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Identidades Coletivas: Geeks e Consumo de Ficções e Fantasias, Exercícios de Cultura

Este documento explora como o consumo de produtos por geeks influencia na construção da identidade coletiva dessa comunidade urbana. O artigo aborda a importância da compreensão das complexidades incorporadas à identidade e as múltiplas afiliações e vínculos na construção identitária, utilizando perspectivas teóricas sobre o consumo e estudos de identidade organizacional. O documento discute a importância do consumo simbólico e como ele contribui para a construção de identidades coletivas, desafiando a ideia de uma identidade organizacional unívoca.

Tipologia: Exercícios

2022

Compartilhado em 07/11/2022

A_Santos
A_Santos 🇧🇷

4.4

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“Territórios simbólicos de identidadesGeeks : o consumo de fantasias e ficções na
construção das identidades coletivas de uma tribo urbana
Paulo Júnio dos Santos
Andre Francisco Alcântara Fagundes
Cintia Rodrigues de Oliveira
Resumo
Neste estudo, nosso objetivo é compreender como o consumo de produtos por geeks atuam na
construção da identidade de indivíduos que se reconhecem como pertencentes a essa tribo
urbana. Os geeks são considerados membros engajados e fascinados em um tópico relacionado
a universos de fantasia e ficção científica, e, admitindo-se uma micro-escola, constituem-se em
um território de identidade. Como abordagem teórica, esta pesquisa busca promover um
diálogo entre os estudos que utilizam a Consumer Culture Theory (CCT) e os estudos de
identidade organizacional, com o entendimento de que as tribos urbanos é um tipo de
organização. O corpus de pesquisa é composto por entrevistas com 16 pessoas que se
identificam como geeks, sendo essas analisadas pela categorização temática. Os resultados
sugerem que o início do consumo de produtos geek ocorre ainda durante a infância, se
estendendo até a fase adulta, sendo influenciado por personagens dos universos de fantasia e
ficção. Os produtos consumidos contêm elementos simbólicos de fantasias e ficções de maneira
que esses passam a representar a extensão do eu dos membros da tribo, sendo uma forma de
construir as identidades coletivas de uma tribo urbana, neste caso, os geeks. Nós mostramos que
estudos de identidade organizacional podem promover um maior diálogo com a CCT para
entender as complexidades incorporadas à identidade e as múltiplas afiliações e vínculos na
construção identitária das pessoas que constituem uma organização.
Palavras Chave: Tribos Urbanas. Identidade Organizacional. Identidades coletivas.
1 Introdução
Em uma perspectiva pós-moderna, as pessoas substituem o individualismo pela
identificação com um grupo, formando comunidades emocionais, como as tribos urbanas,
substituindo as grandes massas a partir de uma emoção coletiva. Maffesoli (2006) propõe a
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“Territórios simbólicos de identidades” Geeks : o consumo de fantasias e ficções na construção das identidades coletivas de uma tribo urbana Paulo Júnio dos Santos Andre Francisco Alcântara Fagundes Cintia Rodrigues de Oliveira Resumo Neste estudo, nosso objetivo é compreender como o consumo de produtos por geek s atuam na construção da identidade de indivíduos que se reconhecem como pertencentes a essa tribo urbana. Os geeks são considerados membros engajados e fascinados em um tópico relacionado a universos de fantasia e ficção científica, e, admitindo-se uma micro-escola, constituem-se em um território de identidade. Como abordagem teórica, esta pesquisa busca promover um diálogo entre os estudos que utilizam a Consumer Culture Theory (CCT) e os estudos de identidade organizacional, com o entendimento de que as tribos urbanos é um tipo de organização. O corpus de pesquisa é composto por entrevistas com 16 pessoas que se identificam como geek s, sendo essas analisadas pela categorização temática. Os resultados sugerem que o início do consumo de produtos geek ocorre ainda durante a infância, se estendendo até a fase adulta, sendo influenciado por personagens dos universos de fantasia e ficção. Os produtos consumidos contêm elementos simbólicos de fantasias e ficções de maneira que esses passam a representar a extensão do ‘eu’ dos membros da tribo, sendo uma forma de construir as identidades coletivas de uma tribo urbana, neste caso, os geeks. Nós mostramos que estudos de identidade organizacional podem promover um maior diálogo com a CCT para entender as complexidades incorporadas à identidade e as múltiplas afiliações e vínculos na construção identitária das pessoas que constituem uma organização. Palavras Chave: Tribos Urbanas. Identidade Organizacional. Identidades coletivas. 1 Introdução Em uma perspectiva pós-moderna, as pessoas substituem o individualismo pela identificação com um grupo, formando comunidades emocionais, como as tribos urbanas, substituindo as grandes massas a partir de uma emoção coletiva. Maffesoli (2006) propõe a

metáfora “tribo urbana” para se referir a grupos sociais que constituem a sociedade pós- moderna, como um estímulo à reflexão sobre os processos identitários no contexto urbano. Nessa perspectiva, os estudos sobre a construção da identidade organizacional adquirem maior relevância, visto que podem apontar as diversas articulações que atuam nesse processo. Hall (2011) argumenta que a identidade do indivíduo está sempre em construção, já que essa é formada a partir de processos inconscientes que se desenvolvem a partir das vivências da pessoa, considerando relações culturais e sociais, de maneira que as características internas do indivíduo são somadas com o mundo público (Hall, 2011). Os bens podem representar, de maneira simbólica, a extensão do ‘eu’, a partir do momento em que esses preservam o senso de identidade do indivíduo (Belk, 1988). Os membros de uma tribo urbana seguem um determinado padrão estético e consomem produtos similares para que possam se diferenciar dos demais indivíduos (Casotti et al., 2013), portanto, o consumo pode ser entendido como uma estratégia para escolha do estilo de vida, ou seja, é um elemento formador da identidade. Assim, símbolos específicos e sentimentos compartilhados unem os indivíduos pertencentes às tribos urbanas (Cova & Cova, 2002), como a dos geek s. O geek é uma variação do nerd , sendo um indivíduo com maior interesse em tecnologia, contrastando, cultural e fisicamente, com a masculinidade heterossexual hegemônica (Quail, 2011). Fernandes e Rios (2011) explicam que a palavra nerd foi utilizada pela primeira vez para apresentar uma criatura estranha no livro If I ran the zoo , de Theodore Seuss Geisel, em 1950. A partir disso, o termo começou a ser utilizado como adjetivo relacionado a indivíduos socialmente inadaptados, devido à dificuldade de interação social, com interesse em informática e elementos da cultura relacionados a universos de fantasia e ficção científica, como filmes, quadrinhos, séries, livros e games (Quail, 2011). Aqueles que possuíam essas características passaram a ser inferiorizados e estigmatizados, devido à construção de um estereótipo marcado por características que eram consideradas como fraquezas pelos demais membros da sociedade (Goffman, 2004). Sugarbaker (1998) considera o geek como um indivíduo engajado e fascinado em um tópico, geralmente relacionado à ciência, tecnologia e cultura (fantasia e ficção científica), que se reúne com outras pessoas que têm o mesmo interesse para compartilhar experiências relacionadas ao tema. A ascensão da cultura geek surge com a popularização da internet, a idolatria de figuras do Vale do Silício, como Steve Jobs, e a expansão do consumo de produtos relacionados a super-heróis (Santos, 2014).

a dimensão consumo é discutida por Faria e Guedes (2005, p. 8 ), que estimulam o questionamento sobre o afastamento desses dois campos, argumentando que grupos de consumidores merecem ser tratados como organizações e propondo que o “mercado de consumo seja abordado pela área de estudos organizacionais no Brasil [...]”. Nessa direção, Arnould et al. (2019) sinalizam para outras áreas com oportunidades para dialogar com a CCT: interações com indústria, empreendedores e outras instituições, ecossistemas de negócios e a legitimidade de negócios, inovações e novos modelos de negócios, cadeia de suprimentos, entre outras. As pesquisas sobre identidade organizacional realizadas na perspectiva pós-moderna consideram que as organizações lidam com públicos, que podem ser tribos de consumidores, de diferentes aspectos, portanto, essas precisam compreender as diversas fontes de ligação estabelecidas com o sujeito pós-moderno, tais como o consumo, o trabalho e outras formas (Carrieri, Paula, & Davel, 2008). A proposta desse diálogo poderá contribuir para avançar na compreensão de como os consumidores de grupos ou comunidades, ou de um tipo de organização que não existe enquanto entidade fixa e estática, constroem e comunicam suas identidades, performando uma espécie de território, na concepção culturalista de Haesbaert (200 7 ). O artigo está assim estruturado: depois desta introdução, discute-se a perspectiva teórica da pesquisa, que é o consumo sob uma perspectiva cultural e simbólica e a aproximação dos estudos de identidade organizacional e estudos de consumo; em seguida, apresentam-se os procedimentos da pesquisa e os resultados. As considerações finais encerram o artigo. 2 Consumo Sob Uma Perspectiva Cultural e Simbólica Os estudos sobre o comportamento do consumidor representam um campo dinâmico com abertura para diferentes abordagens, destacando-se três diferentes perspectivas: Behaviorial Decision Theory , que tem como base a economia e a psicologia cognitivista, com foco nos aspectos racionais do consumo; Information Processing , que estuda o processo de tomada de decisão do consumidor considerando as emoções e o processos de informação; e a Consumer Culture Theory (CCT), que assume uma perspectiva interpretativista (Casotti & Suarez, 2016), sendo esta última a abordagem adotada nesta pesquisa. A virada pós-moderna na TCC, assim como em outras perspectivas, baseia-se nas críticas ao modernismo e no ceticismo ao projeto moderno, argumentando que as instituições

de marketing criam significados e representações, construindo as realidades em que vivemos (Arnould et al., 2019). A CCT propõe um contexto interdisciplinar (Vera, Gosling, & Shigaki, 2019) para entender como os consumidores participam do processo de criação e significados (Arnould & Thompson, 2005). Essa abordagem considera a complexidade cultural existente, explorando a distribuição heterogênea de significados e a multiplicidade de agrupamentos culturais, em vez de trabalhar a cultura como sistema homogêneo de valores unificados e significados compartilhados coletivamente. De forma mais ampla, os estudos da CCT exploram o modo como os “consumidores reformulam e transformam significados simbólicos codificados em anúncios, marcas, varejo ou bens materiais para manifestar suas circunstâncias pessoais e sociais particulares e promover sua identidade e estilos de vida” (Arnould & Thompson, 2005, p. 871). A abordagem da CCT coloca a interpretação, a reflexividade do pesquisador e a narrativa no centro da pesquisa (Arnould et al., 2019), considerando o conceito de cultura a partir da análise da distribuição heterogênea de significados e da multiplicidade de agrupamentos culturais dentro do contexto histórico, social e cultural amplo. Utilizando-se de perspectivas teóricas que buscam compreender as relações dinâmicas entre as ações do consumidor, o mercado e os significados culturais (Casotti & Suarez, 2016; Gaião, Souza, & Leão, 2012; Vera, Gosling, & Shigaki, 2019), a CCT trabalha com um conjunto distinto de conhecimento teórico sobre comportamentos de consumo e mercado dentro dos estudos sobre o comportamento do consumidor (Arnould & Thompson, 2005). Ao estudarem a relação entre cultura e consumo, Arnould e Thompson (2005, p. 869) defendem que “a cultura do consumo denota um arranjo social no qual as relações entre cultura vivida e recursos sociais, e entre modos de vida significativos e os recursos simbólicos e materiais de que dependem, são mediadas pelos mercados”. Nesse sentido, ao trabalhar a percepção do sujeito como consumidor, a CCT se constitui em uma escola de pensamento independente dentro desse campo, comportando diversas perspectivas teóricas que compartilham de uma mesma orientação de pesquisa (Gaião, Souza, & Leão, 2012). Embora a CCT tenha assumido sua importância nos estudos internacionais e nacionais sobre o comportamento do consumidor, ela não se desenvolveu sem críticas, por exemplo, de se constituir em uma visão hegemônica de um campo polifônico e diverso; o rótulo de CCT faz alusão à existência de uma teoria da cultura de consumo, no entanto, é uma abordagem ou uma perspectiva analítica, e não uma teoria; o foco da teoria é o indivíduo; e, principalmente, pela predominância de métodos qualitativos nas pesquisas, que dificultam a generalização e “geram

(Douglas & Isherwood, 2004, p. 103), sendo esses considerados partes materiais do estudo cultural, já que ganham significados a partir das interações sociais. Ao considerar o estudo de uma sociedade composta por diferentes grupos, os significados dos bens podem sofrer alterações no decorrer do tempo e das interações sociais, porém, os rituais existentes dentro de uma sociedade auxiliam na construção de significados. Nessa perspectiva, Douglas & Isherwood (2004, p. 110) acreditam que os bens podem ser considerados instrumentos nesses rituais sociais, visto que “o consumo é um processo ritual cuja função primária é dar sentido ao fluxo incompleto dos acontecimentos”. As atitudes da pessoa em relação aos materiais evidenciam as características das dimensões culturais relacionadas ao processo consumo, havendo uma relação entre as propriedades dos mais diversos materiais e “os padrões culturais que fazem essas propriedades terem significado” (Fisher, 2006, p. 104). Campbell (2006) traz que o consumo tem importância central na vida do indivíduo, tendo se tornado um padrão dentro das sociedades ocidentais contemporâneas, nas quais a individualidade é o principal critério nas escolhas de consumo (Barbosa, 2004). Ele pode ser considerado uma reação de criação de significado e identidade para o sujeito em relação ao senso de insegurança, propiciando as bases para a percepção do real na sociedade, a partir do qual é possível extrair o objetivo de vida. Com relação ao consumo simbólico, estudos como o de Quintão, Brito e Belk (2017) sobre o consumo de cafés especiais, que aborda a perspectiva do consumidor apreciador em relação aos demais, apresentam a construção de rituais de consumo e apreciação, gerando a percepção de diferenciação. Andrade et. al (2017) entendem que o consumidor pode desenvolver crenças e atitudes atreladas a significados considerados verdadeiros, de maneira que o produto ultrapassa a barreira do utilitarismo e passa a possuir características simbólico- hedônicas. Ainda sobre o simbolismo e hedonismo atribuído pelo consumidor, Rodrigues e Casotti (2017) apontaram que um produto pode possuir um significado cultural, o qual passa a ser considerado como um elemento que auxilia na construção e projeção da identidade do possuidor. Na perspectiva pós-moderna, em que a crença modernista da ciência perde lugar para a pluralidade de narrativas, o consumo é carregado de simbolismos, o real e a aparência se confundem, os mercados consumidores produzem suas necessidades, os produtos antes desejados pela sua utilidade são agora substituídos por resíduos e poluição. As implicações dessa perspectiva são relações sociais fluidas e fragmentadas, e, portanto, as identidades dos consumidores, que buscam vários projetos de identidade, também são fragmentadas, visto que

o consumo aborda uma variedade de projetos e não decorre de uma escolha racional ou utilitária, mas, sim, simbólica (Arnould et al., 2019). A revisão da literatura sobre a CCT é relevante no contexto contemporâneo, em que microculturas ou tribos cada vez mais orientam esse comportamento (Moraes & Abreu, 2017). O estudo dos significados e práticas sociais compartilhadas por membros de um grupo ou comunidades de consumo (Casotti & Suarez, 2016), no caso desta pesquisa, a tribo urbana geek , contribui para o entendimento do modo como o consumo atua na construção de identidades de um grupo, comunidade ou tribo, desconstruindo os preceitos de segmentação por características individuais (Cova & Salles, 2008), e desafiando a ideia de uma identidade organizacional unívoca (Carrieri, Paula e Davel, 2008) e integradora desenhada por uma cúpula organizacional. É nessa perspectiva que a aproximação entre a CCT e os estudos organizacionais se configuram como promissores para a compreensão da construção de identidades organizacionais em tipos de organizações que não as tradicionalmente consideradas pelos teóricos organizacionais (Caldas & Wood Jr, 1997). 3 Identidades Organizacional: articulações teóricas entre a CCT e os Estudos Organizacionais As articulações teóricas entre o estudos de consumo e os Estudos Organizacionais não apenas são possíveis como também necessárias (Faria & Guedes, 2008). Knights & Morgan (1993) ponderam que os estudos organizacionais falharam ao negligenciar o campo dos estudos de consumo. Segundo os autores, houve um interesse nos estudos de consumo por parte dos círculos da sociologia, estimulado pelos escritos de Castells, na década de 1970. Porém, por parte dos principais periódicos da área de estudos organizacionais, não houve evidências de que o consumo seria um tópico relevante para o campo, no entanto, conforme os autores, essa lacuna de interesse é um caso de miopia institucionalizada do campo, pois, “nas sociedades industriais, o consumo ocorre através da mediação das organizações. As organizações são os locais nos quais as pessoas compram bens e serviços” (Knights & Morgan, 1993, p. 212). Para além das questões que relacionam a produção e o consumo, Knights e Morgan (1993) mostraram como o consumo é relevante para os estudos das organizações e, em particular, questões relativas à natureza do poder e da identidade nas sociedades modernas, visto que o consumo atua na constituição da identidade social.

A identidade do sujeito não é formada no momento de seu nascimento, mas, sim, através de processos inconscientes no decorrer do tempo (Hall, 2011), permanecendo incompleta, já que está sempre em processo de construção e formação. Em Teoria Social, o termo comunidade diz respeito a uma formação social marcada por uma densa rede de interações sociais, por um território compartilhado ou, no mínimo, pela identidade (Arvidsson, 2013). Nessa direção, Stets e Burke (2000) argumentam que a identidade do indivíduo pode ser afetada pela identidade social, de maneira que os sujeitos que se entendem como membros de uma mesma categoria social ou possuem uma identificação compõem um grupo social. O pertencimento a um grupo pode fazer com que o sujeito se sinta confiante e autêntico ao passo que considera que sua foi verificada. Bauman (2005) considera que, devido ao fato de vivermos em um mundo policultural, a identidade do sujeito é construída a partir da exposição às chamadas comunidades em que ele possui convívio social, as quais são formadas com base em ideias e princípios. Porém, o autor ressalta que ao considerar as comunidades, a identidade do sujeito é formada após o real sentimento de pertencimento dele dentro desse contexto social, considerando que “[...] o pertencimento e a identidade não têm a solidez de uma rocha, não são garantidos para toda a vida, são bastante negociáveis e revogáveis [...] (Bauman, 2005, p. 17). Compreender o consumo por lentes alternativas à abordagem individualística é assumir que as práticas de consumo não resultam das decisões do consumidor isoladamente, mas, sim, de um sistema em que sujeitos e contexto estão em interações. Práticas consistem em elementos interconectados, ou seja, a prática não se reduz a nenhum desses elementos isoladamente. Práticas de consumo referem-se a ações rotineiras, as quais são “orquestradas por ferramentas, know-how, imagens, espaço físico e um sujeito que realiza a prática” (Korkman, 2006, p. 27). A abordagem da prática coloca seu foco no processo, isto é, no modo como as coisas são feitas, como se constituem, nos recursos utilizados e como esse fazer se desenvolveu ao longo do tempo (Rindell, Korkman, & Gummerus, 2011), enfatizando a experiência e identidades (Hargreaves, 2011). No contexto pós-moderno, a forma tradicional de consumo racional deu lugar a uma forma mais diversificada e pluralística de padrões de consumo, em que os indivíduos buscam, de certa forma, distinguirem-se dos outros, o que resulta “em uma multiplicidade de identidades e exibições de diferenças em virtude do conjunto altamente diferenciado de produtos de consumo” (Knights & Morgan, 1993, p. 226). Essa multiplicidade de valores de uso potencializa a combinação de várias identificações para criar um senso de identidade para os consumidores.

A identidade do sujeito influencia o estilo de vida, já que este está relacionado a um conjunto de gostos e preferências que o sujeito expressa de forma simbólica, por meio de vestimentas e linguagem corporal nos diversos meios no qual ele está presente (Bourdieu, 1983). O fanatismo por algo pode atuar no estilo de vida e escolhas de consumo do sujeito, nesse sentido, e acordo com Seregina e Schouten (2016), os sujeitos recorrem ao grupo de fãs de determinado produto cultural, os chamados fandoms , para obter status e pertencimento. Ainda de acordo com os autores, ao fazerem parte do fandom , os indivíduos se tornam capazes de aprender a habilidade de identificar e acumular capital cultural relevante, transcendendo o grupo e acumulando formas gerais de capital cultural. Sobre essa relação entre estilo de vida, fanatismo e identidade, os jovens, movidos pela paixão por ídolos, podem utilizar imagens fílmicas para aprender novos modos de agir e se vestir, reproduzindo o que é exibido nas obras culturais. Dessa forma, o cinema pode ser considerado por grupos de jovens como meio de extração e sinalização de suas identidades (Kozlakowski, 2003). Ao estudarem o consumo de sujeitos pertencentes à tribo dos potterheads , que são os fãs de Harry Potter, Leão e Costa (2018) apontam que eles mantêm o vínculo com a saga de livros e filmes a partir das escolhas de produtos e serviços, bem como a produção de conteúdo sobre esse universo fantástico. Segundo os autores, a proximidade com a franquia auxilia na transição para a vida adulta, gerando segurança para os sujeitos, além de garantir “a manutenção de uma identidade constituída por meio de seu consumo ao longo dos anos” (Leão, & Costa, 2018, p. 83), reafirmando que o consumo atua na construção da identidade. Grupos como os dos potterheads podem ser entendidos como tribos urbanas. Maffesoli (2005, p. 190) considera que as tribos urbanas e contemporâneas são formadas por redes de pessoas que compartilham interesses e objetivos em comum, criando uma sociedade específica “impossível de ser compreendida com nossos clássicos e demasiadamente racionais instrumentos de análise”. Ainda segundo o autor, os sujeitos pertencentes a determinada tribo, compartilham valores, tendo como base uma espécie de espírito religioso. Hunt (2016) explica que o surgimento de tribos urbanas contemporâneas decorre de três aspectos, principalmente: a quebra de identidades estáveis; a consciência de identidade e afiliação são escolhidas, e não dadas ou impostas; e o desenvolvimento de narrativas como base da identidade. Segundo o esse autor, quando uma narrativa específica não se sustenta em uma sociedade, as pessoas buscam alternativas, afiliando-se a grupos que fizeram a mesma escolha. Os membros pertencentes a uma tribo seguem um determinado padrão estético e consomem produtos similares para que possam se diferenciar dos demais sujeitos que não fazem

consumo cultural é um elemento central, torna-se relevante considerar um diálogo entre os campos de conhecimento sobre organizações e consumo. 4 Procedimentos Metodológicos Nesta pesquisa, adotamos a abordagem qualitativa, sendo o material empírico composto por entrevistas, por se tratar de uma técnica que permite a construção colaborativa de significados, a partir de conversas culturais disponíveis para o exame crítico (Moisander et al., 2009). Foram realizadas 16 entrevistas com consumidores(as) brasileiros(as) que se identificam como geek s, as quais foram suficientes para gerar informações de modo a oferecer uma compreensão mais detalhada sobre o fenômeno aqui estudado em um contexto específico, sem o propósito de obter generalizações (Casotti & Suarez, 2016). Inicialmente, a construção do corpus foi feita por meio da busca nas redes sociais Facebook e WhatsApp, considerando o engajamento virtual dos(a) potenciais entrevistados(as), observando-se postagens nos grupos, e comentários em postagens, além daquelas encontradas no perfil pessoal de um dos pesquisadores, no Facebook. Foram utilizados os grupos do Facebook: ‘Eu vou! Comic Con Experience – Brasil’ (26.512 participantes) e ‘Multverso Geek ’ (18.307 participantes); e o grupo do WhatsApp ‘Vida Nerd UFU’ (74 participantes). Após isso, adotou-se o método ‘bola de neve’, de forma que os(as) primeiros(as) entrevistados(as) indicaram pessoas com o perfil da pesquisa. Como critérios para participação, estabelecemos a idade de 18 anos, pessoas que se consideram geek s e consomem produtos relacionados a essa tribo urbana. Para as entrevistas semiestruturadas utilizamos um tópico-guia, que é “parte vital do processo de pesquisa, dando o apoio necessário para delinear os fins e objetivos da pesquisa” (Gaskell, 2002, p. 66), o qual foi desenvolvido com base no objetivo da pesquisa e na revisão da literatura. As entrevistas foram realizadas nos meses de outubro e novembro de 2018, tendo sido gravadas digitalmente, com duração média de 35 minutos. A gravação foi feita mediante a autorização dos(as) respondentes, tendo as entrevistas sido posteriormente transcritas, gerando um relatório com 12.293 palavras, que possibilitou a análise e interpretação do corpus. A análise temática, que permite examinar os modos pelos quais eventos, realidades, significados e experiências são os efeitos dos discursos que operam na sociedade (Braun, & Clarke, 2006) foi utilizada para examinar as perspectivas de diferentes participantes da pesquisa, tendo sido possível destacar semelhanças e diferenças o que levou a insights imprevistos (Braun; Clarke, 2006). A aplicação da análise temática permitiu resumir os

principais recursos do corpus, o que auxiliou na produção de um relatório final claro e organizado (King, 2004). A análise temática seguiu as 6 orientações de Braun e Clarke (2006): inicialmente, (1) buscou-se a familiarização dos pesquisadores com os dados, lendo e relendo as transcrições e destacando ideias iniciais que pudessem responder à questão de pesquisa, por exemplo, aquelas relacionadas com a constituição da identidade; em seguida, (2) os códigos iniciais foram gerados pela codificação das características interessantes dos dados, o que resultou em 12 códigos; e, assim, (3) buscaram-se temas, isto é, agruparam-se os códigos em três temas: ‘o geek ’, ‘consumo geek ’, e ‘ser geek ’; (4) os temas foram revisados, em um intenso ir e vir ao material empírico, à revisão da literatura e ao objetivo da pesquisa; e (5) os temas foram nomeados a partir de uma análise cujo objetivo foi refinar as especificidades de cada tema de modo a gerar definições das temáticas encontradas. Por fim, realizou-se a elaboração do relatório da análise como exposto a seguir. 5 Geeks: um território simbólico de identidades coletivas Nesta seção, trazemos a ideia de que os Geeks formam um território simbólico, não para desconsiderar as dimensões conceituais de território, mas, sim, como uma metáfora que permite compreender a noção de território de identidades coletivas, um território não marcado por fronteiras físicas, mas que diz respeito à construção identitária. No caso de tribos urbanas, essa ideia é promissora visto que essas formam territórios diferenciados, os quais são delimitados pela presença corporal dos membros da tribo ou por representações simbólicas (Alves Mesquita & Santos Maia, 2007), podendo ser virtuais ou físicos. Iniciamos por apresentar os resultados da pesquisa, cujo corpus consiste em entrevistas realizadas com 16 indivíduos que se consideram geeks. Dentre esses, a maior parte é composta por pessoas que se consideram pertencentes ao gênero masculino, sendo 4 mulheres e 12 homens, embora tenha sido feito um esforço, por parte dos pesquisadores, para entrevistar mulheres geeks. No entanto, as tentativas realizadas para isso não foram bem-sucedidas. Os nomes dos(as) entrevistados(as) foram mantidos em anonimato, utilizando-se nomes de heróis ou heroínas para sua identificação no artigo. Em relação à escolaridade dos(as) entrevistados (as), 10(dez) concluíram o ensino superior e 6(seis) estão cursando o ensino superior. Apenas o entrevistado Thor alegou não trabalhar, à época da entrevista. A maioria (10) dos(as) entrevistados(as) são solteiros, 2 estavam em um relacionamento e 4 são casados. Nenhum(a) dos(as) entrevistados(a) têm filhos.

e ficção científica, mais especificamente, super-heróis e heroínas, e também por aparatos tecnológicos (Fernandes & Rios, 2011; Sugarbaker, 1998; Santos, 2014; Galvão, 2009; Oliveira, 2016; Simon, Bahl, & Dropa, 2016). Não foram observadas regras rígidas quanto às características que levam os participantes a se reconhecerem como Geeks, ou melhor, não percebemos uma identidade organizacional integradora (Carrieri, Paula, & Davel, 2008) que possa ser, de alguma forma, gerenciável. Para os participantes da pesquisa, o termo está relacionado a um estilo de vida que é baseado em seus gostos pessoais, que, por sua vez, se caracteriza pela imaginação e pela paixão. Os participantes reconhecem ter uma relação emocional e a paixão por elementos culturais de universos de fantasia e ficção científica, uma mistura característica do contexto pós-moderno (Knights & Morgan, 1993) e a diferenciação em relação aos outros consumidores desse tipo de mídia, visto que os pertencentes à tribo consideram gostar mais de determinados produtos culturais do que as demais pessoas. Os entrevistados se reconhecem na descrição do geek como um sujeito que possui um engajamento por determinado tópico, uma concentração em objetos, e não conformidade, ressaltando elementos da cultura, como personagens de livros e filmes, e tecnologia (Sugarbaker, 1998), Geek representa a junção de tudo aquilo que você gosta na cultura pop... heróis, livros, filmes, música, personagens. Elementos que caracterizam podem ser coleções, cosplays, comic-cons e encontros de fãs. (Pantera Negra) Acredito que ser geek é gostar muito do que está presente na cultura pop e de tecnologia. É gostar de filmes, quadrinhos, séries, inclusive, maratonar séries, jogos online e de tabuleiro. Acredito que ser geek é gostar mais dessas coisas do que as outras pessoas e se sentir parte desse grupo te auxilia a conseguir achar mais facilmente pessoas que também gostam dessas coisas para poder conversar, jogar junto e etc. (Capitã Marvel) O período da infância foi citado como o momento em que o interesse por universos fantásticos e o consumo de produtos referentes a estes começaram a aflorar, de forma que os participantes seguiram consumindo artigos relacionados aos personagens que gostam até o momento da entrevista. O reconhecimento de identidade a partir do pertencimento ao grupo geek acontece com o passar dos anos da vida do indivíduo (Hall, 2011). Esse consumo e busca por mais produtos dentro desse universo fazem com que o geek se considere como parte de uma comunidade, a qual atuará na formação da sua identidade (Bauman, 2005). Leão e Costa (2018) concluíram em seu estudo sobre a tribo dos potterheads que o consumo de produtos da cultura pop por fãs auxilia na transição do sujeito para a vida adulta, garantindo a manutenção da identidade e gerando segurança para si, o que também está expresso no depoimento de Hulk:

Minha mãe fala que eu sou Geek desde quando estava na barriga dela. Sempre fui muito apaixonado por tudo, produtos geek s de maneira geral passei a usar mais depois que eu comecei a ter um salário com bolsa de universidades. Antes eu não tinha muita condição de ter produtos colecionáveis, quando tinha, era tipo adesivos, essas coisas você acha que compra na feira. De maneira geral, sempre fui apaixonado, ficava nas locadoras vendo as capas dos filmes, alugando filmes de maneira geral. Essa era a minha forma de expressar o lado geek. (Hulk) Apesar de os entrevistados acreditarem que os indivíduos que se consideram geek s não sigam as tendências da moda, em relação a um padrão estético a ser seguido, a utilização de elementos que façam referências a universos de ficção científica e fantasia criados na vestimenta do sujeito, principalmente na utilização de camisetas estampadas, foi o ponto em comum entre os entrevistados, podendo ser encontrado um padrão de vestimenta e um estilo a ser seguido. Esse aspecto reforça a ideia de pertencimento a uma tribo urbana, possuindo assim um padrão estético em comum que diferencia os geek s dos demais sujeitos dentro de uma sociedade (CasottI et al., 2013), tendo características específicas em relação ao estilo visual destes (Serrão & Santana, 2013). Os participantes consideram que pertencer à tribo geek possui benefícios, os quais giram em torno do reconhecimento social como um indivíduo inteligente e fazer parte de uma tribo de consumo que utiliza produtos que estimulem formas de lazer benéficas ao ser humano, gerando conhecimento e boas relações com os demais. Os benefícios citados pelos entrevistados relacionam-se com os valores propagados pelos pertencentes à tribo geek , que fazem parte do conjunto de elementos que caracterizam esses sujeitos (Maffesoli, 2006). O geek é caracterizado como um sujeito inteligente, porém infantilizado, característica que é atribuída principalmente pela família, o que acontece devido aos seus interesses culturais por elementos da cultura relacionados a universos de fantasia e ficção científica, como filmes, quadrinhos, séries, livros e games, que trazem consigo desde a fase infantil, como o gosto por revistas em quadrinhos, games e desenhos animados. Significados, contradições e paradoxos Os participantes da pesquisa utilizam os produtos geek s, no entanto, as respostas remetem diferentes significações. Por exemplo, encontramos aqueles que utilizam tais produtos, em qualquer lugar, sem problema algum; mas também encontramos aqueles que têm receio em utilizar os produtos geeks em determinados ambientes e sofrerem algum tipo de

A tribo geek possui problemas, como, por exemplo, o preconceito entre os pertencentes a esse grupo. Os entrevistados trouxeram à tona o machismo existente, problema geralmente presente em ambientes em que estereótipos de gênero são disseminados: Benefícios... eu como mulher, não vejo muitos benefícios de ser considerada geek , quase nenhum. Qualquer homem que te vê como geek vai fazer 1001 perguntas para saber se você é mesmo. Nós mulheres somos meio que desacreditadas nesse meio e isso gera várias frustações, sabe, a gente sempre tem que ficar se provando, é cansativo. Essa é a parte negativa. A gente ser desacreditada nesse meio e não ter tanta representatividade, é um meio ainda muito machista. (Gamora) Uma das contradições encontradas nos depoimentos se refere aos estereótipos socialmente atribuídos aos pertencentes da tribo. Mesmo sendo considerados como um indivíduo com inteligência acima da média, há um estigma presente na sociedade em relação ao geek. Os entrevistados relataram que já sofreu algum tipo de preconceito, principalmente em ambiente familiar, e muitos acreditam que os produtos Geeks são produzidos apenas para o consumidor durante a infância. Apesar disso, os indivíduos alegaram que essas situações não geraram uma mudança na atitude ou consumo desse tipo de produto, ao longo de sua transição para a vida adulta. Apesar dos problemas relatados, os participantes expressaram ter orgulho de pertencer à tribo, já que isso proporciona o desenvolvimento de amizades e compartilhamento de ideias e gostos em comum. Além disso, o grupo representa uma forma de estar em um local em que o indivíduo pode se expressar sem ser considerado fora do padrão dentro de uma perspectiva do que é socialmente aceitável e considerado normal. Essa relação auxilia no sentimento de pertencimento do sujeito, que compartilha interesses e opiniões em comum, além da criação de rituais de consumo, fazendo com ele se considere importante dentro do meio social em que vive (Maffesoli, 2006; Moraes & Abreu, 2017). A análise das entrevistas aponta que as identidades dos geek s são construídas e reconstruídas ao longo das suas experiências de vida, e as práticas de consumo, como a preferência por objetos reconhecidos como geeks e o interesse em ser reconhecido como tal, atuam nas relações de compra e consumo dos entrevistados. Os entrevistados sentem orgulho de serem geeks e, ainda que sintam os reflexos dos estereótipos a eles socialmente atribuídos, preferem estar conformados a um padrão social. O que os Geeks consomem

Os participantes manifestaram que estabelecem relações afetivas com outros sujeitos da tribo, inclusive, existem trocas entre eles, o que parece influenciar na aquisição e consumo de produtos Geeks. Alguns respondentes acreditam que estar próximo de pessoas com interesses em comum faz com que o indivíduo conheça mais produtos e tenha maior proximidade com os mesmos, fazendo com que o desejo de consumo seja desenvolvido. Outros já acreditam que o desejo de consumir se desenvolve a partir do amor pelos personagens e a vontade de possuir um estilo próprio, de acordo com seus gostos. Em relação ao primeiro grupo, é possível observar que o pertencimento a uma tribo faz com que ele se espelhe em outros membros, de maneira que a identidade do indivíduo é construída e reforçada a partir do contato com a forma de agir, pensar e consumir de outros geek s considerados importantes pelo sujeito, numa clara alusão à relação entre comunidades, pertencimento e identidade, apresentada por Bauman (2005). Já sobre o segundo grupo, o consumo é dado principalmente pelo fanatismo em relação a determinado produto cultural específico, de forma que o sujeito busca por produtos que satisfaçam sua relação com a obra pela qual possui interesse, apresentando a necessidade de externalizar seus gostos, mesmo que seja em um ambiente privado. Esse consumo pode representar um reforço da identidade construída, visto que, ao comprar o item, mesmo que não apresente a outros sujeitos, o geek reforça a importância daquela obra em sua vida, bem como os valores por ela apresentados (Moraes & Abreu 2017). A relação de amor por personagens tem uma relação positiva com o consumo, já que os indivíduos dessa tribo com um contexto socio-afeitvo alternativo (Oliveira, Camilo & Assunção, 2003) querem externalizar a importância desses para os demais indivíduos. Além disso, é importante comprar produtos de personagens que gostam como uma forma de sentir que o personagem faz parte da sua vida. O consumo é um importante elemento na construção da identidade do sujeito (Knights & Morgan, 1993), já que são atribuídos significados aos produtos consumidos a partir das interações sociais (Douglas & Isherwood, 2004) e pelas emoções e paixões (Alon & Brunel, 2007). Gamora expõe sua identificação com o consumo geek : Eu me identifico com ele. Eu trazendo ele para minha vida, através de comprar uma bota, uma pelúcia, uma camiseta, eu me sinto perto dele, eu me sinto representada por ele (Gamora) O consumo desses produtos são uma fonte de significado cultural (Mccracken, 2003), dada a importância dos personagens na vida dos indivíduos. Os entrevistados relataram que eles