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Guias e Dicas
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Uma Noite de Amor e Intrigas entre Juliana e Simon, Manuais, Projetos, Pesquisas de Teatro

Narrativa que conta a história de juliana e simon, do encontro inesperado entre eles, até o amor que se desenvolveu entre eles, marcado por intrigas e desafios. A história se desenvolve em uma atmosfera de alta sociedade e elegância, com diálogos engraçados e momentos românticos.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Gustavo_G
Gustavo_G 🇧🇷

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SINOPSE

Ela vive para a paixão Audaz, impulsiva e um ímã para os problemas, Juliana Fiori não era outra simplória senhorita inglesa. Nega- se a viver segundo as regras da sociedade: diz o que pensa, não lhe preocupa conseguir a aprovação de ninguém e pode lançar um murro com notável pontaria. Sua escandalosa natureza a converte no objeto preferido de todas as fofocas londrinas... E é justo o tipo de mulher que o duque de Disdain quer manter bem longe de sua pessoa.

Para ele a reputação é tudo A última coisa que Simon Pearson quer em sua ordenada vida é um escândalo. O duque de Disdain está muito centrado em manter seu título livre de toda mácula e seus segredos a salvo. Mas quando descobre Juliana escondida em sua carruagem uma noite a altas horas da madrugada, pondo em perigo tudo o que ele aprecia, jura ensinar à insensata beldade uma lição de decoro.

Mas ela tem outros planos: quer duas semanas para demonstrar que inclusive um duque imperturbável não está livre da paixão.

CAPÍTULO 1

As árvores não são mais que uma cobertura para o escândalo. As senhoras elegantes permaneçam em casa à noite. Um tratado da mais refinada das damas. Ouvimos dizer que as folhas não são as únicas coisas que caem nos jardins... A Folha do Escândalo, outubro 1823.

Em retrospectiva, houve quatro ações da senhorita Juliana Fiori que deveria ter sido reconsiderada essa noite.

Em primeiro lugar, que provavelmente deveria ter ignorado o impulso de sair do baile de outono de sua cunhada, em favor dos menos enjoativos, mais aromáticos, e muito menos iluminados jardins de Ralston House.

Em segundo lugar, muito provavelmente deveria ter duvidado quando esse mesmo impulso a empurrou pelos caminhos mais escuros, que marcavam o exterior da casa de seu irmão.

Em terceiro lugar, e quase com toda segurança, deveria ter voltado para a casa no momento em que tropeçou com Lorde Grabeham, meio caindo em seus braços, e dizendo coisas totalmente deselegantes.

Mas, definitivamente não deveria tê-lo agredido. Não importava que ele a tivesse atraído para si e exalado seu quente hálito carregado de uísque sobre ela, ou que seus lábios frios e úmidos tivessem encontrado torpemente seu caminho para o arco pronunciado de seu pescoço, ou que ele sugerisse que ela poderia gostar disso igual à sua mãe.

As damas não agrediam as pessoas. Pelo menos, as damas inglesas não o faziam. Ela viu como o nem tão cavalheiro uivou de dor e tirou um lenço de seu bolso, para cobrir seu nariz e limpar a mancha que alagava sua imaculada camisa branca de escarlate.

Ficou congelada, sacudindo distraidamente a ardência de sua mão, e sentindo como o terror a consumia.

Isto estava fadado a acontecer. Era impossível não converter-se em um problema. Não importava o muito que esse cavalheiro merecesse. O que devia ter feito? Permiti-lo desonrá-la enquanto esperava que um salvador aparecesse através das árvores? Estava segura que qualquer homem nos jardins há essa hora seria menos que um salvador e mais do que um canalha.

Mas isto apenas comprovava que as fofocas eram certas. Ela nunca seria um deles

Juliana levantou a vista para o escuro dossel de árvores. O sussurro das folhas a uma boa altura, que há alguns momentos prometiam descanso da festa desagradável, agora ria dela num eco dos sussurros no interior dos salões de baile de Londres.

— Você me golpeou! — O grito do homem gordo era muito alto, nasal e ultrajado. Ela levantou a mão tremula e empurrou uma mecha de cabelo para trás da bochecha. — Aproxime-se de mim outra vez, e obterá mais do que recebeu agora. — disse ela. Seus olhos não a deixaram quando secava o sangue do nariz. A ira em seu olhar era inconfundível. Conhecia essa ira. Sabia o que significava. Preparou-se para o que se seguiria. Não obstante, o que seu agressor disse a magoou. — Você se arrependerá disto. — Deu um passo ameaçador para ela. — Vou ter a todos acreditando que me suplicou isso. Aqui nos jardins de seu irmão, como a sem vergonha que é.

Uma dor começou em sua têmpora. Deu um passo atrás, sacudindo a cabeça. — Não! — disse ela, retrocedendo na fineza de seu acento italiano ao que ela esteve trabalhando, mas era tão difícil de domar. — Eles não lhe acreditarão. — As palavras soavam ocas, inclusive para ela.

É obvio que lhe acreditariam. Ele leu o pensamento e deu uma gargalhada zangada. — Não pode imaginar que acreditariam em você? Ilegítima. Tolerada só porque seu irmão é um marquês. Não haveria de porque eles acreditarem em você. É, depois de tudo, filha de sua mãe.

A filha de sua mãe. As palavras eram um duro golpe do qual nunca poderia escapar. Não importava o muito que o tentasse.

Ela levantou o queixo, endireitando os ombros. — Não lhe acredito — repetiu ela, desejando que sua voz se mantivesse estável — porque não vão acreditar que eu pudesse tê-lo desejado, porco.

Ele levou um momento para traduzir do italiano ao inglês, para entender o insulto. Mas quando o fez, a palavra “porco” perdurou entre eles nos dois idiomas, Grabeham aproximou-se dela, agarrando-a com sua mão carnuda e dedos como salsichas.

Era mais baixo que ela, mas a ultrapassava em força bruta. Agarrou seu pulso, os dedos cravando-se profundamente, com a promessa implícita de que haveria machucados, e Juliana tentou escapar de seu agarre, sua pele retorcida e queimando. Ela gemeu de dor e agiu por instinto, agradecendo a seu criador que tinha aprendido a lutar entre os rapazes da Ribeira Veronese.

Aproximou seu joelho perigosamente e estabeleceu contato precisa e violentamente contra sua virilha.

Grabeham uivou, afrouxando seu controle só o suficiente para que ela pudesse escapar. E Juliana fez o único em que podia pensar. Ela pôs-se a correr. Ao levantar as saias de seu vestido verde brilhante, atravessou os jardins, afastando-se da luz que saía da enorme sala de baile, sabendo que ser vista correndo na escuridão teria sido tão prejudicial

Conteve o fôlego, quando diversos gritos masculinos romperam o silêncio, rezando para que se movessem além de seu esconderijo e a deixassem de uma vez, em paz. Quando o veículo se balançou pelo movimento de um chofer subindo em seu assento, soube que suas orações ficariam sem resposta.

Ela xingou uma vez, usando o qualificativo mais colorido de sua língua nativa, e considerou suas opções. Grabeham poderia estar lá fora, mas inclusive a filha de um comerciante italiano que tinha estado em Londres durante só uns meses, sabia que não podia chegar à entrada principal da casa de seu irmão em uma carruagem que pertencia à sabe Deus quem, sem provocar um escândalo de proporções épicas.

Com sua decisão tomada, alcançou o cabo da porta e balanceou seu peso, decidida a escapar lançando-se do veículo sobre os paralelepípedos e esperando o próximo pedaço de escuridão para não ser vista.

E então a carruagem começou a mover-se mais. E a fuga já não era uma opção. Por um breve momento, considerou abrir a porta e saltar da carruagem de todos os modos. Mas nem sequer ela era tão imprudente. Ela não queria morrer. Tão somente queria que a terra se abrisse e a tragasse, e à carruagem, também. Era pedir muito?

Lá dentro do veículo, deu-se conta de que sua melhor opção era retornar ao chão e esperar que a carruagem se detivesse. Uma vez que o fizesse, sairia pela porta mais distante da casa esperando, desesperadamente, que ninguém estivesse ali para vê-la.

Sem dúvida, algo tinha que lhe sair bem essa noite. Talvez tivesse uns minutos para escapar antes que os aristocratas tivessem descido para as carruagens.

Ela respirou fundo quando a carruagem parou. Fazendo força ela elevou-se... E alcançou a manivela... Pronta para escapar.

Entretanto, antes que pudesse sair, a porta no lado oposto da carruagem se abriu, prendendo o ar em seu interior em um movimento rápido, seus olhos se abriram ao ver o enorme homem de pé, justo detrás da porta da carruagem.

Oh, não! As luzes na parte dianteira de Ralston House ardiam detrás dele, pondo seu rosto na sombra, mas era impossível deixar de notar a forma em que a cálida luz amarela iluminava sua massa de cachos de ouro, convertendo-o em um escuro anjo caído do Paraíso, negando-se a retornar ao seu esplendor.

Ela sentiu uma sutil mudança nele, uma tranquila tensão quase imperceptível de seus amplos ombros e sabia que tinha sido descoberta. Juliana sabia que deveria estar agradecida por sua discrição quando ele abriu a porta, eliminando qualquer espaço por onde outros pudessem vê-la, mas quando subiu na carruagem com facilidade, sem a ajuda de um servente nem degraus, a gratidão estava longe de ser o que estava sentindo.

O pânico era uma emoção mais precisa. Tragou saliva, com um só pensamento gritando em sua mente. Deveria ter avaliado melhor suas possibilidades com Grabeham. Porque, certamente, não havia ninguém mais no mundo que gostaria de encarar, ao menos nesse momento em particular, que o insuportável e intocável, Duque de Leighton.

Sem dúvida, o universo estava conspirando contra ela.

A porta se fechou atrás dele com um suave clique, e ficaram sozinhos. O desespero aumentou, empurrando-a em um movimento, e lutou com a porta perto dela, ansiosa por escapar. Seus dedos procuraram as alças.

— Eu não o faria se fosse você. — As tranquilas e frias palavras a irritaram a medida que atravessavam a escuridão.

Tinha havido um momento em que ele não tinha estado tão distante dela. Antes que ela tivesse jurado não voltar a falar com ele de novo. Ela tomou uma respiração rápida, estabilizadora, negando-se a lhe permitir que pusesse sua mão em cima.

— Embora lhe agradeça pela sugestão, Sua Graça, perdoe-me que não a siga. — Ela apertou a manivela, fazendo caso omisso da ardência na mão pela pressão da madeira, e puxou para liberar o fecho. Ele se moveu como um raio, apoiando-se na carruagem e sustentando a porta, a fechando com pouco esforço.

— Não era um conselho. Golpeou o teto da carruagem duas vezes, com firmeza e sem vacilações. O veículo entrou em marcha imediatamente, como se só sua vontade dirigisse seu curso, e Juliana amaldiçoou a todos os choferes bem treinados, já que caiu para trás, e seu pé ficou preso na bainha de seu vestido, rasgando o cetim ainda mais. Ela deu um pulo ao ouvir um som, muito forte no silêncio pesado, e passou a palma da mão suja, com nostalgia, pelo tecido precioso de seu arruinado vestido.

— Meu vestido está em ruínas. — Ela teve o prazer de dizer que ele tinha tido algo a ver com isso. E não precisava saber que o vestido se arruinou muito antes que ela mesma aterrissasse dentro de sua carruagem.

— Sim, bem, eu não consigo parar de pensar em uma série de maneiras em que você poderia ter evitado tal tragédia esta noite. — As palavras estavam desprovidas de arrependimento.

— Sim, claro, sabe eu não tive muitas opções. — Imediatamente se odiou por haver dito isso em voz alta.

Sobre tudo a ele. Ele virou a cabeça para ela no momento que um poste de luz na rua enviava um feixe de luz de prata através da janela da carruagem, deixando-o em evidência. Ela tratou de não fixar-se nele. Tratou de não dar-se conta de como cada centímetro de seu corpo levava a marca de sua excelente criação, de sua nobre história, o nariz reto e aristocrático, o perfeito queixo quadrado, as altas maçãs do rosto que deveriam havê-lo feito parecer feminino, mas que só o faziam ser mais atraente.

Ela deu um pequeno bufo de indignação. O homem tinha umas maçãs do rosto ridículas. Nunca tinha conhecido a alguém tão bonito. — Sim — ele respondeu, arrastando as palavras — imagino que é difícil tratar de estar à altura de uma reputação como a sua.

A luz desapareceu e foi substituída pela acidez de suas palavras. Nunca tinha conhecido a ninguém que fosse um perfeito “bundão”.

coincidência, no momento adequado e pelo homem correto, quem imagino realizou o trabalho exatamente da mesma maneira que os outros homens. Senza Finezza.

Ela se deteve, os batimentos de seu coração retumbavam em seus ouvidos enquanto as palavras penduravam entre eles, seu eco forte na escuridão. Senza Finezza. Foi só então que se deu conta de que, em algum momento de seu discurso, trocou para o italiano.

Ela só podia esperar que ele não tivesse entendido. Houve um longo momento de silêncio, um grande vazio atordoado, que ameaçava sua saúde mental. E então a carruagem se deteve. Ficaram sentados ali por um momento interminável, ele ainda como uma pedra, ela se perguntava se permaneceriam ali no veículo durante o resto dos tempos, antes que ouvisse o som de tecido movendo-se. Ele abriu a porta, que se balançou para fora.

Ela começou a escutar o som de sua voz, baixa e sombria e muito, muito mais perto do que esperava. — Saia da carruagem. Falava italiano. Perfeitamente. Ela engoliu a saliva. Bom. Ela não estava disposta a pedir desculpas. Não depois de todas as coisas terríveis que lhe havia dito. Se ele ia atirá-la da carruagem, que assim fosse. Ela retornaria a sua casa caminhando. Orgulhosamente.

Talvez alguém fosse capaz de lhe apontar a direção correta. Deslizou pelo chão da carruagem para fora, voltando-se e esperando para ver como a porta se fechava detrás dela. Mas, em lugar disso, ele saiu atrás dela, ignorando-a à medida que avançava pelas escadas de sua casa na cidade. A porta se abriu antes de chegar ao degrau mais alto. Como se as portas, igual que todo o resto, se inclinasse a sua vontade.

Ela viu como entrou no vestíbulo iluminado mais à frente, e um grande cão marrom aparecia torpemente para saudá-lo com exuberante alegria.

Bom. Até aqui chegava a teoria de que os animais podiam perceber o mal. Ela sorriu ante a ideia, e ele deu meia volta quase imediatamente, como se ela tivesse falado em voz alta. Seus cachos dourados estavam uma vez mais, repartidos em relevo angélico, enquanto lhe dizia:

— Dentro ou fora, senhorita Fiori. Você põe a prova minha paciência. Ela abriu a boca para falar, mas ele já tinha desaparecido da vista. Por isso escolheu o caminho de menor resistência.

Ou, ao menos, o caminho que era menos provável que terminasse em sua ruína, numa calçada de Londres, no meio da noite.

Ela o seguiu para dentro. Quando a porta se fechou atrás dela e o criado se apressou a seguir a seu amo para qualquer lugar que donos e lacaios fossem, Juliana fez uma pausa na porta de entrada iluminada, detendo-se no amplo vestíbulo de mármore com seus espelhos dourados nas paredes, que serviam para fazer que o grande espaço parecesse maior ainda. Havia meia dúzia de portas que davam aqui e ali, e um corredor longo e escuro que se estendia longamente no interior da casa.

O cão estava sentado na parte inferior da ampla escada, que conduzia aos pisos superiores da casa, e sob o silencioso escrutínio canino, Juliana estava de repente, vergonhosamente, consciente do fato de que ela estava na casa de um homem solteiro.

Desacompanhada. Com a exceção de um cão. Que já se revelara como um péssimo juiz de caráter. Callie não aprovaria. Sua cunhada a tinha advertido especificamente a fim de evitar situações deste tipo. Temia que os homens se aproveitassem de uma mulher italiana jovem com pouca compreensão da estreiteza britânica.

— Enviei uma mensagem a Ralston para que venham procurá-la. Você pode esperar no... — Ela levantou a vista quando ele se deteve em seco, e encontrando com o seu olhar, que se nublou com algo que, se não o conhecesse, poderia chamar-se preocupação.

Ela, entretanto, conhecia-o bem. — No...? — Continuou ela, perguntando-se por que ele estava se aproximando dela a um ritmo alarmante.

— Meu Deus. O que lhe passou?


— Alguém a atacou — ele continuou. Juliana viu como Leighton serviu dois dedos de uísque em um copo de cristal e lhe aproximou a bebida de onde ela estava sentada em uma das cadeiras de couro de grande tamanho em seu estudo. Ele empurrou o copo para ela, mas negou com a cabeça.

— Não, obrigada. — Você deve tomá-lo. Resultar -á calmante. Ela o olhou. — Eu não estou precisando me acalmar, Sua Graça. Seu olhar se estreitou, e ela se negou a afastar o olhar do retrato da nobreza inglesa que ele representava, alto e imponente, com boa aparência, de fato, quase insuportável e uma expressão de total e absoluta confiança fazendo ver que em sua vida jamais tinha sido questionado.

Jamais, até agora. — Nega que alguém a atacou? Ela encolheu um dos ombros sem dizer nada, e permaneceu tranquila. O que podia dizer? O que podia lhe dizer que não pudesse se voltar contra ela? Ele diria, nesse tom imperioso e arrogante, que se tivesse sido mais uma dama... Se tivesse tido mais cuidado com sua reputação... Se ela tivesse se comportado mais como uma inglesa e menos como uma italiana... Então tudo isto não teria acontecido. Ele a tratava como todos outros.

Tal como o tinha feito do momento em que tinha descoberto sua identidade. — Importa? Estou segura de que vai decidir que eu organizei esse ataque com o fim de apanhar a um marido. Ou algo igualmente ridículo. — Ela tinha tido a intenção de que as palavras lhe chocassem, mas não o fizeram.

Em troca, ele a olhava de cima abaixo, com um olhar longo e frio, tendo em conta o estado de sua face e de seus braços, marcas de arranhões, seu vestido arruinado, rasgado em dois lugares, manchado de sujeira e o sangue de suas palmas cortadas.

Um dos lados de sua boca se torceu no que ela imaginava que era um pouco parecido ao asco, e não pôde evitar dizer:

— Estão machucadas e ensanguentadas. Necessitam limpeza. Ela não queria que ele a tocasse. Não confiava em si mesma. — Elas estão muito bem. Ele fez um grunhido, frustrado, e o som enviou um calafrio através dela. — É certo o que dizem dos italianos. — ficou enrijecida ante as palavras que continham a promessa de um insulto.

— Que somos superiores em todos os sentidos? — É impossível para você admitir a derrota. — Um traço que serve muito bem a César. — E como está indo o Império Romano nestes dias? O tom casual e superior lhe dava vontade de gritar insultos em sua língua nativa. Esse homem era impossível. Olharam-se um ao outro durante um longo minuto, nenhum disposto a recuar até que finalmente ele falou.

— Seu irmão estará aqui a qualquer momento, senhorita Fiori. E vai ficar o suficientemente furioso ainda sem ver suas palmas ensanguentadas.

Ela baixou o olhar para sua mão. Tinha razão, é obvio. Ela não tinha mais remédio que estender a ele.

— Isto vai doer. — As palavras foram a única advertência antes que passasse o polegar sobre a palma brandamente investigando a pele ferida ali, agora com crostas de sangue seco. Ela conteve o fôlego com o toque.

Ele a olhou ao escutá-la. — Desculpe-me. Ela não respondeu, e em seu lugar, começou a investigar as feridas de sua outra mão. Não lhe permitiria ver que não era a dor o que lhe impossibilitava respirar. Ela já esperava, é claro, essa reação inegável e não desejada, que a ameaçava cada vez que o via. Que surgia em seu interior quando ele se aproximava.

Era aversão física. Ela estava certa disso. Ela nem sequer pensaria na possibilidade de outra alternativa. Tentando fazer uma avaliação clínica da situação, Juliana olhou suas mãos, quase entrelaçadas. O calor na sala aumentou imediatamente e foi ficando cada vez mais quente.

Ele tinha umas mãos grandes, dedos longos e bem cuidados, polvilhados com finos pelos de ouro. Deslizou um dedo brandamente sobre a perversa contusão que tinha aparecido no pulso, e ela levantou o olhar e o encontrou olhando a pele cor púrpura.

— Você me dirá quem lhe fez isto. Havia uma certeza fria nas palavras, como se quisesse fazer sua vontade, e ele, a sua vez, dirigisse a situação. Mas Juliana o conhecia melhor. Este homem não era um cavalheiro. Ele era um dragão. O líder deles.

— Diga-me, Sua Graça, como é acreditar que sua vontade existe unicamente para fazer-se? Seu olhar voou para ela, obscurecido pela irritação. — Você me dirá senhorita Fiori. — Não, não o farei. Ela devolveu a atenção a suas mãos. Não era frequente que Juliana se sentisse delicada já que era mais alta que quase todas as mulheres e muitos dos homens em Londres, mas este homem a fazia sentir-se pequena. Seu polegar era apenas maior que o menor de seus dedos, que levava o anel com o selo de ouro e ônix que era uma prova de seu título.

Um aviso de sua estatura. E do longe que ele acreditava que ela estava debaixo dele. Ela levantou o queixo ante aquele pensamento, a ira e o orgulho ferido a queimavam em uma corrida quente de sentimentos, e nesse preciso momento, ele tocou a pele danificada da palma de sua mão com o linho úmido. A dor aguda a distraiu de seus pensamentos ao tempo que soltava uma maldição em italiano.

Ele não se deteve em seus cuidados enquanto lhe dizia: — Eu não sabia que dois animais fariam uma coisa assim. — É descortês você escutar o que eu disse. — É bastante difícil não escutar se estiver a escassos centímetros de mim, gritando seu mal-estar. — As damas não gritam. — Parece que as damas italianas o fazem. Em particular, quando estão sob tratamento médico. Ela resistiu à tentação de sorrir. Ele não era divertido. Ele baixou a cabeça e se concentrou em sua tarefa, enxaguar o pano de linho na bacia de água limpa. Ela estremeceu enquanto o tecido fresco retornava a percorrer sua mão, e o viu duvidar brevemente antes de continuar.

A pausa momentânea a intrigava. O duque de Leighton não era conhecido por sua compaixão. Era conhecido por sua indiferença arrogante, e ela ficou surpresa que ele tinha descido tão baixo para executar uma tarefa servil como a limpeza do cascalho em suas mãos.

— Por que faz isto? — Espetou na seguinte passada do linho. Ele não deteve seus movimentos. — Eu disse. Seu irmão vai estar bastante difícil de se lidar, sem contar com que derrame todo seu sangue sobre você mesma. E sobre meu mobiliário.

— Não. — Ela sacudiu a cabeça. — Quero dizer, por que faz isto? Não tem um batalhão de serventes que estão esperando para levar a cabo uma tarefa tão desagradável?

— Eu o faço — E o que? — Os serventes falam senhorita Fiori. Eu preferiria que tão poucas pessoas como fosse possível saibam que está aqui, sozinha, e a esta hora.

Ela era um problema para ele. Nada mais. Depois de um longo silencio, encontrou-se com seu olhar.

— Não, senhorita Fiori. Não estou preocupado por sua reputação. É obvio que não estava. — Estou preocupado pela minha. A implicação de ser encontrado com ela, que os vinculassem, pudesse danificar sua reputação, ardeu talvez mais que os machucados que teve em suas mãos mais cedo essa noite.

Ela respirou fundo, preparando-se para a batalha verbal que viria a seguir, quando soou uma voz furiosa da porta.

— Se você não tirar as mãos de cima da minha irmã neste mesmo instante, Leighton, sua apreciada reputação será o menor de seus problemas.

CAPÍTULO 2

Há uma razão pela qual as saias são longas e os cordões dos sapatos são complexos. A dama refinada não expõe seus pés. Nunca.

Um tratado da mais refinada das damas. Aparentemente, malandros reformados encontram um pouco de desafio em um dever fraternal. A Folha do Escândalo, outubro 1823.

E ra muito possível que o marquês de Ralston fosse matá-lo. Não é que Simon tivesse nada que ver com o estado atual da senhorita. Não foi sua culpa que tivesse aterrissado em sua carruagem depois de batalhar com, pelo que ele podia adivinhar, um arbusto de azevinho, os paralelepípedos da antiga Casa Ralston, e a quina de sua carruagem.

E um homem. Simon Pearson, décimo primeiro Duque de Leighton, fez caso omisso da ira feroz que estalou em seu interior, ante a ideia da contusão púrpura que rodeava o pulso da moça e voltou sua atenção a seu furioso irmão, que estava atualmente rodeando o perímetro do estúdio de Simon como um animal enjaulado.

O marquês se deteve frente a sua irmã e encontrou sua voz. — Pelo amor de Deus, Juliana. Que diabos te passou? A linguagem teria feito ruborizar a qualquer mulher. Juliana não se alterou. — Eu caí. — Você caiu. — Sim. — Fez uma pausa. — Entre outras coisas. Ralston olhou ao teto como pedindo paciência. Simon reconheceu a emoção. Ele tinha uma irmã também, que lhe tinha dado algo mais além da sua cota de frustração.

E a irmã de Ralston era mais irritante do que nenhuma mulher devia ser. Mais bela, também. Ficou rígido ante tal pensamento. É obvio, ela era formosa. Era um fato empírico. Inclusive com seu vestido manchado, rasgado, deixava à maioria das outras mulheres de Londres envergonhadas. Ela era uma mescla surpreendente de delicada pele de porcelana inglesa, líquidos olhos azuis, nariz perfeito, e um insolente e exótico

Bom. Ao menos estavam de acordo em algo. Um momento! Ela não queria casar-se com ele? Ela poderia fazer uma condenada cena ou pior. Ele era um Duque, pelo amor de Deus! E ela era um escândalo ambulante.

A atenção de Ralston tinha retornado para sua irmã. — Você se casará com quem eu lhe diga que se case se continuar com este comportamento ridículo, irmã.

— Prometeu-me... — começou. — Sim, bom, não estava sendo acossada nos jardins quando fiz essa promessa. — A impaciência se intuía no tom de Ralston. — Quem te fez isto?

— Ninguém. A resposta muito rápida o irritou. Por que não ia revelar quem lhe tinha feito mal? Talvez ela não tenha querido falar sobre o assunto em privado com Simon, mas por que não com seu irmão?

Por que não permitir que se tomassem as represálias? — Não sou um idiota, Juliana. — Prosseguiu Ralston caminhando. — Por que não me diz isso? — Tudo o que precisa saber é que eu manejei bem a situação. Ambos os homens congelaram. Simon não pôde resistir à tentação. — Manejou, como? Fez uma pausa, sustentando seu pulso machucado com a mão de uma maneira que lhe fez perguntar-se se poderia ter sofrido uma entorse.

— Bati nele. — Onde? — Exclamou Ralston. — Nos jardins. O marquês olhou ao teto e Simon teve piedade dele. — Acredito que seu irmão estava perguntando em que parte você golpeou seu atacante. — Oh! No nariz. — Ela fez uma pausa ante o silêncio de surpresa que seguiu, e logo disse à defensiva: — Ele mereceu!

— E maldição que o merecia — Ralston esteve de acordo. — Agora me dê seu nome e vou acabar com ele.

— Não. — Juliana. O golpe de uma mulher não é castigo suficiente por seu ataque. Ela entrecerrou o olhar sobre seu irmão: — Sério? Bom, havia uma grande quantidade de sangue tendo em conta que foi o golpe de uma mulher, Gabriel.

Simon piscou. — Você lhe fez sangrar o nariz. Um sorriso cruzou seu rosto. — Isso não foi tudo o que fiz.

É obvio que não. — Não me atrevo a perguntar... — Simon cutucou. Ela olhou-o, e logo a seu irmão. Estava ruborizada? — O que foi que fez? — Eu... O golpeei... Em outros lugares. — Onde? — Em seu... — Ela vacilou, torcendo a boca enquanto procurava a palavra, logo desistiu. — Em seu inguine.

Se não tivesse entendido perfeitamente o italiano, o movimento circular de sua mão sobre uma área que geralmente acreditava que era totalmente inapropriado para a discussão por uma jovem de boa criação, tinha sido inconfundível.

— Oh, Meu Deus. — Não estava claro se as palavras de Ralston se entendiam como uma reza ou uma blasfêmia.

O que estava claro era que a mulher era uma gladiadora. — Chamou-me uma torta! — anunciou, à defensiva. Houve uma pausa. — Espera. Isso não está certo. — Uma furcia4? — Sim! Isso! — Ela avistou os punhos de seu irmão e olhou Simon. — Vejo que não é um elogio. Era duro para ele escutar por cima do rugido em seus ouvidos. Ele gostaria de ter em seu punho ao homem.

— Não. Não é. Ela o pensou por um momento. — Bom, então merecia o que recebeu, ou não? — Leighton. — Ralston encontrou sua voz. — Há algum lugar onde minha irmã possa esperar enquanto você e eu falamos?

Os sinos de alarme soaram fortes e estridentes. Simon ficou em pé, desejando acalmar-se. — É obvio. — Vocês vão discutir sobre mim — exclamou Juliana. A mulher alguma vez mantinha um pensamento para si mesmo? — Sim — anunciou Ralston. — Eu gostaria de ficar. — Estou seguro de que sim. — Gabriel... — ela começou, em um tom suave que Simon só tinha ouvido alguma vez utilizar com os cavalos salvos e com os internos de asilos.

— Não tente a sorte, irmã. Fez uma pausa, e Simon viu com incredulidade como ela considerava seu próximo curso de ação. Por último, encontrou-se com seu olhar, seus olhos azuis brilhantes piscando com irritação.