional de jovens estu-
dantes do ensino médio oriundos de classes socioeconômicas desfavorecidas. Participaram desse estudo
200 estudantes de ensino médio de ambos os sexos que frequentavam duas escolas públicas estaduais
no interior do Rio Grande do Sul. A coleta de dados foi realizada coletivamente, em sala de aula, atra-
vés de um questionário que continha questões abertas e fechadas. Os dados das questões abertas foram
submetidos à análise de conteúdo temática e das questões fechadas, a análises estatísticas. Constatou-
-se que a maioria dos estudantes pensa a respeito de seu futuro profi ssional. Esses pensamentos estão
relacionados tanto ao esforço pessoal para conquistar sucesso profi ssional e pessoal e boas condições
fi nanceiras, quanto ao desejo que os jovens possuem de exercer uma profi ssão que lhes traga satisfação
pessoal. De maneira geral, os jovens são otimistas em relação ao futuro profi ssional e esperam conquis-
tar sucesso nos diversos contextos de vida. No entanto, os participantes reconhecem a necessidade de se
esforçar para atingir seus objetivos e desfrutar da satisfação que o trabalho pode proporcionar, uma vez
que percebem os aspectos negativos associados à instabilidade do mercado de trabalho.
Palavras-chave: Jovens, ensino médio, profi ssão, futuro.
Perspectives of Young People from Lower Classes Regarding
the Professional Life
Abstract
The aim of this study was to investigate the expectations of high school students from lower classes re-
garding their future as a professional. The sample was composed of 200 high school students, male and
1 Endereço para correspondência: Rua José Mário Mônaco, 13, Apto. 805, Centro, Bento Gonçalves, RS, Brasil
95700-000. E-mail: genesispsi@yahoo.com.br, anelise_ssantos@hotmail.com, clarissa.tochetto@gmail.com e
anacristinagarciadias@gmail.com
Agência de Financiamento: Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades
(REUNI).
Este artigo deriva da Dissertação de Mestrado da primeira autora, realizada no Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria, sob orientação da quarta autora. A pesquisa contou com o
apoio fi nanceiro do Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades – REUNI.
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ISSN 1413-389X Trends in Psychology /^ Temas em Psicologia – 2014, Vol. 22, nº 1, 223- DOI: 10.9788/TP2014.1-

Perspectivas de Futuro Profissional para Jovens

Provenientes de Classes Socioeconômicas Desfavorecidas

Gênesis Marimar Rodrigues Sobrosa 1

Programa de Pós-Graduação em Psicologia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos,

São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil

Anelise Schaurich dos Santos

Clarissa Tochetto de Oliveira

Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Maria,

Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil

Ana Cristina Garcia Dias

Departamento do Curso de Psicologia e Programa de Pós-Graduação em Psicologia,

Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil

Resumo

O objetivo desse estudo foi investigar as expectativas em relação ao futuro profissional de jovens estu- dantes do ensino médio oriundos de classes socioeconômicas desfavorecidas. Participaram desse estudo 200 estudantes de ensino médio de ambos os sexos que frequentavam duas escolas públicas estaduais no interior do Rio Grande do Sul. A coleta de dados foi realizada coletivamente, em sala de aula, atra- vés de um questionário que continha questões abertas e fechadas. Os dados das questões abertas foram submetidos à análise de conteúdo temática e das questões fechadas, a análises estatísticas. Constatou- -se que a maioria dos estudantes pensa a respeito de seu futuro profissional. Esses pensamentos estão relacionados tanto ao esforço pessoal para conquistar sucesso profissional e pessoal e boas condições financeiras, quanto ao desejo que os jovens possuem de exercer uma profissão que lhes traga satisfação pessoal. De maneira geral, os jovens são otimistas em relação ao futuro profissional e esperam conquis- tar sucesso nos diversos contextos de vida. No entanto, os participantes reconhecem a necessidade de se esforçar para atingir seus objetivos e desfrutar da satisfação que o trabalho pode proporcionar, uma vez que percebem os aspectos negativos associados à instabilidade do mercado de trabalho. Palavras-chave : Jovens, ensino médio, profissão, futuro.

Perspectives of Young People from Lower Classes Regarding

the Professional Life

Abstract

The aim of this study was to investigate the expectations of high school students from lower classes re- garding their future as a professional. The sample was composed of 200 high school students, male and

1 Endereço para correspondência: Rua José Mário Mônaco, 13, Apto. 805, Centro, Bento Gonçalves, RS, Brasil 95700-000. E-mail: genesispsi@yahoo.com.br, anelise_ssantos@hotmail.com, clarissa.tochetto@gmail.com e anacristinagarciadias@gmail.com Agência de Financiamento: Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades (REUNI). Este artigo deriva da Dissertação de Mestrado da primeira autora, realizada no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria, sob orientação da quarta autora. A pesquisa contou com o apoio financeiro do Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades – REUNI.

224 Sobrosa, G. M. R., Santos, A. S., Oliveira, C. T., Dias, A. C. G.

female, from two public schools of Rio Grande do Sul. Data were gathered all together in classrooms through a questionnaire composed by open and closed questions. The data from open questions were submitted to content analysis and the data from closed questions were submitted statistical analysis. Results demonstrated that the majority of the students think about the future of their professional life. Their thoughts are related not only to the effort they must make to achieve professional and personal success and to improve their financial conditions, but also to their desire to work in something that gives them satisfaction. In general, the participants showed to be optimistic about their future as a professional and hopeful to achieve success in their personal and professional life. On the other hand, the students recognized they need to struggle to achieve their goals and enjoy the satisfaction work can provide, once they noticed the negative aspects associated to the instability of the labor market.

Keywords : Young adults, secondary education, profession, future.

Perspectivas del Futuro Profesional para Jóvenes Provenientes de Clases Socioeconómicas Desfavorecidas

Resumen

El objetivo de este estudio fue investigar las expectativas respecto al futuro profesional de jóvenes de Secundaria oriundos de clases socioeconómicas desfavorecidas. Participaron del estudio 200 estudian- tes de Secundaria de ambos sexos que acudían a dos escuelas públicas estaduales en el interior de Río Grande del Sur. La colección de datos se realizó colectivamente, en el aula, por medio de un cuestiona- rio que contenía preguntas abiertas y cerradas. Los datos de las cuestiones abiertas fueron sometidos a análisis de contenido temático, y los de las cerradas, a análisis estadístico. Se halló que la mayoría de los estudiantes piensa respecto a su futuro profesional. Esos pensamientos se relacionan tanto con el esfuer- zo personal, para lograr el éxito personal, profesional y buenas condiciones financieras; como al deseo que los jóvenes poseen de ejercer una profesión que les traiga satisfacción personal. De manera general, los jóvenes son optimistas respecto al futuro profesional y esperan lograr el éxito en los diversos con- textos de la vida. Sin embargo, los participantes reconocen la necesidad de esforzarse para llegar a sus objetivos y desfrutar de la satisfacción que el trabajo puede proporcionar, ya que perciben los aspectos negativos asociados a la instabilidad del mercado laboral.

Palabras-clave : Jóvenes, secundaria, profesión, futuro.

Verifica-se que muitos trabalhadores não são absorvidos no mercado de trabalho em fun- ção de uma qualificação profissional deficiente, o que pode resultar em elevadas taxas de desocu- pação, especialmente para os mais jovens (Ro- cha, 2008). A exigência de maior qualificação, bem como a necessidade de pessoas especializa- das para trabalhar com novas tecnologias e no- vas formas de gestão do trabalho, contribuíram para o surgimento de inúmeros cursos de aper- feiçoamento no Brasil. Nesse sentido, a prepara- ção para o mercado de trabalho se torna perma- nente (Melo & Borges, 2007). Além disso, hoje, no mundo do trabalho, se exige que as pessoas sejam flexíveis, criativas, pró-ativas, busquem

qualificação de maneira contínua e estejam pre- paradas para mudanças de cargos, funções ou mesmo empregos (Burnier, 2006; Lemos, Du- beux, & Pinto, 2009; Nunes & Noronha, 2009). Assim, a necessidade da busca constante por em- pregos e qualificação educacional, que possibi- litam a sustentação no mercado de trabalho, faz com que tanto a entrada na universidade quanto no ambiente organizacional seja realizada em um contexto de ansiedade (Bardagi, Lassance, & Paradiso, 2003). A mudança do ensino médio para a univer- sidade, ou para o mundo do trabalho, pode ser permeada por dificuldades para a maioria dos jo- vens. Inúmeras vezes adicionam-se a essa tran-

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50% dos estudantes que participaram da pesqui- sa apontaram que já reprovaram alguma vez na vida. Destes, 27,5% relataram ter reprovado uma vez, 16,5% duas vezes, 4% três vezes e 2% mais de quatro vezes.

Instrumento e Procedimentos

O instrumento continha questões abertas e fechadas que investigavam dados sócio demo- gráficos, planos para o futuro dos jovens, motivos para a escolha de cursos técnicos ou universitá- rios e dificuldades percebidas para o prossegui- mento dos projetos educacionais e profissionais almejados. O projeto de pesquisa foi apresentado, com seus objetivos e procedimentos éticos e me- todológicos à diretoria da escola, sendo solicitada a colaboração da mesma através da autorização para a realização do estudo na instituição. Esse procedimento foi repetido com os professores e estudantes, solicitando aos mesmos a colabora- ção para o desenvolvimento do estudo. O ques- tionário anônimo foi respondido, coletivamente em sala de aula. O tempo previsto e utilizado na aplicação do instrumento foi de aproximadamen- te trinta minutos. A pesquisa foi desenvolvida ob- servando os preceitos éticos da Resolução 196/ do Conselho Nacional de Saúde (Ministério da Saúde, 1997) sendo aprovada pelo Comitê de Éti- ca de Pesquisa da Universidade, com o número de protocolo 0249.0.243.000-10.

Análise das Informações

Foi utilizada uma análise de conteúdo temá- tica para avaliar as questões abertas. Também foram realizadas estatísticas descritivas, quando necessárias para análise de questões fechadas. A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza proce- dimentos sistemáticos e objetivos, que permitem inferir conhecimentos a partir do conteúdo das mensagens analisadas (Bardin, 2009). Este tipo de análise busca a produção de inferências a res- peito do conteúdo da comunicação, trabalhan- do com a palavra, a partir da categorização de unidades de texto repetidas. As respostas foram divididas em unidades segundo reagrupamentos analógicos (Minayo, 2000), procurando por nú-

cleos de sentido e analisando a frequência dos mesmos (Bardin, 2009).

Resultados

Foi questionado se os estudantes pensam sobre o seu futuro profissional. A maioria dos alunos (94%) respondeu que sim, 4,5% respon- deram que não e 1,5% não responderam a essa pergunta. A Tabela 1 apresenta o que os 188 participantes pensam sobre seu futuro profissio- nal. Destaca-se que dentre estes respondentes, 18,08% relacionaram o futuro profissional ao esforço pessoal, 17,55% ao sucesso profissional e pessoal, 9,04% a boas condições financeiras, 7,45% ao gostar da profissão e 5,85%, ofere- ceram outras respostas para falar de seu futuro profissional. O critério para a categorização das respostas fornecidas pelos participantes foi a se- melhança entre os conteúdos apresentados. Al- guns estudantes afirmaram pensar sobre o futuro profissional, porém não indicaram o que, de fato, pensam a respeito disso. Esses jovens são descri- tos na Tabela 1 como aqueles que “não respon- deram a questão”. A categoria que obteve maior percentual de respostas a essa questão foi esforço pessoal, os jovens indicaram a necessidade de buscar qua- lificação profissional para atingir seus objetivos. Exemplos de respostas congregados nessa cate- goria são: “eu penso que preciso estudar muito, pois o que eu quero não é fácil”, “será bom desde que eu me esforce” e “vou ter que me qualifi- car, fazer cursos para aprender mais”. A segunda categoria mais citada foi sucesso profissional e pessoal, essa categoria contou com afirmações como “quero ser uma boa profissional”, “ser alguém na vida” e “que vou conseguir os meus sonhos”. A categoria boas condições financeiras reuniu afirmações do tipo “quero poder com meu futuro profissional conseguir tudo o que eu de- sejo economicamente” e “ganhar muito dinhei- ro”. Por sua vez, a categoria gostar da profissão abarca descrições como “que seja bom e que eu faça algo que goste” e “espero que o que eu es- colher se identifique como eu sou”. Por fim, a categoria dúvidas quanto à autoeficácia pode ser

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exemplificada pelas afirmações: “tenho medo de não saber exercer a profissão direito” e “se vou ser bem sucedida ou não”. Os alunos também indicaram como se sen- tem quando pensam no seu futuro profissional. A Tabela 2 apresenta as respostas fornecidas para essa questão. Para tanto, foi utilizada uma escala do tipo Likert sendo que o número 1 re-

presenta a resposta muito pessimista, e o núme- ro 7 muito otimista. Os valores intermediários que foram marcados entre essas extremidades indicam respostas com uma maior ou menor proximidade desses extremos. Os estudantes relataram se sentir mais otimistas do que pes- simistas. Quatorze participantes não responde- ram a essa questão.

Ta bela 1 O que os Alunos Pensam sobre Seu Futuro Profissional

O que pensam sobre o futuro profissional Frequência Percentual

Esforço pessoal 34 18, Sucesso profissional e pessoal 33 17,

Boas condições financeiras 17 9,

Gostar da profissão 14 7,

Outras respostas 11 5,

Dúvidas quanto à autoeficácia 9 4,

Não sabem 3 1,

Não responderam a questão 67 35,

Total 188 100

Tabela 2 Como os Alunos se Sentem quando Pensam no Seu Futuro Profissional

Quando você pensa em seu futuro profissional, você é?

Frequência Percentual Percentual acumulado

1 Muito pessimista 8 4,0 4,

2 1 0,5 4,

3 5 2,5 7,

4 13 6,5 13,

5 28 14,0 27,

6 37 18,5 46,

7 Muito otimista 94 47,0 93,

Não responderam a questão 14 7,0 100,

Total 200 100 100

Os jovens também foram questionados so- bre o que pensam da situação atual do mercado de trabalho. A Tabela 3 apresenta as respostas dos participantes. Os estudantes consideram que o mercado de trabalho está difícil (35,5%) e

competitivo, por isso, é necessário qualificação dos profissionais (32%). Uma parcela menor de participantes considerou a situação do mercado de trabalho boa (14,5%). Vinte e seis participan- tes não responderam a questão.

Perspectivas de Futuro Profissional para Jovens Provenientes de Classes... 229

Exemplos de afirmações da categoria estu- do/esforços pessoais são “tudo que eu desejar obter para minha casa, minha vida vai depender do meu esforço e da minha vontade de crescer profissionalmente” e “estou fazendo de tudo para mim ter um futuro legal, ter uma profissão boa, ter uma vida boa e poder construir minha famí- lia”. Já a categoria trabalho como fonte de satis- fação agrupou respostas relacionadas ao prazer que o trabalho pode proporcionar, tais como “a felicidade da vida está muitas vezes na escolha profissional” e “quando você trabalha em uma profissão que gosta, você é feliz, não importa o valor do salário, importa o que você acha de sua profissão”. Por sua vez, a categoria inde- pendência/ ganhos finaceiros foi composta por respostas como: “eu quero ter uma vida estável, me aposentar com um bom salário” e “eu quero uma vida sem problemas financeiros e estável”. A categoria conciliar lado pessoal com profissio- nal é representada por afirmações do tipo: “que irão andar juntos, lado pessoal com o profissio- nal. É conciliar os dois lados” e “que eu vá bem tanto na vida particular quanto na profissional”. Ainda a categoria trabalhar e formar a própria família pode ser exemplificada pelas afirmações: “ter uma profissão, me formar para fonte de sus- tento, pois mais tarde quero ter minha casa, meus filhos, mas ter como sustentar e “para tudo pre- cisamos de dinheiro, por isso é importante estu- dar, para ter um emprego digno, e poder dar um futuro melhor para nossos filhos”. A categoria gostar da profissão envolveu afirmações como: “onde eu trabalhe em algo que eu goste e me sinta bem” e “quero fazer alguma coisa que eu goste que só me deixar satisfeita com a profis- são que estou seguindo”. Finalmente, a categoria relação pessimista pode ser ilustrada através da resposta: “no trabalho atual não tenho como al- cançar meus objetivos”.

Discussão

A adolescência frequentemente é represen- tada no senso comum como uma fase despreo- cupada, irresponsável, na qual o jovem busca vivenciar o presente e não se preocupar com o futuro. Entretanto, grande parte dos adolescentes

descreve as angústias que sente, as dificuldades que vivência e as preocupações com o futuro ao falar de si (Paredes & Pecora, 2004). A maioria dos alunos que respondeu ao questionário desta pesquisa afirmou pensar sobre o seu futuro pro- fissional. Os jovens tenderam a associar o futuro profissional com esforço pessoal para conquistar sucesso profissional e boas condições financei- ras, além de desejarem exercer uma profissão que lhes traga satisfação pessoal. Assim, o futu- ro é colocado como uma interrogação para os jo- vens, que frequentemente buscam refletir sobre o que podem vir a ser em suas profissões (Oli- veira, Pinto, & Souza, 2003). Tal fato vai ao en- contro do estudo sobre a visão da constituição da carreira realizado por Ribeiro (2011) com jovens em situação de vulnerabilidade. O autor afirma que o discurso dos jovens por ele entrevistados indica uma falta de reflexão sobre o futuro, já que esses jovens possuem a necessidade iminen- te de cuidar do presente. Os jovens que têm a oportunidade de che- gar ao ensino médio, público-alvo desta pesqui- sa, são desafiados a definir um projeto de futu- ro. Contudo, a velocidade das transformações sociais, as incertezas econômicas globais e os avanços tecnológicos fazem com que os projetos para o futuro profissional sejam cada vez mais instáveis (Barreto & Aiello-Vaisberg, 2007). Diante desse desafio, a maioria dos sujeitos des- te estudo relacionou o futuro profissional com o esforço pessoal. Isso pode estar relacionado às expectativas que os jovens de classe socioeconô- mica desfavorecida têm em relação às diferenças entre o contexto escolar e os futuros ambientes de trabalho que terão de enfrentar, visualizando que será necessário grande empenho para che- gar onde pretendem (Oliveira et al., 2003). As- sociado a essa realidade está o contexto laboral cada vez mais complexo, permeado por trans- formações e instabilidade nas profissões, que faz com que os indivíduos busquem constante qualificação de habilidades pessoais e técnicas (Jenschke, 2003; Lemos et al., 2009; Nunes & Noronha, 2009 ). Nesse sentido, algumas difi- culdades vivenciadas por essa população espe- cífica são apontadas, como o acesso precário a recursos educacionais e culturais, que deveriam

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complementar a educação escolar recebida (So- brosa et al., 2012). Apesar disso, a maior parte dos participantes se mostrou otimista em relação ao futuro. Esses dados vão ao encontro dos re- sultados da pesquisa de Oliveira et al. (2003), na qual as autoras afirmam que a maioria dos jovens demonstra confiança no futuro e motivação para o alcance de metas. Entretanto, parece que a mo- tivação dos adolescentes pode variar conforme o ano em que estão estudando no ensino médio, de forma que os alunos de primeiro ano demons- tram mais dúvidas associadas aos planos profis- sionais, variável que não foi investigada neste estudo. Ademais, o fato de estudar em escola pú- blica ou privada não está relacionado com maior ou menor nível de motivação dos estudantes, embora o pessimismo esteja mais frequentemen- te descrito em alunos de escolas públicas (Balbi- notti, Tétreau, & Gingras, 2009). Em contrapartida, alguns jovens revelaram sentir dificuldades de tomar decisões ao pensar sobre o futuro profissional, respostas encontra- das nesse estudo como: “penso em fazer a es- colha certa para não me arrepender”, “se vai ser fácil conseguir um emprego e onde que vai ser” e “eu penso: será que vou exercer bem minha profissão?” ilustram essa afirmação. Frequente- mente, o futuro vem acompanhado pelo medo do fracasso ou das conseqüências de escolhas mal sucedidas (Oliveira et al., 2003). Contudo, os re- sultados encontrados nesta pesquisa contrariam o que normalmente é encontrado na literatura, já que apenas 4,5% dos sujeitos relacionaram seu futuro profissional com dúvidas em relação à autoeficácia. De qualquer forma, intervenções que visem envolver os alunos em atividades de exploração de si e do ambiente de forma ativa podem auxiliar esses adolescentes a organizar as informações obtidas e estabelecer planos fu- turos, diminuindo as dificuldades na tomada de decisão (Königstedt & Taveira, 2010). Os jovens participantes também afirmaram pensar o futuro em termos de sucesso profissio- nal e pessoal e boas condições financeiras, o que foi entendido por Valore e Viaro (2007) como uma tentativa por parte dos jovens de “unir o útil ao agradável”. Isso pode ser ilustrado nesse es- tudo pelas afirmações dos adolescentes: “poder

ser uma profissional bem vista, e com uma remu- neração razoável”, “penso em ser uma profissio- nal competente onde atuo” e “quero poder com meu futuro profissional conseguir tudo o que eu desejo economicamente”. É provável que, por essa razão, a palavra futuro esteja diretamente associada ao trabalho-estudo, conforme é apon- tado em uma pesquisa sobre as representações sociais do trabalho em jovens do ensino médio de escolas públicas (Oliveira, Fischer, Teixeira, & Sá, 2005). O trabalho continua, assim, desem- penhando um papel central na vida dos jovens apesar da precarização das condições laborais (Ribeiro, 2011). A concomitância das duas atividades, isto é, trabalhar e estudar, permite aos estudantes ascender em uma carreira profissional, além de representar a possibilidade de melhor qualidade de vida e superação da atual condição de classe (Oliveira et al., 2005; Ribeiro, 2011), a exemplo das respostas a seguir: “penso que para ter um bom futuro preciso estar qualificada” e “penso que se eu estudar, me esforçar eu tenho chan- ces de me dar muito bem”. Essas informações são similares às encontradas em um estudo re- alizado com adolescentes provenientes de nível socioeconômico desfavorecido. Esse trabalho encontrou que estes percebem o trabalho como algo benéfico, que, através dele, irão obter ga- nhos financeiros, o que lhes permite obter certa autonomia em relação aos pais. Além disso, es- tes jovens estão cientes da importância de obter uma boa formação escolar, bem como a neces- sidade de qualificação (Dutra-Thomé, Queiroz, & Koller, 2010). Desta forma, acredita-se que a inserção destes no mercado de trabalho, aconte- ceria com maior facilidade. Em outro estudo, realizado por Lachtim e Soares (2011) com jovens de uma cidade do interior do estado de São Paulo, o qual investi- gou os valores atribuídos por estes ao trabalho e suas expectativas de futuro, foi encontrado que os participantes relacionaram a necessidade de frequentar o ensino regular a uma boa colocação no mercado de trabalho. Além disso, o trabalho foi apontado por esses jovens como uma ativida- de essencial, de valor para suas vidas, pois, além de auxiliar na renda familiar, ele também pro-

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danças constantes, visto que uma área que hoje procura por profissionais daqui a um ano já pode estar saturada, enquanto outra saturada, daqui a alguns anos estará à procura de pessoas qualifi- cadas para o trabalho (Soares et al., 2002). Nesse sentido, pode-se supor que a visão de alguns jo- vens em relação à desvalorização dos profissio- nais ou até mesmo em não saber o que pensar sobre o mercado de trabalho esteja associada à inconstância do mercado de trabalho. No entanto, uma parcela considerável da amostra deste estudo acreditou que as atuais condições do mercado de trabalho são boas; respostas como “o mercado de trabalho está se expandindo bastante” e “eu acho que quem quer trabalhar consegue, basta se empenhar” ilustram essa afirmação. É possível que isso aconteça, pois a mídia com frequência apresenta modelos idealizados de ocupações, mostrando somente os benefícios das profissões e geralmente omitindo as dificuldades e adversidades que permeiam o seu exercício. Por outro lado, os jovens que en- xergam o mercado de trabalho como bom podem estar pensando em seguir profissões atualmente valorizadas (Soares et al., 2002). Por fim, destaca-se que grande parte dos jo- vens consegue traçar uma relação entre o futu- ro profissional e as coisas que almeja para sua vida, possibilitando aos sujeitos estabelecer sua futura trajetória produtiva com o mundo (Borges & Coutinho, 2010). De maneira geral, a relação encontra-se no estudo, no trabalho e na família: “me formar, trabalhar e ter uma família” e “que- ro ter minha profissão ser independente, cons- truir uma família, casar e talvez com o tempo mudar de cidade”. Pesquisas realizadas apontam que o estudo e o trabalho são fortes aliados na construção de projetos de vida de jovens ca- rentes (Dutra-Thomé et al., 2010; Nascimento, 2002). Somado a isso, a pertença ou constituição de uma família também é considerado importan- te para o futuro pelos jovens (Valore & Viaro, 2007). Existe ainda uma afinidade entre o futuro profissional e a vontade de ser financeiramente independente, visto que os jovens anseiam por reconhecimento como sujeitos de direitos, bem como por oportunidades de emancipação e au-

tonomia, através do trabalho e do desenvolvi- mento profissional (Raitz & Petters, 2008; Tor- res, Paula, Ferreira, & Pinheiro 2010). Assim, a inserção no mercado de trabalho e a formação educacional são vistos como elementos funda- mentais para a passagem ao mundo adulto em grande parte da população jovem no Brasil, em especial para os indivíduos que necessitam exer- cer uma atividade laboral e colaborar no sustento da família (Mattos & Chaves, 2010).

Considerações Finais

Este estudo buscou investigar as expectati- vas em relação ao futuro profissional de jovens estudantes do ensino médio oriundos de classes socioeconômicas desfavorecidas. Verificou-se que os estudantes, de maneira geral, são otimis- tas em relação ao futuro profissional e esperam conquistar sucesso pessoal e profissional. No entanto, apontam a necessidade de se esforçar para atingir seus objetivos e desfrutar da satisfa- ção que o trabalho escolhido pode proporcionar, uma vez que percebem os aspectos negativos as- sociados à instabilidade do mercado de trabalho. Esta pesquisa possui limitações que devem ser consideradas na interpretação dos resultados apresentados. Deve-se ter cuidado ao generali- zar esses dados, pois os participantes do estudo eram alunos somente de duas escolas públicas do interior do Rio Grande do Sul. É possível que jovens de instituições particulares da mesma re- gião possuam percepções diferentes sobre seu futuro profissional. Adolescentes de outras regi- ões do país também podem estabelecer relações diferentes entre as expectativas quanto ao futuro profissional e mercado de trabalho. Diante dis- so, sugere-se que mais pesquisas sejam realiza- das abrangendo estudantes de escolas públicas e privadas de diferentes regiões do Brasil ou, até mesmo, comparações entre países. Questiona-se, ainda, se a visão pessismista ou otimista sobre a situação atual do mercado de trabalho e sobre as expectativas quanto ao seu futuro profissional apresentada pelos partici- pantes pode ser mediada pelos comportamentos exploratórios que apresentam e pelos níveis de

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autoefi cácia que possuem. Dessa forma, sugere- -se que mais estudos sejam realizados abordando a possível relação entre essas variáveis.

Referências

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